“Hoje
tem marmelada?
-Tem,
sim senhor...
Hoje
tem palhaçada?
-Tem,
sim senhor...”
Ouvir
esta musica, me fazia ser a menina mais feliz do mundo, era o carro com alto - falante anunciando que havia chegado circo na cidade... eu contava as horas,
esperando ansiosa o momento de ir com meus pais e minha irmã ver as novidades
que o circo estava prometendo. Céus como eu me divertia, era tudo tão lindo e
encantador...
O
tempo foi passando e a cada circo que se apresentava na cidade, trazia consigo
novidades e espetáculos incríveis, além de malabaristas, atiradores de faca,
palhaços divertidos, alguns tinham domadores de leões, pôneis, macacos que
dançavam, um sonho!
Eu, apaixonada por animais, no início achava tudo maravilhoso, imagine poder ver no
picadeiro macacos, como a Chita do Tarzan (sempre sonhei ter um macaco assim
pra mim), poder ver de pertinho leões ou acariciar a crina de um pônei!
Isso
tudo, enchia meus olhos de amor e admiração, por esses animais e as pessoas
do circo!
Mas
mesmo pequena, comecei a perceber que tinha algo de estranho no ar... na hora
do espetáculo tudo era mágico e perfeito, as pessoas do circo sorridentes e
pareciam que amavam imensamente seus animais (que inveja eu sentia delas, poder
ver, tocar, acariciar e cuidar desses bichos, todos os dias) tudo era colorido, animais com enfeites de
cores vibrantes e brilhantes, aplausos ,enfim, a mais pura felicidade!
Mas
quando eu ia com meus colegas, depois do colégio, no terreno que acampavam, via
que não era bem assim, os animais me pareciam tristes, famintos, seus
tratadores impacientes. O leão na jaula era magro, seu olhar era distante, vazio e bem eu vi quando ele urrou
que não tinha dentes. Os macacos nessas
horas a gente nunca via, porque eles diziam que eles estavam dormindo dentro
dos trailers.
E
esta impressão que tive lá pelos seis anos, me fazia ver aos poucos, que no
fundo tudo ali era mesmo palhaçada e
marmelada e só reforçou com o passar dos anos...
Lembro
bem que, aos 12 anos mais ou menos, veio um circo com um leão tão velho, magro
e doente, quando fui ver ele de perto, saí de lá chorando, o cheiro que
vinha dele era insuportável, pior é que ele nem era mais “usado” nos
espetáculos, servia só de chamariz pra juntar publico, achando que iam ver ele
com o domador. Anunciaram isso ate o ultimo dia do espetáculo, mas ele não se
apresentou.
Hoje
lembrando, tenho certeza que ele não se apresentava mais, porque provavelmente
nem conseguiria andar direito, deveria estar atrofiado de tanto viver ano após ano
preso naquela jaula minúscula... e o pior, meus colegas me contaram, que os
caras do circo prometeram, que quem levasse comida viva pro leão entrariam de
graça e dias depois ouvindo o papo dos garotos no colégio, fiquei sabendo que alguns levaram escondido de seus pais, gatinhos,
galinhas e até porquinho... eu na época não soube o que fazer, na verdade acho
que era só eu sofria por isso, para os outros era um leão no circo, nada alem
disso, pra mim era um gatinho gigante sofrendo, morrendo da forma mais cruel, dia após dia, numa tortura física e mental intermináveis!
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