Total de visualizações de página

quarta-feira, 16 de maio de 2012

MIMÃO e a cama de gatos (Parte Final)


Chuva e sol... foi nesta ordem que nasceram os filhotinhos de Preta, Griza e Mimão!
Em uma manhã chuvosa, acordei e somente Griza (com um barrigão enorme) e Mimão estavam perto da porta de casa, fui correndo até o paiol e vi eufórica, que Preta tinha ganhado durante a noite muitos gatinhos. Cheguei de mansinho pra não assustar... céus, que pequenos e lindinhos, uns mamavam e outros dormiam. Ela, quando passei a mão em sua cabeça, fechou os olhinhos e deu uma miada fraquinha. Comecei a contar um, dois... seis gatinhos ao todo, nem acreditava, isso sim dava pra chamar de ninhada!
Peguei com cuidado um no colo, eram miudinho e ainda tinha o umbiguinho, começou a miar parecendo um chorinho, o devolvi logo pra Preta que já me olhou preocupada.
Os bebes de Griza, nasceram dois dias depois, em uma linda manhã de sol, quando percebi que ela não estava lá fora, corri no paiol e na caixa do ladinho de Preta, tava Griza com sua ninhada... qual não foi minha surpresa ao contar seis gatinhos também, eu e minha mãe quase enfartamos, eu de felicidade, ela de susto, quando cheguei na cozinha gritando feliz que Griza também tinha seis filhotes, imagine, até um tempo atrás não tínhamos nenhum, aí veio um, três e agora eram quinze gatos ao todo...
Nem preciso contar que eu “acordava- gatos”, almoçava- gatos”, dormia- gatos”... esse era meu assunto e o tempo que não estava na escola, era com eles que eu ficava!
Minha mãe reclamava com meu pai: “Ângelo faça alguma coisa, ela não faz mais nada, não larga daqueles gatos, vai acabar até “pestiando” os coitados de tanto segurar no colo...” eita, que mito mais estranho, imagina se meu amor e carinho iriam fazer mal aos meus anjinhos!
Tem coisa mais fofa que gatinhos crescendo felizes? Eu me perdia nas horas, vendo eles brincarem, correndo atrás uns dos outros, pendurados em minhas roupas, no meu colo, que dias mais felizes aqueles!
Mas mal sabia eu que meus dias de alegria estariam no fim...
Eis que certo dia eu fiquei doentinha, com febre, dor de cabeça e pra minha alegria ouvi minha mãe dizer: “Filha, é melhor você nem ir à escola hoje”!
No meio da tarde, eu morta de vontade de brincar com minha família felina, mas minha mãe não deixava,  dizia ela: “Não vai lá fora nesse sol, você ta doente, fica brincando com tuas bonecas na cama”.
Ô tristeza!
Passou uma meia hora, disse minha mãe: “Mônica, fica bem querida aí com tuas bonecas que a mãe já vem,  vou na vizinha e não demoro”!
Assim que ela saiu, eu abri a porta correndo e fui ver minhas “gataiadas”, mas lá fora no sol, minha cabeça doía muito, então tive a infeliz idéia de levar os quinze gatos pra minha cama, mesmo sabendo que na época, isso era expressamente proibido em minha casa.
Eles amaram se esparramar na minha cama, brincavam, pulavam pareciam uns cabritinhos, Mimão se aconchegou no meu travesseiro e dormiu, aos poucos os filhotes foram se acalmando e se aninhando cada um com sua mãezinha e dormiram grudadinhos nas tetinhas delas, eu me ajeitei no meio deles e deitei pra admira-los e pro meu azar e desgraça dos coitadinhos ...adormeci...
Acordei com minha mãe gritando e o chinelo "cantando" na bunda de todo mundo, céus, era só gato voando pra todos os lados tentando fugir, minha mãe estava muito brava, em três pulos eu tava lá fora e só depois que me certifiquei que todos os quinze estavam bem, sentei na escada e chorei!
Lá dentro ouvia minha mãe dizer que ia achar um lugar praqueles gatos, que não queria mais eles lá em casa de jeito nenhum... desesperada percebi que desta vez a coisa era séria mesmo, eu sentia que nada do que fizesse mudaria a idéia dela!
Quando meu pai chegou, ela deu o ultimato: “Amanhã pode levar as gatas e os filhotes embora, porque aqui eu não quero mais! Troquei as roupas de cama hoje e a Mônica me enfia todos nas cobertas, quando cheguei no quarto, ela dormia até com rabo de gato na cara, essa foi a gota d’água...”
A noite fiquei rezando pra ela mudar de idéia e mal dormi.
Quando o dia amanheceu, levantei sem forças tamanha tristeza e minha mãe mais calma me falou: “Mônica, eu sei o quanto você gosta desses gatos, mas é muito pra gente ficar, à tarde teu pai vai levar as gatas e os filhotes num sítio. Aqui vai ficar só o Mimão e um filhote que você escolher, mas tem que ser macho”!
Escutei quieta, chorando baixinho, sabia que seria impossível mudar a situação.
Sentindo-me culpada e a pior pessoa do mundo fui lá fora com meus gatos... e qual escolher se eu queria todos? E Preta e Griza, o que seria delas sem mim e de mim sem elas?
Não me conformava, porque às vezes na vida as pessoas obrigam a gente, a dilacerar nosso próprio coração?
Olhei pra aqueles anjinhos, tão fofinhos e tão meus, qual? Chorando muito escolhi um parecido com a Griza, não era o mais lindo (se é que isso era possível de se dizer, pois todos eram muito lindos) mas era o mais chorão, sempre miando, querendo colo, era muito carente e imaginei que seria aquele que mais sentiria minha falta...
À tarde meu pai veio, disse pra eu não chorar que eles iriam ser felizes no sítio, pois iam ter mais espaço pra correr e brincar, mas não me olhou nos meus olhos, acho que foi por medo de voltar atrás na decisão.
Colocou elas e os filhotes num saco, pos no carro e levou embora, não sei quantas horas chorei com o filhote (que batizei de Tigrinho) no colo e Mimão deitado nos pés.
Uma semana depois, Griza estava de volta, mais magra e com apenas quatro filhotes (um tinha ficado comigo e um não tenho ideia onde estava), meu pai logo chegou, só me deixaram dar leite pra eles e meu pai levou de volta no sitio e nunca mais vi nenhum deles.
Aos poucos fui obrigada a me acostumar com a ausência deles e a cada dia amava mais intensamente Mimão e Tigrinho.
Uma tarde cheguei da escola, chamei Mimão e ele não apareceu, estranhei, pedi pra mãe, ela disse que não tinha visto ele. Anoiteceu e nada de Mimão aparecer... meu coração começou a ficar desesperado, ele nunca sumia tanto tempo. A noite meu pai chegou, pedi pra ir comigo procura- lo, já era escuro, chamamos e nada... fui dormir chorando.
Acordei cedinho e fui dar umas voltas pra ver se encontrava meu amadinho, pra minha tristeza encontro Mimão, na rua abaixo da minha casa, perto de um milharal, morto, completamente duro, gritei e chorei tanto que parecia que eu nunca mais ia ter lagrimas. A noite quando meu paizinho chegou, encontrou uma menina pálida e desfigurada esperando por ele, sei que ele sofria de me ver assim, mas era tanta dor que eu não conseguia me controlar.
Fomos os dois buscar Mimão e juntos enterramos ele no canto do nosso lote, meu pai estava muito triste também e chorou comigo.
“Só pode ser veneno” disse ele!
Foram semanas, pra eu não mais acordar desesperada ao lembrar dele, amava muito meu querido Mimão, ceguinho de um olho e com o rabinho quebrado!
Agora só me restava Tigrinho, que tava cada dia mais lindo e sapeca, era tão mansinho que quando eu brincava de boneca ele me deixava colocar roupinhas nele também.
O tempo foi passando e quando eu estava com uns treze anos, chegando em casa, ouvi Tigrinho miando muito alto, chamei a mãe que veio triste me dizer que ele estava dentro de um tubo e provavelmente era veneno... céus, porque era sempre assim?
Desejei do fundo do meu coração que todas as pessoas do mundo que vendiam e compravam veneno morressem sentindo a mesma dor que sente um animal ao ser envenenado.
Fui lá chamar ele e quando ouviu minha voz seus gritos aumentaram, espiei dentro do tubo, ele tentava levantar, queria vir até mim mas não conseguia, gritei e chorei de tristeza, de ódio, de pena dele.
Minha mãe ficou vendo aquilo, com uma tristeza nos olhos que eu nunca tinha visto, foi na vizinha pedir pro irmão de minhas amigas gêmeas vir lá tentar dar leite pra ele (diziam os antigos que leite era bom pra gato envenenado), já que mandar terminar de matar eu nunca admitiria, ainda tinha esperanças que ele não morresse, pior que na época não tinha veterinário nas localidades próximas, ao menos que a gente soubesse.
Quando ele chegou, saí correndo, não conseguia ficar lá pra ver ele tentar dar leitinho pro coitadinho. Assim que foi embora, meu Tigrinho estava de volta no tubo, seu olhar era só desespero e dor, estava todo molhado de leite... sentei no tubo chorando e tentando entender porque meu amor, que era tão grande, puro e intenso não poderia cura- lo, fazer parar a dor?
Seus miados foram ficando fraquinhos e depois de muito tempo ele morreu.
Fiquei horas ainda lá chorando e relembrando minha historia com eles, desde a chegada do Mimão, como encontrei Preta e Griza, minha felicidade quando nasceram os filhotes, eles brincando, o triste episódio da cama de gatos, a morte de Mimão e agora a de Tigrinho.
Vi diante de meus olhos um ciclo se fechar: VIDA e MORTE.
Infelizmente, daquela bela família felina, não me restara mais nenhum.
Quando levantei de lá meu corpo estava tão doído e cansado, era como se eu tivesse envelhecido décadas. Dei uma ultima olhada no meu amado Tigrinho, morto dentro do tubo, precisava esperar meu pai para enterrarmos o coitadinho ao lado de Mimão.
Apesar da imensa dor que sentia, agradeci por ele e todos que estiveram comigo, pelos maravilhosos momentos felizes que passamos juntos.  
Mimão e a cama de gatos ... uma história linda e triste que ficará gravada eternamente em minha alma!

2 comentários:

  1. Aff, que triste... chorei horrores agora... perder amigos não eh facil, ainda mais qdo sabemos que o mundo do nosso amigo, somos nós. Eu amo meus filhos e sei o porto seguro q represento pra eles. beijos...

    www.gatocomkati.blogspot.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Kati... relembrar esta historia tbem me fez chorar horrores... eles eram muito especiais pra mim...Eita saudadona da minha família felina ♥ bjo *---*

      Excluir