A vida da Dona Penélope, era cada vez mais intensa
e repleta de aventuras... se ela pudesse falar, aposto que quando perguntassem
o que mais gostava de fazer, responderia: “Eu gosto de viver perigosamente...”
Mas esta vida de boêmia, estava nos dando muita dor
de cabeça...
Ela sempre foi valente, corajosa, uma verdadeira
guerreira, eu sempre admirei muito isso nela (até hoje não se deu conta do seu
tamanho) mas comecei a ficar imensamente preocupada, com a maneira que a bonita
se achava indestrutível... deu para enfrentar carros e motos, com o passar dos
dias, se achou machona o suficiente pra encarar de frente até caminhões... céus,
quantas ameaças de infarto tive ao presenciar estas cenas absurdas que ela
fazia... nem sei dizer as vezes que nascemos de novo, ela por sair ilesa debaixo
dos carros e eu por ver que meu coração, tinha suportado mais aquele susto.
Na época eu não tinha canil e na corrente ela dava
um jeito de se soltar e fugir, já não sabia mais o que fazer... não aparecia
uma alma boa para adota- la e dentro de casa minha mãe não deixava eu levar (na
época morava com minha mãe e já tinha o CROCK que roía todos os móveis dela).
Com seu gênio de teimosa e mandona do jeito que era
(e ainda é), não fazia amizade com outros cães, atropelava qualquer animal que
passasse perto de nossa casa. Ruava tanto, que tempos depois fiquei sabendo de uma mulher que alimentou ela algumas vezes,
achando que era abandonada... eita!
Apesar de Pepê não ser muito simpática, fez uma
amizade inusitada... ficou amicíssima do PINTADO, um cavalo maravilhoso, branco
com umas manchas pretas que parecem pinceladas de tinta, que meu vizinho tem.
Era sagrado todos os dias ela ir ver ele... imaginem numa cena linda: Ela
chegava correndo e latindo, ele mesmo longe no potreiro respondia relinchando,
vinha a galope encontrar sua amiguinha e juntos brincavam um tempão de pega-
pega... fizemos até uma filmagem caseira deles juntos ... é emocionante assistir!
Mas nem sempre suas peraltices eram tão fofinhas assim...
eu não descobri até hoje da onde a “sem- capricho” desenterrava carcaças
enormes de peixes e trazia pra casa e o pior... comia... céus, não sou nojenta,
mas ter que tirar aquilo dela (que ficava furiosa e me arreganhava até os
dentes do siso), fazia quase com que eu
me destripasse chamando o hugo... credo...
que cheiro horrível de carniça... ela,
depois de muito correr atrás, ia direto pro banho... imaginem que isso
acontecia na média de duas vezes por semana e sempre sobrava pra mim... me dava
até “um- ruim” quando ouvia alguém gritar... “Mônica vai lá fora que a Penélope
tá com carniça de peixe de novo...”
Neste período apareceu em baixo do focinho dela uma
verruguinha, mas em questão de dias ficou enorme... eu estava esperando o final
do mês pra receber e levar ela num veterinário pra retirar, mas nem precisou, porque
numa de suas fugidas, voltou pra casa sem a dita cuja... sabe lá onde foi parar
a coitada da verrugona que deve ter sido extraviada até com a raiz... porque
pra meu alívio e sua beleza (parecia uma bruxa com ela) nunca mais nasceu.
Foram muitos meses assim, eu não tinha sossego pra
dormir, nunca sabia se encontraria ela viva pela manhã. Pra eu e a Nicole irmos ao colégio, era preciso que minha mãe ficasse cuidando para ela não vir atrás e esse ritual era três vezes por dia (na época eu trabalhava os três períodos
na escola).
Mas para minha alegria e sorte da Penélope, ela
perdeu o medo da minha mãe e começou a seguir ela também... poderia até não ir
junto (ainda tinha um pouco de respeito pela D. Muri), mas depois de um tempo
que minha mãe tinha chegado no mercado, banco ou loja... lá aparecia ela toda
faceira, pois seu faro não tinha errada, tinha encontrado a minha mãe... e eu
que escutava... “Mônica, ache casa logo pra essa cachorra que não quero saber
dela me seguindo por aí... entra em tudo que é lugar atrás de mim... farejando
dentro dos mercados, era só o que me faltava...”
Demorou, mas finalmente (e quase infelizmente, pois
ela podia ter morrido) um fato aconteceu e mudou o destino da vida da Penélope.
Eu tinha convidado a minha mãe pra ir comigo
comprar ração pra eles numa agropecuária, quando saímos nos certificamos que ela
não estava seguindo a gente e fomos distraídas conversando... quando chegamos
perto da agropecuária que fica em uma rua muito movimentada, ouvi a moça de uma loja gritar... ”Que linda! É de vocês?”... quando olhamos para trás, lá estava a
Penélope toda fingida, no meio do asfalto, nos seguindo, nesse momento veio três carros, dois
descendo e um subindo... eu gritei e fechei os olhos... tinha medo de olhar
pois sabia que desta vez ela seria esmagada pelos carros... para meu alívio
minha mãe gritou: “Senhor, ela escapou dessa...” chorando, corri pega- la (não
sei como, porque minhas pernas tremiam muito), agarrei ela com tanta força que
quase a sufoquei... “Bruxinha, quer mesmo matar a mamãe de susto né?”
Até a minha mãe ficou pálida, um pouco pelo susto
do grito que dei e também por ver do que a Pepê tinha escapado...
Entramos pra comprar a ração, mas eu estava ainda
chorando e tão atordoada que juro, nem sabia mais o que eu tinha ido fazer lá...
Vindo embora (minha mãe carregando a ração e eu
agarrada na Pepê igual a carrapato), ouvi da minha mãe algo que nunca
imaginei... “Mônica, quando a gente chegar, dê um banho nesta cadela e deixe
dentro de casa, porque não quero ter que fazer dois enterros... o dela e o teu,
se ela for atropelada...”
Céus... meu coração parecia que ia explodir de
alegria, tinha vontade de abraçar e beijar como louca minha mãe, ali mesmo no meio
da rua, mas ela tava com uma cara tão feia que achei melhor só agradecer
baixinho...
Penélope finalmente ia ter um lar de verdade,
confortável, seguro e o melhor pertinho da gente... e do CROCK, que a partir
daquele dia passou a ser seu grande amor e o início de outra linda história, desta cadelinha amadamente geniosa... aguardem!
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