Total de visualizações de página

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

BRITA... abandonada onde o coração não é feito de pedra


Todas as vezes que sento pra escrever uma historia, relembro de cada detalhe tão nitidamente, que me sinto inundada de emoções, lembranças, alegrias, tristezas e isto tudo vem misturado na mais profunda saudade... confesso que dói reviver o passado, mas sei que escrevendo é a única forma, que tenho de guardar pra sempre em algum lugar , além da minha memória e coração, o que vivi, vivo com eles e por eles.
Mas desta vez minha historia é de certa forma diferente das outras, porque a protagonista é uma cadelinha que ainda não conheço direito, suas peculiaridades, personalidade... Ela chegou recentemente... portanto dela não teria muita coisa ainda para contar.
O que me fez escrever sobre esta querida foi à forma como chegou aqui!
Varias são as ocasiões, inúmeros os motivos que me procuram pra resgatar animais, mas hoje quero comparar duas situações.
A primeira, uma turma de rapazes que trabalham em um britador.
A segunda, uma mãe de família.
Nos dois casos o foco é animal abandonado.
Em qual das duas ocasiões estaria a preocupação e o amor?
Incrível como as aparências enganam...
Dias atrás, fui ate uma lanchonete com minha filha e quando estávamos indo embora, alguém no meio de um grupo de rapazes, sentados em uma mesa, me chamou. Chegando perto conheci dois deles, pois foram meus alunos.
Contou-me que ele e seus amigos trabalhavam em um britador e que ali perto foram abandonados vários cães, sete ao todo.
Estavam tentando achar casa, pois lá e um local perigoso principalmente pelo movimento de caminhões, mas não estava fácil porque ninguém queria adotar.
Expliquei que infelizmente minha casa- de- passagem estava lotada e que não poderia acolher mais nenhum.
Eles então me disseram o motivo que mais os preocupava: "O maior dos sete cães, o tio de um deles tinha ficado, outros cinco eram espertos e sabiam se cuidar dos caminhões, mas uma pequena tipo pinscher  estava completamente perdida e a cada caçamba que chegava, a coitadinha  se enfiava embaixo, por este motivo já estava com uma perninha machucada e com certeza não sobreviveria muito tempo por lá”.
Ouvindo tal pedido, não tive como recusar de cuidar dela, mesmo sabendo das dificuldades de acolher mais um, então pedi que me trouxessem a cadelinha.
No outro dia, um carro parou na frente da minha casa e desceu dois dos rapazes que conversei, o que estava com a cadelinha no colo, com o maior cuidado me entregou.
Vi quanto é linda, pequena, magrinha, pelagem pretinha e marrom cheirando a óleo de caminhão, rabinho pitoco, perninha machucada, olhinhos tristes... queridinha.
Pedi dos outros animais que ficaram lá e eles falaram que iam continuar tentando achar casa, mas que durante isso, dariam um jeito de ver comida e água pra eles.
Em contrapartida no outro dia me encontro com uma mulher, assim que me viu, já disse: “Oi, tenho uma cadela pra você”...
Sinceramente ODEIO ouvir isso... falam como se eu fosse colecionadora de animais e estivessem fazendo um favor me ajudando a completar a coleção... respirei fundo pra manter a calma e pedi: “Que cadela?”
Ela na maior cara dura, conta que sua filha foi na casa da avó e viu uma cachorra que apareceu lá abandonada e de tanto pedir, deixaram ela levar pra casa.
Passado uns dias o pai da menina comprou um filhote de raça e agora a menina não queria mais a outra cadelinha...
Respirei fundo novamente e falei: “Criança é assim mesmo, ainda não sabem cuidar direito e ter a responsabilidade total por um bichinho, quem tem que saber disso é a gente, mas conversa com ela, com jeitinho ela vai entender,  que pode ficar com os dois e amar igualmente!”
Expliquei a ela também que minha casa estava lotada.
A mulher percebendo então, que eu não ia ficar com a cadelinha, disse num tom menos simpático: ”Não adianta falar, ela não quer mais, vai fazer o que... pior é que a cachorra agora ta lá incomodando, mas já que você não quer vou ver o que vou fazer”.
Eu nessas horas, nem sabia mais o que era “respirar fundo” pra manter a calma e educadamente fiz meu discurso de protetora: “Cuidar pra quem dar, não abandonar novamente, não maltratar enquanto estiver lá...”
Quando acabei a conversa e vim embora, me sentia arrasada, triste, angustiada, com uma raiva gigante, de não poder dizer umas verdade bem desaforadas e gritadas na cara dela, mas sei que engrossar com as pessoas nesse tipo de situação, só as deixa mais irritadas ainda com o animalzinho envolvido...
Fiquei pensando no azar que certos bichinhos tem neste mundo cruel,  pela segunda vez sendo rejeitada, antes pelo infeliz que a abandonou e agora por perder o pouco carinho e atenção que teve e vim rezando pra São Francisco cuidasse dela por mim, colocar aonde na minha casa mais uma? 
Não tenho mais espaço físico nem condições financeiras pra tantos, as poucas doações que recebo não dá nem pra alimenta- los, quanto mais ver remédios, atendimentos, tosa, isso tudo pra quem ainda não sabe, somos nós que bancamos sozinhos, NADA é GRATUITO pois NÃO temos ajuda da prefeitura, associações, entidades ou algo parecido.
Infelizmente não posso resolver tudo, pegar e cuidar de todos os animais que aparecem abandonados todos os dias na minha cidade. Apesar  de ser pequena e ter em torno de 2600 habitantes, sou a única a fazer este trabalho voluntario com animais abandonados e minha casa é apenas um lar temporário, não um canil municipal, custava o pessoal colaborar?
Por isso que resolvi escrever sobre esta pequena, pois é surpreendente ver que o cuidado estava na parte menos esperada das situações, pois quantos não imaginaram que a preocupação estaria na mãe? Afinal por si só essa palavra já inspira amor e proteção!
Como pode existir tanta diferença no modo de pensar e no que fazer com o animalzinho abandonado que apareceu?... é triste ver atitudes completamente opostas em questão de valores.
Mas infelizmente esse é o perfil e o pensamento da maioria das famílias daqui...
O exemplo desses rapazes me causa um certo alivio na alma, quando vejo que não posso proteger todos os animais que precisam de ajuda.
Fiquei emocionada por saber que da turma, dois foram meus alunos, isso prova que décadas dando aula e falando de cuidar e proteger animais surtiu efeito, ao menos em alguns.
E principalmente, nesses momentos, agradeço por todas as horas que passei, em uma sala de aula ensinado sobre arte, amor e falando de vida...
Infelizmente nem todos os educadores pensam assim, quem sabe se algum professor daquela mãe,  tivesse lhe ensinado isso também, hoje ela pensaria diferente...
Sonho com o dia que o assunto: "ABANDONO E MAUS TRATOS AOS ANIMAIS É CRIME" será obrigatório dentro de qualquer instituição de ensino.
Enquanto isso é uma utopia, a cadelinha que batizei de BRITA em homenagem ao lugar de onde veio, fica por aqui a espera de adoção... e até esta alma boa não aparecer, eu e ela vamos dia a dia, na base do amor, carinho e gentileza nos conhecendo, construindo uma historia linda... só nossa! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário