Todas
as vezes que sento pra escrever uma historia, relembro de cada detalhe tão
nitidamente, que me sinto inundada de emoções, lembranças, alegrias, tristezas e
isto tudo vem misturado na mais profunda saudade... confesso que dói reviver o
passado, mas sei que escrevendo é a única forma, que tenho de guardar pra
sempre em algum lugar , além da minha memória e coração, o que vivi, vivo com
eles e por eles.
Mas
desta vez minha historia é de certa forma diferente das outras, porque a
protagonista é uma cadelinha que ainda não conheço direito, suas peculiaridades,
personalidade... Ela chegou recentemente... portanto dela não teria muita coisa
ainda para contar.
O
que me fez escrever sobre esta querida foi à forma como chegou aqui!
Varias
são as ocasiões, inúmeros os motivos que me procuram pra resgatar animais, mas hoje
quero comparar duas situações.
A
primeira, uma turma de rapazes que trabalham em um britador.
A
segunda, uma mãe de família.
Nos
dois casos o foco é animal abandonado.
Em
qual das duas ocasiões estaria a preocupação e o amor?
Incrível
como as aparências enganam...
Dias
atrás, fui ate uma lanchonete com minha filha e quando estávamos indo embora, alguém no meio de um grupo de rapazes, sentados em uma mesa, me chamou. Chegando perto
conheci dois deles, pois foram meus alunos.
Contou-me
que ele e seus amigos trabalhavam em um britador e que ali perto foram abandonados
vários cães, sete ao todo.
Estavam
tentando achar casa, pois lá e um local perigoso principalmente pelo movimento
de caminhões, mas não estava fácil porque ninguém queria adotar.
Expliquei
que infelizmente minha casa- de- passagem estava lotada e que não poderia
acolher mais nenhum.
Eles
então me disseram o motivo que mais os preocupava: "O maior dos sete cães, o tio de um deles tinha ficado, outros cinco eram espertos e sabiam se cuidar
dos caminhões, mas uma pequena tipo pinscher estava completamente perdida e a
cada caçamba que chegava, a coitadinha se enfiava embaixo, por este motivo já estava com
uma perninha machucada e com certeza não sobreviveria muito tempo por lá”.
Ouvindo
tal pedido, não tive como recusar de cuidar dela, mesmo sabendo das dificuldades
de acolher mais um, então pedi que me trouxessem a cadelinha.
No
outro dia, um carro parou na frente da minha casa e desceu dois dos rapazes que
conversei, o que estava com a cadelinha no colo, com o maior cuidado me entregou.
Vi
quanto é linda, pequena, magrinha, pelagem pretinha e marrom cheirando a óleo
de caminhão, rabinho pitoco, perninha machucada, olhinhos tristes...
queridinha.
Pedi
dos outros animais que ficaram lá e eles falaram que iam continuar tentando
achar casa, mas que durante isso, dariam um jeito de ver comida e água pra eles.
Em
contrapartida no outro dia me encontro com uma mulher, assim que me viu, já
disse: “Oi, tenho uma cadela pra você”...
Sinceramente
ODEIO ouvir isso... falam como se eu fosse colecionadora de animais e
estivessem fazendo um favor me ajudando a completar a coleção... respirei fundo
pra manter a calma e pedi: “Que cadela?”
Ela
na maior cara dura, conta que sua filha foi na casa da avó e viu uma cachorra
que apareceu lá abandonada e de tanto pedir, deixaram ela levar pra casa.
Passado
uns dias o pai da menina comprou um filhote de raça e agora a menina não queria
mais a outra cadelinha...
Respirei
fundo novamente e falei: “Criança é assim mesmo, ainda não sabem cuidar direito
e ter a responsabilidade total por um bichinho, quem tem que saber disso é a
gente, mas conversa com ela, com jeitinho ela vai entender, que pode ficar com os dois e amar igualmente!”
Expliquei
a ela também que minha casa estava lotada.
A
mulher percebendo então, que eu não ia ficar com a cadelinha, disse num tom menos simpático: ”Não
adianta falar, ela não quer mais, vai fazer o que... pior é que a cachorra agora
ta lá incomodando, mas já que você não quer vou ver o que vou fazer”.
Eu
nessas horas, nem sabia mais o que era “respirar fundo” pra manter a calma e
educadamente fiz meu discurso de protetora: “Cuidar pra quem dar, não abandonar
novamente, não maltratar enquanto estiver lá...”
Quando
acabei a conversa e vim embora, me sentia arrasada, triste, angustiada, com uma
raiva gigante, de não poder dizer umas verdade bem desaforadas e gritadas na
cara dela, mas sei que engrossar com as pessoas nesse tipo de situação, só as
deixa mais irritadas ainda com o animalzinho envolvido...
Fiquei
pensando no azar que certos bichinhos tem neste mundo cruel, pela segunda vez sendo rejeitada, antes pelo
infeliz que a abandonou e agora por perder o pouco carinho e atenção que
teve e vim rezando pra São Francisco cuidasse dela por mim, colocar aonde na minha casa mais uma?
Não tenho mais espaço físico nem condições financeiras pra tantos, as poucas doações que recebo não dá nem pra alimenta- los, quanto mais ver remédios, atendimentos, tosa, isso tudo pra quem ainda não sabe, somos nós que bancamos sozinhos, NADA é GRATUITO pois NÃO temos ajuda da prefeitura, associações, entidades ou algo parecido.
Não tenho mais espaço físico nem condições financeiras pra tantos, as poucas doações que recebo não dá nem pra alimenta- los, quanto mais ver remédios, atendimentos, tosa, isso tudo pra quem ainda não sabe, somos nós que bancamos sozinhos, NADA é GRATUITO pois NÃO temos ajuda da prefeitura, associações, entidades ou algo parecido.
Infelizmente
não posso resolver tudo, pegar e cuidar de todos os animais que aparecem
abandonados todos os dias na minha cidade. Apesar de ser pequena e ter em torno de 2600
habitantes, sou a única a fazer este trabalho voluntario com animais abandonados e minha casa é apenas um lar temporário, não um canil municipal, custava o pessoal colaborar?
Por isso que resolvi escrever sobre esta pequena, pois é surpreendente ver que o cuidado estava na parte menos esperada das situações, pois quantos não imaginaram que a preocupação estaria na mãe? Afinal por si só essa palavra já inspira amor e proteção!
Por isso que resolvi escrever sobre esta pequena, pois é surpreendente ver que o cuidado estava na parte menos esperada das situações, pois quantos não imaginaram que a preocupação estaria na mãe? Afinal por si só essa palavra já inspira amor e proteção!
Como pode existir tanta diferença no modo de pensar e no que fazer com o animalzinho abandonado que apareceu?... é triste ver atitudes completamente
opostas em questão de valores.
Mas
infelizmente esse é o perfil e o pensamento da maioria das famílias daqui...
O exemplo desses rapazes me causa um certo alivio na alma, quando vejo que não posso proteger todos os animais que precisam de ajuda.
Fiquei
emocionada por saber que da turma, dois foram meus alunos, isso prova que décadas
dando aula e falando de cuidar e proteger animais surtiu efeito, ao menos em
alguns.
E
principalmente, nesses momentos, agradeço por todas as horas que passei, em uma
sala de aula ensinado sobre arte, amor e falando de vida...
Infelizmente
nem todos os educadores pensam assim, quem sabe se algum professor daquela mãe,
tivesse lhe ensinado isso também, hoje
ela pensaria diferente...
Sonho
com o dia que o assunto: "ABANDONO E MAUS TRATOS AOS ANIMAIS É CRIME" será obrigatório dentro de qualquer instituição de
ensino.
Enquanto
isso é uma utopia, a cadelinha que batizei de BRITA em homenagem ao lugar de
onde veio, fica por aqui a espera de adoção... e até esta alma boa não aparecer,
eu e ela vamos dia a dia, na base do amor, carinho e gentileza nos conhecendo, construindo
uma historia linda... só nossa!
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