Monotonia
com certeza é uma palavra que não existe na vida de um Protetor Voluntário...
Duque
era o segundo cãozinho que eu recolhia no centro da minha cidade, naquela
gelada manhã de 2008.
A
pequena Penélope já estava ajeitadinha nas cobertinhas, dentro da caixinha de
papelão embaixo da mesa na garagem, agora era a vez de acomodar outro amado.
Fui
buscar ele logo que cheguei em casa com a Pepe, estava na casa de uma aluna
minha, que mora no final da avenida. Segundo ela apareceu do nada, nunca tinham
visto ele por lá e não poderiam adota- lo.
Saí
de casa toda disfarçada e “mais lisa que lambari” pra minha mãe não ver minhas
intenções e não começar a gritar comigo (tenho problemas de visão há muitos anos,
mas minha audição é ótima) então achei melhor evitar contar pra D. Muri e
preservar ao menos um dos meus cinco sentidos.
Caminhava
rápido, minha cabeça a mil: “Como será que ele é? Que nome escolher? Aonde
amarrar? Será que minha mãe ainda tem guardado potes de sorvete no armário? (serviriam
pra por água e comida) Como explicar pra ela dois só naquele dia? E que
por todos os santos ele não chorasse amarrado..."
Esses são os questionamentos
básicos que vem em turbilhão na minha cabeça cada vez que recolho um
animalzinho.
Era
necessário deixar tudo arrumadinho antes de ir para o colégio.
Cabeça
fervendo, passos apressados, coração acelerado!
Assim
que me aproximei da casa vi o cãozinho e me apaixonei... “ô novidade”!
Ele
estava preso por uma cordinha pois não tinha coleira, ficaram com medo que ele fosse atropelado, me aproximei
devagar, como era mansinho peguei ele no colo, me despedi e vim a passos largos
pra casa, pois já era quase meio dia.
Prendi-o
numa casinha velha perto do paiol, pois era o único lugar no momento. Dei água
e ração, olhei para aqueles olhinhos lindos e pedi que fosse um garotinho comportadinho. Quando estava comendo distraído, saí de fininho.
Entrei
pra almoçar, ele colaborou ficando quietinho, aconchegado na cobertinha. Minha
mãe nem o viu... ainda!!!
Logo
em seguida eu e a Nicole fomos para o colégio.
Quando voltei da aula a proprietária
da casa estava furiosa: “Mônica quer me explicar da onde que apareceu aquele
outro cão?” Antes que eu pudesse contar a historia ela já adiantou... “Pode
achar casa imediatamente pra eles e dar um jeito de comprar uma mangueira nova,
porque quando vi aquele que ta perto do paiol puxou ela da parede e ta lá
estraçalhada...”
Eita
mãe quanto exagero...
Mas
quando eu fui ver ele, tive que concordar “estraçalhada” era uma palavra
delicada pra explicar o que ele fez com a dita cuja... eram pedaços de mangueira
roída por todos os lados.
Quando
ele me viu começou a chorar, fui correndo agrada- lo, assim que se acalmou
comecei a ajeitar as coisas pra dar um banhão naquele fofinho.
Depois
de limpinho, tirei fotos dele pra postar nas redes sociais divulgando a adoção.
Fazia
uma semana que ele estava comigo, quando vi um comentário postado na foto dele,
dizia assim: “Profe, se não me engano este cachorro é o Duque do meu tio!”
Era
recado de um aluno meu, entrei em contato com ele e pedi o endereço do tio
dele. Assim que o Gabriel chegou, fomos leva- lo pra ver se era
mesmo o cãozinho deles.
A
casa ficava bem depois do trevo, saindo de Iomerê sentido a Arroio Trinta... e
não é que o danadinho era mesmo de lá? Só eu sei a felicidade de ver que não
tinha sido abandonado, era apenas um fujão provavelmente atraído por uma
cadelinha no cio.
Viemos
embora felizes, me despedi com o coração apertado pois o Duque era muito
fofinho e eu sentiria saudades...
Uma
semana depois ouço meus cães latirem muito e quando olho fora da janela, lá
tava o bonitão na entrada da casa me olhando.
Fui
lá fora e fizemos a maior festa, ele latia e pulava tanto que parecia um
doidinho. Tentei dar comida mas ele não quis ... tinha ido lá só pra me ver...
e assim foi durante mais de um ano, sempre aparecia do nada pra um
colo e um carinho.
Quando
ficava muitos dias sem aparecer eu ficava preocupada e pedia pra filha de seus donos, que trabalha na área da saúde, sobre ele.
Tempos
depois fiquei muito doente, com uma anemia profunda, precisei fazer um longo
tratamento e um dos procedimentos era tomar soro com ferro, pra isso eu
precisava passar à tarde em observação no posto de saúde.
E
foi numa dessas longas tardes, enquanto esperava pacientemente o soro acabar,
que vi a filha de sua dona e pedi por onde andava o pequeno Duque que não tinha
mais vindo me ver.
Ela
me olhou tristemente e contou que fazia mais de um mês que uns cachorros do
vizinho deles, que eram bem grandes, avançaram nele, morderam tanto que ele acabou
morrendo. Infelizmente ninguém conseguiu fazer nada pra ajuda- lo.
Quando
ela saiu, me vi deitada naquela maca chorando baixinho, ate não ter
mais lagrimas... queridinho do meu amiguinho Duque, tão pequeno, esperto, morrer
de forma tão horrível.
Não
senti raiva dos outros cães, pois agiram por instinto, mas não conseguia
aceitar que não encontraria mais o meu querido.
Ainda
hoje bate aquela saudade enorme quando penso nele, meu coração fica apertado
cada vez que nos finais das tardes meus cães latem...
Mesmo
sabendo que o pequeno Duque está morto, tenho a sensação de que devo ir ate a
janela olhar... e acreditem ou não, tenho certeza que ele de alguma forma, realmente esta sentadinho lá... só esperando pra ganhar colo e um carinho.
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