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quarta-feira, 11 de junho de 2014

CARAMELO, KAVITA e a Bendita Lanterna (Parte III)

Era bem tarde da noite, em um domingo do mes de março de 2014, voltando da casa de minha sogra, ao entrarmos na rua que da acesso a minha casa, vimos em cima do canteiro de flores, na frente de um prédio em construção, três cães, o único que conheci foi o BARBUDO...
Cãozinho abandonado que os pedreiros deste prédio, encontraram perdido na estrada, pararam o carro e o acolheram, é uma historia linda e com certeza contarei em outro momento.
Comentei com meu marido...”Gabi, será que o pessoal da construção achou mais cães?”
Ele despreocupado falou... “Imagina, esses com certeza tem dono, vai ver que são dos pedreiros, um deles é Pastor Alemão, não parecem ser abandonados”.
HUNF... benditas e verdadeiras fossem suas palavras que me tranquilizaram, vim pra casa despreocupada... se eu soubesse o que estava por vir...
Amanhece o dia, quando estava indo levar o lixo, olho rua acima, vejo em torno de sete cães em frente ao prédio. 
Subi conversar com os pedreiros e descobri que o Pastor Alemão, era uma fêmea que apareceu abandonada e no cio.
Céus, não podia acreditar... voltei pra casa pegar a maquina e tirei fotos. Comecei a divulgar, quem sabe ela tivesse dono e só tivesse fugido.
Mas que nada, infelizmente era abandonada mesmo e cada dia que passava, juntava mais e mais cães ao redor dela.
Nem sei dizer quantas vezes tentamos pega-la... sim, TENTAMOS porque, como a população de Iomerê parece que vai enfartar quando enxergam cães reunidos, patas de barro nas calçadas e latidos de cães a noite, acho até que tem gente que ainda não sabe, que cio é um ciclo que dura alguns dias, uma hora passa e os cães voltam para suas casas, mas ao invés de terem um pouco de paciência e tolerância, afinal o animal não tem culpa, fazem um alarme que meu senhor... era gente ligando na Prefeitura reclamando do barulho deles, na Polícia, na Vigilância Sanitária e é claro na minha casa...
E mesmo com todos nós envolvidos tentando pega-la, não conseguíamos, era arrisca e estava com muito medo. Os animais ao redor dela não deixavam a gente chegar perto e começaram os avisos de ameaças de que muitas pessoas queriam dar um fim neles, nem sei como ela sobreviveu a tudo isso, pois a coitadinha e todos os outros foram jurados de morte umas mil vezes.
Pra piorar a situação, o prédio que ela resolveu se abrigar é perto da praça e entre os dois tem a avenida, imaginem o perigo, a toda hora lá ia ela seguida por seus inúmeros admiradores, correndo faceiros pela cidade.
Era tanta gente reclamando que em um único dia, vieram a Polícia, a Vigilância Sanitária,  os empregados da Prefeitura, todos tentado em vão pega-la, mas como a esperta não ia em um lugar onde pudesse ser encurralada, corria como louca pela avenida e espaços abertos e ninguém conseguiu pegar a fujona.
Eu e minha filha íamos todos os dias alimenta-los cheguei a levar um saco de ração para os pedreiros darem a vontade pra cachorrada (se não estivessem com fome, pelo menos não iriam em volta rasgar sacos de lixos). Deixei coleira e corrente pra ver se eles conseguiam pega- la, mas a danada ia para o prédio depois que os pedreiros iam embora, enquanto isso fazia tour pela cidade, sempre muito, mas muito acompanhada.
As semanas foram passando e eu não sabia mais o que fazer, levava comida duas vezes por dia, sempre com a esperança que ela aceitasse que eu não iria machuca-la, mas por já ter levado tantas pedradas e ser espantada aos berros pelas pessoas, se mostrava cada vez mais amedrontada e arredia.
Tirei foto de todos os cães que estavam com ela e ia divulgando na rede social, na tentativa que seus donos o reconhecessem e viessem busca-los.
E em uma dessas divulgações, aconteceu um fato que até me diverti, pois dois irmãos, ex-alunos meus, muito queridos por sinal, reconheceram o cão deles e vieram busca-lo a pé, no escuro, durante um temporal. Na volta, passaram na minha casa pra me contar o que tinha acontecido e rimos muito, disseram eles que enquanto corriam pela praça atras dele, do outro lado da rua estava terminando a sessão na Câmera de Vereadores e o pessoal que estavam saindo, assistiram os dois correrem como loucos pra pegar o cão, que tentava de todas as formas escapar e quando conseguiram pega-lo foram aplaudidos pelo pessoal que acompanhavam a hilariante cena. 
O bonito foi que o danadinho, estava tão acabado das festas que tinha feito nas ultimas semanas, que na hora de irem embora queria colo e não andava de jeito nenhum, engraçado que junto com a Kavita e os outros cães, ele era o mais bravo e ali, nos pés de seus donos parecia um bebezão fazendo dengo... 
Enfim, divulgando fotos descobri a maioria dos donos dos cães que acompanhavam a Kavita pela cidade, mas nem todos tiveram a sorte do cão do episódio acima, pois um deles, preto, lindo, já velhinho, que nem imaginava que era de uma amiga minha (moram fora do centro da cidade), apesar da família ter vindo tentar pega-lo não conseguiram e infelizmente acabou morrendo atropelado na avenida, quando me ligaram contando, chorei... tadinho, era bem mansinho, a família ficou muito triste pois gostavam muito dele.
Outro cãozinho que também estava abandonado, o MIGO e que uma moça estava cuidando, ate eu ter um espaço em minha casa pra acolher ele, fugiu uma noite pra farrear junto com a turma da Kavita e só voltou na casa dela pra morrer envenenado, (ouvi papo de que possa ter sido vidro moído na comida)...  enfim, seja qual for o motivo de sua cruel morte, quem fez isso vai arder no fogo do inferno!
As semanas passavam e nada de conseguirmos pega-la, teve um domingo que mais uma vez postei, pedindo calma pra população, eu nem dormia mais direito e toda manhã que a via pelas ruas eu pensava... “Céus, que milagre ela ainda estar viva"! No final desta mesma tarde, após verem meu recado postado, um casal muito querido de Videira e minha vizinha gente boa, se ofereceram pra me ajudar a tentar pega-la... mas quem disse que Kavita se entregaria assim tão fácil... era só ela ver a gente, fugia como louca.
Dias depois o cio dela foi passando, os animais voltaram pra suas casas, ficando apenas ela e o Barbudo e mesmo assim, nada de conseguir tira-la das ruas. Houve até pessoas que começaram a dizer que ela estava ficando agressiva e avançando em todo mundo... também pudera... a coitada foi perseguida pelos cães, pelas pessoas, sem contar as pedradas e gritos que ouviu, quando se aproximavam das casas.
Mesmo eu a e a Nicole indo trata-la todos os dias, poucas vezes ela me deixou passar a mão na cabeça, assim que eu tentava chegar mais perto, ela latia assustada e saia correndo.
A situação chegou a um ponto insuportável, a população cobrava das autoridades e de mim algo que precisava de paciência, não é bem assim resgatar um animal quando ele é arrisco.
Jurei que não deixaria que nada de ruim acontecesse a ela, eu seria capaz de qualquer coisa pra evitar a morte da Kavita.
Ela apesar de linda, ninguém até o momento, tinha se manifestado em adota-la caso fosse capturada. Numa dessas postagens que fiz, uma mulher me deixou um recado (muito mal dado por sinal), dizendo que “talvez” uma conhecida dela adotaria, caso a gente conseguisse pega-la.
Nesses mesmos dias, eu ate tinha falado com o Veterinário de Videira, pedindo se tinham algo como “dardo tranquilizante”, ele disse que não, mas se prontificou a vir com sua equipe tentar a captura. Mas eis que, a responsável pela Vigilância Sanitária (que também era uma das grandes interessadas em pegarmos ela, antes que algo de ruim acontecesse a coitadinha) veio falar comigo e contei que talvez tivéssemos um possível adotante. Fomos até o sítio desta mulher, que se dizia interessada, pois quem me deu a informação, se quer repassou endereço, ou telefone... e lá fui com uma fotografia da Kavita na maquina.
Este sítio fica numa cidade próxima a Iomerê, chegando lá a mulher viu a foto, disse que queria um Pastor Alemão, mas macho e que era pra cuidar do sítio, pois já tinham sido assaltados. Eu então me prontifiquei a achar ajuda pra castração, só então ela aceitou adotar a Kavita.
Voltamos, eu e a responsável pela Vigilância e combinamos de ir tentar pegar ela mais uma vez (pela milésima eu acho) e ela teve a brilhante ideia de pedir ajuda a um laçador de rodeio.
A tarde estávamos todos reunidos em volta do prédio, Kavita estava lá naquele momento, mas infelizmente o prédio por estar inacabado é cheio de espaços abertos e sabíamos que ela não teria dificuldades em fugir.
Depois de algumas tentativas, muita torcida, reza e mandinga o rapaz conseguiu finalmente laçar a fujona que estava nervosa e muito assustada, mas ele com jeitinho foi enrolando a corda no pilar do prédio, pra impedir que ela o mordesse, com muita paciência, foi se aproximando, depois de um tempo Kavita se acalmou e aceitou o fato de que ninguém ali queria machuca-la e acabou se rendendo pacificamente.
Ate hoje agradeço de coração a coragem deste rapaz, pois a gente não sabia como Kavita reagiria quando sentisse a corda no pescoço, meu maior medo era que ficasse brava e mordesse ele.
O rapaz depois que viu que ela não faria nada pra mim, me entregou e foi trabalhar (super atrasado). 
Kavita finalmente deixou a agressividade e o medo de lado e mostrou o quanto estava carente de amor, aproveitei fazer um monte de carinho nela, coisa que queria ter feito desde que comecei minha luta em resgatar ela das ruas.
Ficamos um tempão ali, eu, Kavita e a responsável pela Vigilância, esperando o funcionário que a Prefeitura autorizou pra vir buscar a gente e levar ela até o local onde seria  adotada.
Quando o funcionário chegou, ela se recusava a subir na parte de trás da caminhonete e com muita paciência finalmente nos arrumamos lá.
O sítio é distante daqui, estrada de chão e numa das curvas, ela acabou caindo em cima de mim, gostou do colinho, se ajeitou e fomos “conversando” a estrada inteira, enquanto eu enchia ela de beijos, coisa que tive vontade de fazer por semanas e ela não deixava. Aqueles momentos pra mim serão inesquecíveis, como é triste ver o que o medo faz nas criaturas mesmo elas sendo tão doces, mas na situação dela é mais que compreensível pois Kavita foi hostilizada pela maioria das pessoas da minha cidade... tadinha.
Chegando no local, a mulher veio nos receber, levamos ela no canil onde iria ficar presa por uns dias, pra se acostumar, recomendei que se cuidassem, até ganharem a confiança dela, pois animal assustado pode morder, mais que uma vez pedi que dessem muito amor a ela, pois estava carente e que eu daria um jeito de ver castração.
Vim embora completamente acabada, tenho problema de coluna e fibromialgia, tinha esquecido o óculos escuro, meu olho esquerdo é cego e por estar debilitado dói no sol, mas estava tão feliz ao ver Kavita bem e longe dos perigos do abandono, que tudo valia a pena... 
Bem, pelo menos era nisso que naquele momento eu acreditava, porque se eu sonhasse em tudo que ainda estava pra acontecer, juro pelo que é mais sagrado, aquele sítio seria o último lugar no mundo que eu deixaria um resgate meu... 
Mas o motivo disso eu só contarei na próxima parte desta longa “saga”...

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Querido amigo Joselito, obrigado pelo comentario, você não imagina como fico feliz em saber que acompanha meu Blog. Abraços de coração :)

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