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sábado, 21 de janeiro de 2012

Não é fácil criar SAPOS!

Sempre gostei de todos os tipos de animais... com sapos não seria diferente...
Na verdade considero uma grande injustiça por parte da natureza não ter sido muito caprichosa em relação a eles, falo isso pela maioria, porque pouquíssimas pessoas, não sentem medo ou repulsa e que são capazes de passar pertinho de um, sem o costumeiro e histérico grito: “Ai... um sapo!"
Não me importava em pegar eles na mão pra tirar do meio da rua, ou salvar dos meninos, que na escola na hora do recreio, quando encontravam algum, ficavam chutando pra lá e pra cá como se fossem bolas, coitadinhos...
(Eu estava com uns 8 anos, mas até hoje não sinto medo ou nojo deles e ainda salvo os que posso!)
Muitas vezes ouvia meu pai falar da importância dos sapos e não me conformava em ver a forma brutal que morriam, atropelados, a pontapés e pedradas por garotos idiotas, enfim por estes vários motivos que tive a “nem tão brilhante” idéia de iniciar minha criação de sapos, (pra desespero da minha mãe que simplesmente tem fobia por  esses bichinhos).
Peguei vários vidros de compota, minha mãe ficou furiosa... ”Não acredito que pegou meus vidros pra colocar essas coisas nojentas, você não tem jeito mesmo, agora vou ter que jogar eles fora... e blá, blá, blá...” céus, aquele dia o sermão foi cumprido...
Bem, era hora de ir à busca dos girinos. Perto da minha casa morava um amiguinho meu e do lado da casa dele tinha um açude, fomos os dois até lá.
Nossa!...  na beiradinha fervia de girininhos.
Separamos por tamanho, num vidro só com água colocamos os pequenos, em outro, os maiores já com patinhas traseiras, em outro, os com as quatro patinhas e ainda um rabinho, em outro, com terra e água os bebe-sapinhos e pra minha surpresa, meu amigo achou uma coisa gosmenta cheia de ovinhos que ele disse ser ovo de sapo, não tive duvidas, corri pegar escondido outro vidro da minha mãe e coloquei dentro.
Vim embora toda faceira, pronta a começar minha criação.
Arrumei os vidros numa prateleira perto do tanque... ”E olha aonde ela colocou estas porcarias, quero ver quem vai lavar roupa, vai já tirar aquilo de lá... ” ... eita, não era fácil conviver com uma mãe, que não estava nem aí se os sapos sumissem do mundo!!!
Todo dia eu trocava a água dos vidros com muito cuidado pra não perder nenhum.
No final de semana fomos para Bom Sucesso na casa dos meus avós, confesso que nunca gostei muito de ir lá, não por eles, eu os amava, mas não tinha com quem brincar, achava chato, mas infelizmente era sagrado, todo fim de semana lá ia a família toda no fusquinha do meu pai!
Ao lado da casa da minha avó (mãe da minha mãe), tinha um rio, meu pai não deixava a gente ir lá, dizia ser perigoso, mas resolvi ir assim mesmo, queria ver se não achava mais uns pra aumentar a criação... qual não foi meu espanto quando vi girinos gigantes, (fiquei sabendo depois que eram de rãs), fui correndo pedir pra minha avó um vidro vazio, mas nem contei pra que, achei melhor evitar conflitos.
Coloquei um monte deles e escondi embaixo de uma arvore, na hora de vir embora, sentei quietinha com o vidro no colo, mas foi só meu pai sair com o carro minha irmã fofoqueira viu e gritou: ”Mãe, a Mônica tem um vidro cheio de sapos...”... “Eita, é girino sua metida...”
O pai parou o carro pra me xingar: “ Não acredito que você foi no rio...” a mãe gritando: “ Pode jogar essas porcarias pra fora...”
Eu me abracei no vidro, queria ver alguém jogar fora os coitadinhos...
Pra acabar com a confusão meu pai disse: “Muri, pega o vidro e coloca no chão perto dos teus pés, porque lá atrás ela vai acabar virando nos bancos...”
Céus, iniciada a guerra, ela xingava todo mundo e ainda faltava passar na casa da minha outra avó ( mãe do meu pai)... o clima estava feio de ver!
Quando estávamos entrando novamente no carro pra vir finalmente pra casa, minha mãe sem querer bate no vidro e vira, senhor do céu, aí sim que eu ouvi de todo mundo... hunf... se tivessem me deixado ficar com ele no colo isso não teria acontecido!
Chegamos em casa, minha mãe que ainda estava histérica, correu se lavar, porque dizia que podia até pegar um cobreiro, meu pai furioso porque o chão do carro estava todo molhado, minha irmã nem me olhava e eu preocupada com os coitadinhos que aquelas alturas já estavam quase mortos sem água e pisoteados.
Corri levar nos vidros os que ainda se mexiam.
No outro dia fui ver e infelizmente reparei que muitos, mesmo eu cuidando (na época eu achava que sabia cuidar deles), estavam morrendo, decidi então devolver os que ainda estavam vivos de volta pro açude...
E assim, pra minha tristeza e alegria da minha mãe, estava terminada a minha fracassada criação. É... a natureza que se virasse sozinha mesmo, porque com muito custo cheguei a conclusão, que eu era uma péssima criadora de sapos!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

LOFI chegou para conquistar (Parte Final)

Os dias em minha casa iam se arrastando, meu pai cada vez mais doente e o gato Lofi se revelando...
As viagens para Curitiba se tornaram constantes e víamos cada vez menos meu pai, que sempre estava internado ou para se operar (a “maldita” estava dominando rapidamente seu frágil corpo), ou fazendo quimioterapias.
Sempre tinha ouvido falar que só quem já passou por isso, sabe realmente como esta doença destrói e arrasa uma família e infelizmente era a mais cruel das verdades.
Lofi neste meio tempo estava ficando genioso, bravo e só queria ficar com meus pais. Quando eles estavam em casa era menos agressivo e quase não aprontava, ficava horas na cama fazendo companhia pro meu pai, que o enchia de mimos, dizia brincando para as visitas que tinha de guardião uma “jaguatirica”.
Mas quando viajavam, céus, nada segurava o malandrinho. Passava o dia todo sozinho, pois eu trabalhava e a Nicole ficava com minha irmã de manhã e a tarde ia pro colégio.
Para demonstrar sua frustração, fazia coisas que só vendo pra crer, derrubava e quebrava objetos, arranhava cortinas e o pior de tudo, erguia as argolas do fogão a lenha e fazia cocô e xixi lá dentro.
Quando era hora de chegar em casa eu dizia pra Nicole... ”Filhinha, que será que o danadinho aprontou hoje?”, ela ria e dizia... ”Não sei, mas dá até medo de abrir a porta, né mãe?”
Era inverno, a casa fechada, escura e fria, fazia a gente ficar mais triste ainda e a saudade de meus pais era insuportável.
Comecei a por coisas pesadas em cima das argolas do fogão, mas como ele não conseguia tirar elas fazia xixi em cima, na chaminé, nas paredes... nem parecia mais a bolinha de pêlos carente que tinha vindo morar com a gente.
Mas nunca, em hipótese alguma eu e a Nicole alguma vez pensamos em nos desfazer dele, acho que o agradávamos mais ainda, sabíamos que fazia essas coisas como forma de demonstrar sua tristeza e revolta pela ausência de meus pais, pois quando eles estavam em casa, seu comportamento melhorava.
Mas a agressividade de morder e arranhar sem motivo continuava, as vezes ele estava dormindo, acordava  parecendo "possuído" e sua vítima era principalmente a Nicole, que ficava arranhada inteira, tadinha...
Resolvemos castra- lo pra ver se se acalmava um pouco e parava de fazer xixi nas paredes e nas pernas das visitas, as da minha irmã eram suas preferidas e haja mira, não errava nem uma gotinha!
Voltou do veterinário ainda sonolento e a gente morrendo de dozinho, mas o veterinário mesmo disse que isso iria amenizar a agressividade.
Mesmo castrado, ficou fazendo xixi nos outros por um bom tempo, depois foi se acalmando e parecendo mais com um gatinho normal e domesticado.
Meu pai querido, cada dia pior, as quimioterapias não estavam resolvendo mais, aliás na minha opinião nunca resolveram, porque a “maldita” dominava seu corpo de forma tão violenta, que ela só servia pra fazer ele passar por todos os efeitos colaterais terríveis...
Nos últimos dois meses antes de sua inevitável partida, o médico disse que nada mais poderia ser feito e que era questão de pouco tempo... (meu coração sempre soube disso, mas não aceitava), ele sentia dores terríveis e que nada mais acalmava...
Entre momentos de dores menos alucinantes, ele conseguia conversar um pouco, gostava de saber como estava o tempo lá fora, como estavam suas arvores, que sempre plantou e cuidou com maior carinho (na minha casa tínhamos todo tipo de frutas, principalmente silvestres), dos netos, vizinhos, das visitas que não viu, do Gubi, só não pedia do Lofi porque ele estava sempre ao seu lado na cama.
Muitas pessoas saem todos os dias pra trabalhar, nem se despedem de suas famílias e durante o dia, são surpreendidas pela fatalidade, vão embora deste mundo sem dar o último beijo, último abraço, sem um "eu te amo"... esta era a única triste e trágica vantagem que eu via nesta situação que se encontrava meu pai... sabíamos que a hora de sua morte estava próxima e eu pude dar- lhe todos os beijos, abraços e infindáveis "eu te amo". 
Minha silenciosa e triste despedida, era medida não por dias, mas por segundos, só saía de perto dele, se fosse mesmo necessário, porque nada nem ninguém iria tirar esse direito do adeus ao MEU PAI, que por toda a eternidade vou ter o maior orgulho de dizer: "Sim, sou filha de Angelo Stefani!".
Quando meu pai piorou muito, precisamos trocar sua cama pra uma de hospital que o posto de saúde emprestou, era mais fácil trocar ele e poder mudar de posição de meia em meia hora, pra tentar aliviar as dores que sentia, apesar da doença ter deixado ele muito magro, ele era um homem grande, seu corpo estava inchando e pra virar ele precisávamos estar em cinco.
Eu era sua massageadora oficial, ele adorava que eu fizesse massagens e foram tantas que gravei em minha memória cada centímetro de pele daquele corpo que eu tanto amava...
Cada vez que o dia amanhecia eu sabia que era um dia menos com ele e isso me desesperava, nunca falamos nada, mas ele sabia e nas suas ultimas semanas implorava pra não dormir, pedia pra gente molhar seu rosto pra espantar o sono porque dizia que tinha medo de dormir, de morrer... não queria ficar sozinho e nossa família, principalmente minha mãe nunca saiu de perto dele, cuidou dele sempre, até o fim, firme e forte como sempre foi (isso é o que eu mais admiro e amo  nela, a foça que encara as coisas...)
Nossa casa era gente a toda hora e como em toda casa com doentes, tinham visitas pra ajudar e outras pra atrapalhar...
Dia 07 de fevereiro de 2007, foi o ultimo dia com meu pai neste mundo, ele precisava receber injeção de morfina constante pra não sentir as dores cruéis, que sei que ele nunca mereceu isso, pois sempre foi um homem trabalhador, digno, honesto, pai e avô maravilhoso, dono de um coração sem igual...
Eu, minha mãe, irmão, (minha irmã estava lá fora consolando e cuidando da Nicole, Bel e o meu sobrinho Gabriel), tias e outras pessoas que por estar até fora de mim de tanta tristeza, nem lembro, estavam no quarto com ele, sua respiração foi enfraquecendo, junto com as batidas daquele coração que eu amava imensamente e quando deu seu ultimo suspiro, escorreu de um de seus olhos uma única lágrima...  aqueles olhos azuis que eram a força que eu precisava, nunca mais iriam abrir pra esta vida, meu pai tinha ido embora, abandonado aquele corpo que só lhe causava sofrimentos.... e agora o que será de mim e da Nicole? De nossa família? Dos seus netos que o amavam tanto?
Fiquei no quarto fazendo carinho em seu rosto e cabelos, até a hora que levaram seu corpo... perdida fiquei sentada, chorando e olhando o vazio tentando entender  porque teve que ser assim... depois de um tempo incalculável nessas horas, algo me chamou a atenção, era Lofi em cima do guarda- roupa, lugar que escolheu ficar e cuidar de meu pai desde que foi trocada a cama... finalmente encontrei forças pra abraçar e cuidar da Nicole que chorava, minha pequeninha!
Hoje passado tanto tempo, a saudade ainda é muita (sei que ela não passará nunca), eu, minha mãe Muriél, meus irmãos Leandro e Clemair e principalmente a Nicole e meus sobrinhos Maria Isabel e Gabriel sofremos muito com sua partida, rezamos pra ele todos os dias, pra que esteja bem onde estiver... 
Beijo sempre sua foto e agradeço todos os dias por ter sido ele meu pai!
Lofi ficou muito tempo também sentindo a ausência de meu pai, atualmente esta mais tranquilo, sua rotina é quase a mesma, fica solto dentro de casa e amarrado lá fora. Ele passou a considerar minha mãe a pessoa mais importante pra ele, dorme com ela e seu colo é o único que fica... se gostam tanto os dois, que eu, a Nicole e o Gabi mudamos recentemente pra nossa  casa e nem cogitamos o fato de levar ele junto, ele e minha mãe são inseparáveis.
É... vai entender certas coisas da vida, conhecendo minha mãe como eu conheço, posso afirmar com a mais absoluta certeza do mundo... realmente ”Lofi chegou pra conquistar”!