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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Um segredo chamado GUBI (parte I)

Minha filha Nicole veio de um jeito “torto” pra endireitar ainda mais a minha vida!
Na época (1996) quando engravidei, fiquei famosa, pois fui mais comentada que a cantora norte- americana Madonna (que também engravidou na mesma época)... imagine, mãe solteira em cidade pequena...
Mas depois do susto, o amor maternal falou mais alto, deixei de lado essas pequenas coisas, que só gente de mente e coração igualmente pequenos conseguem fazer e passei a viver intensamente cada instante da gravidez.
Era tanto amor que não cabia em mim, conversava tanto com ela ainda na minha barriga, que nem tinha nascido já conhecia todo o mundo que eu vivia.
Sentava horas nos degraus da escada, explicado pra ela como era nossa casa, seu pai, seus avós, tios, primos e principalmente sua priminha, que viria a se tornar sua melhor amiga, a fofa da Maria Isabel.
Detalhava cada bichinho que eu conhecia, não só os de casa, mas os do mundo todo, sua espécie, habitat, até das pintinhas da joaninha eu lhe contava.
E foi desta forma, eu acho, que já nasceu sendo mais que minha filha, mas minha companheirinha, melhor amiga e acima de tudo, minha ajudante voluntária incondicional, nesta luta diária em ajudar os animais.
Quando completou dois anos e meio, passávamos horas, durante a noite, cochichando nosso maior segredinho na época, (ela sempre foi a maior guardadora de segredos que conheço), ter mais um cãozinho em casa. 
Minha mãe não poderia nem sonhar com isso, já tínhamos combinado que ela só saberia quando ele chegasse, de outra forma nossa vida seria um inferno e com certeza nem teria graça esperar tanto por ele.
Nesta época tínhamos o fofo do cão Bumper (contarei a história dele outro dia), mas quando ela nasceu, ele já era adulto e não tinha paciência com crianças. Niki nunca pode brincar muito com ele ou pegar no colo, o danadinho deixava com muito custo passar de leve a mão na cabeça!
Então decidi que quando pegasse férias (na época trabalhava o dia todo na creche na cidade de Videira) eu arrumaria um cãozinho filhotinho pra ela.
Parece mentira, mas naquele tempo era difícil ver cão abandonado, (tinha muitos sofrendo por aí, mas porque seus donos não cuidavam direito) e pra adotar um precisei me informar muito onde conseguir.
Por acaso fiquei sabendo que a cadela de uma amiga, que morava em Videira, ia ter filhotinhos, pedi pra ela segurar um pra mim.
Era preciso esperar nascer e desmamar e isso ia demorar um pouco, mas foi até bom, porque eu precisava estar em casa, pra cuidar dele e nas minhas férias seria a época certa de adota-lo.
O assunto cão era sagrado todas as noites, ficávamos  imaginado, sua cor, carinha, olhinhos, o tipo do pêlo, mas de uma coisa já tínhamos certeza: Gubi seria seu nome e foi a Nicole quem escolheu.
No meu ultimo dia de trabalho, saí da creche e comprei uma coleirinha linda, potes e papel de presente.  Peguei a lotação ate a casa da minha amiga.
Ainda não conhecia o fofinho e segundo ela os mais bonitos já tinham sido adotados.
Quando o vi tentei imaginar os outros, porque ele era simplesmente lindo e muito amadinho.
Era pequeninho e gordinho, todo preto com o pelo crespinho. A única coisa estranha é que tinha uma orelha em pé e a outra caída, minha amiga explicou que foi porque seu pai deu uma chinelada nele e “quebrou” uma orelhinha, tadinho tão bebê e já apanhando... eita que ódio do pai dela.
Enfeitamos uma caixa com o papel de presente, coloquei a coleirinha nele e “empacotamos” o lindinho.
Voltei de ônibus, toda disfarçada, pois é proibido entrar com animais. Ele veio quietinho, acho até que dormiu.
Não via a hora de chegar em casa. A Nicole já sabia que aquele dia ele viria e se eu estava ansiosa pelo encontro dos dois, imagine ela.
A Niki e a Bel estavam lá fora com minha mãe, quando me viram, vieram correndo me encontrar.
Parece que vejo os olhinhos azuis dela, brilhando como nunca quando falou: “Mãe você trouxe o nosso segredo?”
“Ô amada da mãe, acredita que a minha amiga deu todos? Mas pra você não ficar triste, eu te trouxe uma caixa cheinha de chocolate...”
Me arrependi na hora da brincadeira, vi a felicidade sumir dos olhos dela, coloquei a caixa no chão e disse: “Vem... pede pra Bel ajudar você abrir”
Ela veio toda tristinha abrir a caixa, a Bel faceira ajudando... imagine uma caixona cheia de chocolates.
Quando abriram foi muito engraçado de ver a reação das três... a Bel ficou um pouco decepcionada porque queria chocolate, minha mãe quase enfartou e saiu berrando e me xingando, mas ver a alegria da Nicole beijar e abraçar aquele que seria pra sempre seu bichinho preferido, não tem preço, afinal o Gubi é com certeza, até hoje o segredo mais fofo que já tivemos em nossas vidas!

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Más lembranças de um SAPATEIRO!

Há muito tempo atrás, havia na minha cidade uma sapataria.
Minha mãe, às vezes me mandava ir lá, levar ou buscar calçado, mas confesso que odiava... era um lugar pequeno, mas sempre cheio de gente... creio que naquela época, deveria ser o “point” da região.
O que deixava mais sinistro o ambiente, era um couro de cobra imenso, pregado bem no alto e que ocupava quase três paredes, só de olhar sentia arrepios...
Não tenho boas lembranças, nem do local, nem do dono, por dois grandes motivos:
O primeiro é que eu, apesar de não lembrar exatamente minha idade nesta época, pois era muito pequena, lembro claramente daquela tarde, enquanto brincava lá fora, ouvi um homem gritando.
Olhei e mais ou menos duas quadras pra cima da minha casa, o tal sapateiro batia covardemente em uma cadela branca com pintas pretas, ela gritava desesperada, ele a encurralou na valeta e batia muito, com um pedaço de madeira e pedradas, ninguém apareceu pra ajuda- la.
Aquela cena me chocou tanto, que eu queria gritar, mas minha voz parecia presa na garganta, fiquei paralisada de pavor... o homem depois de algum tempo, que pra mim pareceu uma eternidade, foi embora... finalmente consegui chorar e rezava pra que aquilo não tivesse acontecido, que fosse só um sonho... mas cada vez que olhava pra lá, via seu corpo inerte.
Não consegui ir lá ver ela, não tive coragem, era tanto o medo e a tristeza, que eu só pensava... ”se meu pai tivesse aqui, isso não teria acontecido, ele não teria deixado...”
À noite quando meu pai chegou do serviço, não esperei ele na estrada como sempre fazia. 
Quando ele apareceu na porta, corri no seu colo desesperada e contei pra ele. Chorando pedi porque o homem tinha feito aquilo com a coitadinha.
Meu pai me abraçou, disse que não sabia e que também achava aquilo muito triste, mas que era melhor eu parar de chorar e esquecer...
Quisera eu que tivesse sido assim, mal sabia ele, que até hoje carrego comigo a brutalidade daquele dia, que eu infelizmente nunca consegui esquecer!
O segundo grande motivo, foi quando eu já estava com uns dez anos, encontrei um cão grande, parecido com um pastor alemão, já velhinho e com as costas cheias de bernes, (se a gente ficasse olhando nos buracos, dava pra ver aquela coisa nojenta se mexendo lá dentro, tadinho).
Muito manso e querido que apareceu e ninguém sabia de quem era.
Comecei a cuidar dele escondida, conhecia minha mãe o suficiente, pra saber que ela jamais deixaria eu ficar com ele.
Depois, minhas melhores amigas que eram gêmeas, também gostaram dele e resolvemos fazer uma “sociedade” pra cuidar dele.
Com as iniciais dos nossos nomes, batizamos ele de Mogigiu.
Escondemos ele na parte de cima de um paiol que ficava um pouco afastado da casa delas.
O lugar era grande e tinha até uma cama muito velha, onde acomodamos ele, com água e comida... mas ainda tinha os bernes que a gente não sabia o que fazer.
Ele era tão amado e amigo que fazia tudo o que a gente queria, sabia que estávamos cuidando dele e colaborava ficando lá, quietinho.
Infelizmente, dias depois, os pais dela descobriram nosso segredo e junto com minha mãe ouvimos até dizer chega... ”Aonde se viu levar um cachorro lá? E se ele tivesse mordido vocês? E se ele tem alguma doença? Só de olhar da pra ver que ta pestiado! Isso só pode ser coisa da Mônica!" (esta última fala era específica da minha mãe, eita).
Apesar de ninguém querer ele lá, pra nossa alegria, ele não ia embora, mas ainda continuava com os ditos bernes.
Um amiguinho nosso, também querendo ajudar, disse que o avô dele tinha um remédio azul, que espirrava nas vacas quando tinham bicheira, talvez funcionasse no Mogigiu.
Fomos as três lá buscar escondido dos nossos pais, eramos pequenas e até aquele dia nunca tínhamos ido tão longe sozinhas.
O avô do nosso amigo emprestou e um dos irmãos das gêmeas passou nele.
Céus, funcionou e em poucos dias ele estava curado.
Alimentamos, brincamos, passeamos tanto com Mogigiu, que cada lembrança ainda é muito viva em mim.
Até que um dia, eis que Mogigiu desaparece, procuramos por todos os lugares, até que nossos pais, simplesmente comunicaram que o cachorro era do dito sapateiro.
O que?... Não acreditei que deram aquele amado, pra um homem de coração tão ruim, (eu lembrava muito bem o que ele fizera anos atrás com a cadela branca de pintas pretas).
Mas nada do que falamos ou tivéssemos feito, traria ele de volta.
Na minha cabeça muitas perguntas sem resposta:
“Era mesmo ele o dono ou deram pra ele? Levou pra morar em sua casa ou pra dar um fim no cão?”
Pra ser sincera, no fundo, nunca quis descobrir a verdade, medo de me decepcionar ainda mais com as pessoas. A única certeza é que eu nunca mais, se quer soube, como terminou a historia da vida, do querido Mogigiu.
É, relembrando tudo isso, mesmo depois de décadas, continuo convicta que não tenho mesmo, nenhuma boa lembrança do tal sapateiro...

sábado, 19 de novembro de 2011

BLACK o cãozinho que chora.

Preto, Cheidi, Teco... ou sei lá quantos nomes já teve este pequeno... está perdidão por aqui faz tempo, mas para nós é o Black!
Desde que foi largado nas ruas, já passou por algumas casas, até que encontrou um senhor que o adotou e dizia gostar muito dele.
Mas viaja e ficava pouco por aqui. Um dia foi embora com sua família pra outra cidade.
Deixou uma senhora pra cuidar dele, mas como não queria ficar amarrado, ela soltou e ele voltou a vagar pelas ruas... e desde então, tem passado por nem tão poucas e boas assim!
Pegou espinho de ouriço duas vezes... eita teimoso, será que na primeira vez, não aprendeu que  aquela bolinha de espinhos, que parece legal de brincar, na verdade é um grande perigo?).
Mas entre pedradas e gritos que ganha gratuitamente por aí (sim, de graça mesmo, porque é um amorzinho, não merecia tanto desaforo), o pior que já lhe aconteceu foi ser atropelado...
O danado nunca ficou amarrado e quando a gente tentava prende- lo, ele gritava muito. É engraçado porque ele não acoa, uiva o tempo todo, o Gabi diz que ele parece a sirene do SAMU.
Era o primeiro sábado do mês de setembro deste ano, finalzinho de tarde, eu estava recolhendo a roupa quando ouvi os gritos dele, na hora não dei bola porque sei que ele acoa escandalosamente, mas logo a Niki e um senhor vieram com ele machucado, disse o homem que ele rolou muito embaixo do carro...
Quase tive um ataque histérico... ele gritava muito, estava com um corte no fucinho e perto da orelha, mas o que mais me apavarou é que saia muito sangue do pintinho dele.
Quero ser forte, mas não consigo e choro mesmo e não adianta brigar comigo, a pena e o desespero que sinto é maior do que meu bom senso.
O homem me contou que a mulher que atropelou, nem parou pra ver ele.
Tempos depois descobri, que ela falou que não parou porque não viu, ofuscada pelo sol da tarde... hunf... sol deixa surda também pelo jeito, porque será que não ouviu quando passou por cima dele?
Liguei desesperada pro Gabi, ele estava trabalhando em Pinheiro Preto (cidade próxima) e demorou um pouco para vir.
Ele me olhava desesperado e não tinha sossego, só que cada vez que se mexia gritava cada vez mais.
Quando o Gabi chegou, colocamos ele com muito custo no porta malas, ele de dor queria morder a gente e corremos pro veterinário.
Pra tirar ele do carro, o ajudante do veterinário teve que pegar focinheira. Black estava fraquinho mais ainda gritava muito, foi examinado e várias suspeitas: bexiga estourada ou outro órgão interno.
Deixei ele e meu coração lá, vim embora triste, ele é muito querido e manhoso, não era justo sofrer assim.
Ligava todo dia e ainda bem, não foi nenhum órgão estourado, apesar de medicado, gritava muito de dor, nada acalmava.
Pedi pro veterinário examinar os olhinhos dele, desde que o recolhi sempre estavam lacrimejando, eu achava que ele estava com alguma infecção, qual não foi minha surpresa, quando o veterinário me explicou que eram lagrimas sim, mas de choro, ele é uma cão manhoso e muito depressivo, tadinho!
Ele também é manhoso pra comer, não gosta de ração e a comida preferida é arroz fresquinho e carne, lá davam ração e ele ficou muito tempo quase sem comer, voltou magrinho.
Ficou uma semana internado, teve alta, fomos buscar, mas gritou tanto a noite inteira que no outro dia internamos ele de novo e ficou ao todo vinte dias na clínica.
O dia que ele voltou pra casa, no mesmo dia internei meu Miau ( que acabou falecendo com problema renal, ainda não me conformo).
Black ainda tomando remédio, chorou de dor por quase um mês, ainda hoje, conforme se mexe dá uns gritos que a gente até se assusta.
Como ele não se mexia muito, amarrei ele e por não conseguir andar direito acabou aceitando.
Hoje depois de muito sofrimento Black melhorou, está cada dia mais feliz... as vezes ainda chora de manhoso, mas faço um monte de carinho e logo passa e o melhor, aprendeu a ficar amarrado.
Por falta de espaço, fiz uma cama pra ele na garagem e como não gosta de vento, cubro com uma coberta presa em cadeiras, parece uma cabaninha de favelado, mas é lá que ele  fica quietinho a noite toda. 
De dia coloco ele embaixo de um pé de jasmim, com panos, água e comida, ele adora ficar lá, pode ver a rua e cada pessoa que passa ele liga a sirene avisando, o que gera uma confusão, pois toda vez que ele da sinal de alerta, os meus outros cães (quinze ao todo no momento), gritam muito e uivam também, é uma loucura, parece mesmo uma casa de loucos como diz minha mãe.
Dizem que um dia, o senhor que tinha adotado ele, vai voltar a morar aqui, mas mesmo que isso não vier acontecer, fico eu com este manhoso, depressivo, chorão, mais amado do mundo, que ainda por cima pensa que é a ambulância do SAMU!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Um TIGRE e muita correria!

Naquela época, a tarde, eu trabalhava em dois locais, no Colégio e com uma turminha no prédio da Prefeitura, que fica no alto do morro, um local bem lindo, da pra ver boa parte da cidade.
Era uma sexta feira, inverno de 2009.
Subi até lá de carona com uma amiga, quando descemos do carro, vi um cachorro enorme no pátio.
Minha amiga disse: “Que medo dele, faz dias que tá por aqui, ninguém sabe de quem é, ouvi dizer que se ele não for embora  vão mata- lo, porque é um perigo, com os alunos correndo por aqui...”
Pronto, meu dia tava acabado, o sinal já tinha batido e os alunos me esperavam na sala.
Eu tinha duas aulas com eles, que pareceu uma eternidade. Assim que acabou, corri no pátio, atrás dele e maiores informações. Vi uma outra professora, ela faz o mesmo comentário que a minha amiga.
Ele era muito grande e lindo, mas faminto, cheirava em todos os cantos como alucinado e já estava emagrecendo, também fazia três dias que estava lá e ninguém tinha lhe dado comida, queriam que assim ele fosse embora.
Expliquei pra elas avisarem os homens que trabalhavam lá, que não fizessem nada com ele, naquele mesmo dia eu daria um jeito.
Eu tinha uma aula de folga e o recreio, antes de retornar a sala no colégio de baixo, tempo suficiente pra comprar potes e ração pra ele.
Desci o morro como louca, até o mercado, comprei duas bacias, um pacote de bifinho canino e  2 Kg de ração.
Subi correndo o morro de novo, a essas alturas eu estava já com os “bofes pra fora”, não tenho estrutura pra tanto esforço físico, mas era preciso.
Chegando no pátio, uma outra funcionaria me vê e diz: Mônica, já viu o “demonho” do cachorro que apareceu aqui?
Quase disse: “o cachorro vi antes, o ‘demonho ‘ to vendo agora...” mas me segurei.
Ela me garantiu que sabia de quem ele era e falou o nome da dona. 
Eu falei que não era dela, pois conhecia o cachorro daquela família, era grande assim e a cor também, mas tinha a boca mais escura, uma mancha branca no peito e seu nome era Lupi.
A teimosa me deu certeza absoluta que era daquela casa.
Bem, talvez eu estivesse enganada...
Chamei pelo nome de Lupi ele nem me deu bola, só prestou atenção em mim quando mostrei os bifinhos, céus, comia como louco.
Avisei que ia levar ele pra casa da suposta família, já que a mulher ainda teimava que era deles.
Ele me seguia todo feliz, mas cada pouco me dava uma patada nas costas, queria mais um pedaço de bifinho. 
Era uma tarde muito fria, mas eu suava debaixo de tanta roupa, ainda carregava a bolsa de aula, as bacias e a ração. Caia uma garoa fininha, dessas que não molha muito, mas deixa os cabelos que é uma coisa. Como eu tinha ido de carona, não tinha nem levado guarda- chuva.
Chegando perto da casa da mulher, vejo um aluno meu que estudava de manhã, ele diz: "Profe, ta indo aonde com esse cachorrão?"
“Oi querido, a pro vai levar aí nessa casa, disseram que é daí que ele fugiu”.
O garoto olhou pra baixo da cerca e disse: “Não é não Pro, o Lupi tá aí e tá me olhando...”
Céus, o que eu ia fazer agora? Juro que se tivesse tempo voltava lá e esganava aquela linguaruda teimosa...
Ele tava todo meu amigo, tadinho, era só eu dar um passo que ele me seguia, ele era tão bonito e com cara de querido, que eu nem tinha medo de abraça- lo.
Olhei na rua de baixo e tive uma idéia, pedi pro menino me ajudar a distrair ele dentro do cemitério, pra que eu tivesse tempo de voltar pra escola e dar as ultimas aulas (tinha medo que ele me seguisse, aquelas alturas já devia ser hora do recreio, seria loucura chegar lá com aquele cachorrão e tanta criança correndo no pátio).
Entramos no cemitério, sabia que não era lugar de eu deixar ele, mas seria por pouco tempo. Meu aluno encheu uma bacia de água, na outra eu coloquei a ração e enquanto ele se distraia matando a fome, nós dois corríamos como loucos.
Cheguei no colégio acabada, suja, molhada e nem respirava mais, me olhei no espelho do banheiro estava até pálida. 
Me limpei como pude, ajeitei os cabelos e entrei toda disfarçada na sala dos professores, não adiantou... ”Nossa Mônica, se pegou no meio de um furacão?"
Acabei contando o que tinha acontecido, todo mundo riu, mas ninguém se espantou, vindo de mim era de se esperar, disse uma delas.
O sinal bateu e nem deu tempo de terminar de lanchar.
Na sala enquanto os alunos faziam a atividade que eu tinha proposto, uma mocinha que era ajudante da sala, disse: “Profe Môni, o cão que você falou é um bem grande e marrom?”
“Sim, porque?”
“Porque ele ta aí fora da janela, olhando pra dentro da sala de aula!”
Não acreditei, fui até a janela, lá tava ele, todo feliz em me ver, abanando o rabinho, veio até a janela, sujou toda a parede. Ele só podia ter seguido meu cheiro.
Faltava pouco para acabar as aulas, pedi licença e fui correndo de sala em sala, pedir para os alunos, quando saíssem, não mexessem nem passassem perto de uma cachorro que tava lá fora.
A noite eu tinha aula também, então pensei em deixar ele lá e ver se algum aluno não gostaria de adota- lo.
Vim embora sem que ele me visse, tinha medo de trazer ele até minha casa, meus cães eram pequenos mas muito metidos, iam querem brigar com ele, seria uma tragédia.
A noite levei uma turma lá fora ver ele, estava deitado na grama, embaixo do parquinho. 
Um aluno gostou e resolveu levar ele naquela hora. Contei pra Diretora e ela liberou dois alunos para levaram ele. 
Foi amarrado fora do carro, seguiam devagarzinho, ele acompanhava, (o que diretora não sabe até hoje é que a cordinha que os danados pegaram, era a do mastro de hastear a bandeira).
Nesta hora relaxei e vi o quanto estava cansada, mas feliz, ele não era mais perigo, e ninguém ia matar o grandão.
Mas qual não foi minha surpesa, quando uma semana depois, liga na minha casa uma mulher dizendo que o cão era da sogra dela, eita... porque não procuraram antes? Ficou três dias correndo risco de vida no pátio da escola ( me disseram mais tarde, que naquele mesmo dia, depois da aula iam dar um fim nele).
Lá vai eu de novo atrás do aluno, que a esta altura nem queria mais devolver.
Quando ele voltou para casa eu e o Gabi fomos visita- lo. 
Descobri então que seu nome era Tigre e segundo a dona era muito bravo, ela se espantou de ver como ele me gostava. Pedi pra tirar uma foto dele para ter de recordação, o amadinho ficava fazendo pose, ele já tinha engordado, seu pelo estava brilhando!
Tempos depois o casal que já é de idade acabou dando ele, porque estava cada vez mais forte e era difícil de cuidar dele...
Dizem que foi ser cão de guarda de uma granja, querido, espero que esteja bem, apesar de todo o trabalhão, valeu a pena cada esforço pra salvar a vida daquele meu Grande Amigão!

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Cadê as pernas de COTINHA?

Entrei apressada dentro de casa, estava morrendo de sede. Minha mãe passava roupa e minha irmã a ajudava...
Não conseguia entender o comportamento de minha irmã, tem só um ano e pouco a mais do que eu, mas  somos completamente diferentes, (eu estava com uns oito anos nesta época). 
Ela, na minha opinião, sempre foi uma adulta em miniatura, raramente brincávamos juntas, só queria saber de ajudar a mãe, adorava fazer serviço doméstico... que coisa mais chata!
Enfim... eu tomava água, quando casualmente minha mãe disse... ”amanhã tenho que matar uma galinha, vi hoje que ela perdeu as pernas...”
Que mania os adultos tem de falar frase de duplo sentido, eu na minha ingenuidade que chegava a ser patética, pensei... ”ah, mas não vai matar mesmo, vou subir no galinheiro agora, procurar as pernas dela!”
Chegando lá vi aquele bando de galinhas e logo percebi uma magrinha parada, cheguei perto, todas corriam cacarejando como loucas, ela mesmo assustada, ficou paradinha ...só podia ser a tal distraída que tinha perdido as perninhas...procurei por todos os cantos e nada, cheguei a conclusão, que algum bicho (provavelmente raposa) tinha roubado suas pernas.
Desci correndo e disse pra mãe não matar ela e contei o que eu achava da historia, ela riu, me chamou de boba e me explicou que a galinha estava com as pernas, só que tinha ”pestiado” e não ia andar mais, como não ia mais conseguir se alimentar, ia mata-la.
Subi e fiquei olhando pra ela... que dó senti da coitadinha.
Entrei lá, peguei ela no colo e levei até aonde estava os grãos de milho, ela catou um monte, estava com fome, peguei no colo de novo e levei até a água, bebia sem parar... fiquei feliz. Havia encontrado um jeito de minha mãe não matar a pobrezinha, ia cuida- la, seria as suas pernas daquele dia em diante.
Dei- lhe o nome de Cotinha e a partir daquele dia, ela passou a ser mais que especial, (muitos anos depois, quando li o livro O Pequeno Príncipe, na parte do menino e a raposa, me identifiquei com Cotinha).
Subia várias vezes por dia, para alimenta- la e como gostava dela acabava ficando um tempão no galinheiro. Ela sabia que era eu que subia, acho que conhecia até meus passos e cacarejava feliz!
Logo Cotinha engordou, ficou grandona e pesada.
Eu não fazia mais nada sem antes cuidar da galinha, afinal ela só podia contar comigo. Acordava cedo, soltava as galinhas no cercado, alimentava Cotinha, ficava um tempão com ela e colocava na sombra... isso acontecia varias vezes por dia, minha mãe se estressava... ”Mônica, faz o que tanto naquele galinheiro, não tem outra coisa pra fazer?”
Tinha sim... ir obrigada pra escola, o que na época eu achava chato demais (nem me passava pela cabeça, no futuro ser professora).
Uma tarde, chegando apressada da escola, não via a hora de ver Cotinha, qual não foi o meu susto quando não a encontrei, revirei o galinheiro e nada de achar ela, desci chorando contar pra mãe que tinham me roubado a galinha.
Ela respodeu seca... ela morreu!
Como morreu? Estava gorda, bonita, feliz antes de eu ir pra escola...
Disse ela que subiu e a encontrou morta, ainda hoje acho que foi ela que matou e provavelmente jogou Cotinha fora, minha mãe jamais comeria uma galinha assim... sei que se irritava em ver, que eu nem brincava mais pra cuidar da galinha, mas custava entender que era assim que eu me sentia feliz...?
Chorei por dias a falta da minha amiguinha, me sentia perdida, os momentos que eu passava com ela ficaram vazios... nada preenchia.
Tento entender certas atitudes das pessoas, achavam estranho eu perder tanto tempo com uma galinha “pestiada”, mas não achavam estranho me ver sofrendo de saudades dela... é... vai entender!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

LOLITA e sua pintinha charmosa!

Ah...doce Lolita...
Uma linda poodle, com uma pinta na perninha.
Vi esta serelepe, quando subia para o colégio, ela vinha toda faceira , liderando uma “patota feliz” de quatro cães, consegui conhecer três, pois sei quem  são seus donos.
Ela estava suja, com o pelo embolado, magrinha, cansada, mas mesmo assim não perdia a pose de Gisele, se sentia o máximo!!!
Subi preocupada, vi na hora que era abandonada, estava no cio e rodeada de cães... isso nunca acaba bem!
Enquanto dava aula, vi um movimento na rua, fui até a janela e lá estava ela correndo na frente e os admiradores se matando atrás...
Quando cheguei em casa, já deixei uma coleira a postos e um pote de ração, caso ela aparecesse. Não demorou muito ouvi meus cães latindo como loucos, fui pra fora , lá vinha a turma do barulho.
Corri e chamei ela, na hora nem bola me deu, mas quando viu que eu tinha comida, veio bem rápido até mim, estava faminta e era muito mansa.
Fiz carinho, conversei com ela enquanto comia, aos poucos coloquei a coleira, puxei com a guia, ela meio a contra gosto me seguiu.
Nem bem entrei, minha mãe da janela me vê... sempre que lembro deste momento dou risada sozinha... ela deu um berro tão alto e inesperado gritando comigo, que ainda vejo minha tia atrás dela, com a cuia na mão, os olhos esbugalhados de susto e a mão no coração como se quisesse evitar um enfarte... os gritos da minha mãe pegaram ela desprevenida...
Fui prender a cadelinha, mas meu sorriso logo sumiu, quando percebei que não podia mesmo fazer isso. A cadelinha gritava, meus cães enlouqueceram e os que estavam com ela ameaçavam entrar... tive que solta- la...
Mas fiquei cuidando ela a distancia, por dias, esperando passar o cio. 
Sempre que saio para dar aula, carrego um peso enorme na bolsa, (acho que é por isso que tenho até um ombro mais baixo que o outro), são livros, cadernos, estojo e sempre tenho potes vazios de margarina, garrafinha de água e um pouco de ração... nunca se sabe quando vou encontrar um anjinho abandonado sedento e faminto!
Passada uma semana, a aula da noite tinha acabado, descia do colégio apurando por causa da chuva, quando passei pelo meio da praça, ouvi um chorinho baixinho, olhei com dificuldade em baixo de um banco, estava muito escuro, mas mesmo assim a reconheci.
Chamei, ela veio, tremia de frio, estava muito suja e molhada, até colinho queria,  tadinha...
Nem precisei convidar, ela me acompanhou. Em casa, prendi ela, arrumei ração e água. Comeu, tomou muita água e antes de se aconchegar nos paninhos limpos, pulou nas minhas pernas agradecida.
Nessas horas nem sei explicar o que sinto é muito amor, alívio de saber que está segura, uma sensação enorme de dever cumprido.
Dias depois recebi uma boa notícia, uma amiga minha ia conseguir a tosa e castração pra fofinha.
Depois de uma semana veio para casa e não demorou uma senhora queria adota- la.
Eu e o Gabi levamos ela de carro, a mulher prometeu cuidar dela direitinho, comprou casinha e tudo e deu- lhe o nome de Preta.
Fiquei um tempo de olho e me pareceu que estava bem cuidada. Me senti feliz por ela.
Isso aconteceu no ano de 2009.
Passado quase dois anos, uma mulher me diz: “Sabia que na casa de ‘fulana’ tem uma cadela preta amarrada, em péssimas condições e só não morreu de fome e sede porque uma mulher passa lá e de vez em quando a alimenta escondida?”
Meu coração quase parou, só podia ser a Preta.
Fui pra casa correndo e chamei a Nicole, contei a historia e lá fomos nós investigar... perguntei pros vizinhos, a ”tal Senhora” viajava muito e deixava ela lá... amarrada, largada a própria sorte.
Fui até a casa, a cena que vi me chocou, ela tava tão suja e seu pelo tão embolado, que ficava com o pescoço torto porque eles tinham prendido na corrente, com muito custo desenrosquei... ela ficou tão feliz em me ver que não parava de pular.
A idiota da “tal senhora” estava viajando, (não entendo... porque querem adotar se depois não cuidam?) como morava de aluguel, fui até a casa do proprietário e eles me disseram que ela estava para ir embora. Pedi pra levar a cachorrinha, a mulher disse que não queria encrenca, mas ficou de avisar quando ela fizesse mudança.
Eu e a Niki íamos todas as noites lá brincar com ela e alimenta- la.
Passado umas semanas a dona da casa avisou que a mulher (uma bruxa isso sim... ) tinha ido de mudança e a cadelinha tava na rua.
Trouxe ela pra casa, neste dia minha mãe nem brigou, ela também ficou com dó da coitadinha.
Como eu já tinha uma cadela que se chamava Preta, dei- lhe o nome de Lolita.
Ela tossia muito e quando levei ela consultar e tosar descobri que era cinomose, tive medo porque tenho muitos cães aqui, todos vacinados, mas como a importada é muito cara, vacino com as de agropecuária (entrego eles com carteirinha de vacinação), mas precisava cuidar dela, jamais ia abandoná- la e resolvi correr o risco.
Foi medicada e por sorte, ainda não teve recaída nem outras sequelas.
Muita coisa aconteceu desde este dia, já fugiu duas vezes e por incrível que pareça, era na antiga casa que eu achava ela. 
Na sua última fuga a nova família que mora lá pediu pra adota- la, mas depois que expliquei que ela era doentinha, não quiseram, ainda bem.
Quero ela sempre perto de mim, cuidar pra vida toda esta pequena que adora um colinho, tem uma pinta preta na perninha, que é o maior charminho!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A grande dúvida sobre o fim de TETECA.

Relembrar minha história com Teteca é algo que me entristece muito, pois envolve alguém que amarei eternamente... meu Pai!
Esta cachorra apareceu na minha cidade, há muitos anos atrás (2002), nesta época não era tão comum ver bicho abandonado por aqui...até tinha, mas a maioria com “endereço- fixo”, tinham donos mas não eram bem cuidados, viviam nas ruas e passavam fome e sede... coisa de gente idiota que tem bichinho, mas não lembram que eles também precisam se alimentar...
Estava voltando de Videira, quando a vi deitada perto da minha casa, tentando esconder seu corpo na sombra de uma árvore minúscula. O sol ainda estava forte, era finalzinho de inverno, só de olhar pra ela dava pra perceber a sede que sentia...
Corri buscar água e comida, minha mãe já tinha visto a cadela e segundo meu pai, até tinha tentado espantar antes da minha chegada.
Enquanto achava potes minha mãe ameaçava... ”Mônica não se atreva a dar comida, porque ela não vai mais embora e não quero saber dela ganhando cachorrinho aqui...” Ôpa... minha mãe disse cachorrinho?
Corri até a cadela e quase morri de alegria quando vi que estava grávida mesmo, pense que maravilha, poder acompanhar o nascimento, ver abrir os olhinhos, pegar no colo e sentir nos focinhos cheirinho de leitinho... tem coisa mais gostosa neste mundo?
A Nicole e meus sobrinhos Maria Isabel e Gabriel eram pequenos e como só tínhamos cachorros, eles nunca tinham passado por esses momentos especiais.
Contrariando todas as leis da natureza... sim, porque minha mãe brava é como enfrentar tempestade com raios e trovoadas... trouxe a cachorra pra minha casa.
Meu pai me apoiou o que ajudou muito (até brigou com uma vizinha nossa, que ainda hoje não olho mais na cara dela. Imagine, teve a petulância de desaforar meu pai, disse assim a megera: “Stefani do céu, tá louco, dá fim nessa cadela, daqui uns dias vai ter cachorro pra todos os lados sujando as calçadas...” meu pai simplesmente respondeu... ”na minha casa não se nega comida e água pra ninguém, nem pra gente, nem pra bicho...” hunf... é isso aí pai!
Meu pai arrumou  lugar pra ela, num galinheiro velho que não era mais ocupado. Precisava ver a alegria dela, era mansa, deixava a gente passar a mão na barriga pra sentir os cachorrinhos se mexendo, uma fofa mesmo, Nicole deu- lhe o nome de Teteca.
Mas infelizmente na hora de ganhar os bebes escolheu outro lugar, ficamos dias cuidando, mas a espertinha vinha comer e se disfarçava toda, quando percebíamos ela já tinha sumido. Uma semana depois descobrimos a ninhada embaixo do paiol do vizinho.
Eu, a Niki e a Bel fomos buscar e trouxemos para casa, eram lindos, Teteca era grandona e seus quatro filhotes também.
Foi a festa, beijamos, cheiramos, abraçamos... céus, como amamos e cuidamos destes pequenos. 
Mas Teteca queria mesmo a liberdade, coisa de mocinha independente e vivia fugindo, sujando as calçadas da vizinhança...
Aos poucos fomos achando casa pro bebes, um foi pra Videira, dois num sítio de um amigo do meu sobrinho (tempos depois fiquei sabendo que eles comeram veneno e um morreu, tadinhos) e um foi dado pra um infeliz, não longe da minha casa, que insistiu em querer o filhote e a Teteca.
Eu amava ela tanto, tinha comprado uma coleira rosa, ela ficava um charme, queria ela pra mim, mas não teve jeito e é nesta parte da história que guardo muita decepção e tristeza... (é a  única recordação de magoa que tenho do meu pai, que infelizmente faleceu em 2007).
Ele não me deixou ficar com ela, o homem levou com a promessa de cuidar dos dois, mas vi em seus olhos que mentia, falei pro pai, mas ele não me deu bola.
Nesta época eu trabalhava o dia todo na creche na cidade de Videira, três noites lecionava artes no colégio em Iomerê e fazia faculdade de final de semana na cidade de Caçador, era uma correria só, sem contar a tristeza que eu sentia de ficar pouco tempo com a Nicole, que é e sempre será a pessoa mais especial da minha vida!
Mas não conseguia parar de me preocupar com a Teteca, mandei meus alunos da noite investigarem e infelizmente, depois de muitas histórias contraditórias, descobriram que na mesma semana que foi pra lá o homem a matou, queria mesmo só o filhote...
Tentei falar com meu pai várias vezes sobre isso, mas ele só dizia: “se ele levou o que fez com ela é problema dele...”
E é esta dúvida que me corrói a anos... "será que meu pai, meu amigo que eu amava tanto, sabia das intenções daquele idiota? Será que ele foi conivente com o fim trágico da cadela Teteca?"
Quando lembro dela, toda vez peço perdão, onde quer que ela esteja, me culpo. Deveria ter sido mais firme, ter seguido minha intuição quando vi a mentira estampada nos olhos daquele infeliz.
Agora é tarde, não tenho mais ela nem meu querido pai... só a dúvida sobre a morte daquela cadela amada, que com seus bebes me deixou, apesar de boas recordações, um peso enorme no meu coração!  

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

AMARELO... um pedaço do meu coração é seu!

Choveu muito naquele dia, era mês de novembro de 2008.
Já era final de tarde, o curso que eu estava fazendo no colégio tinha acabado, descia apressada porque a chuva tinha aumentado. Quando passei perto da igreja vi um cachorro, sujo, molhado até os ossos, machucado e com o olhar perdido no horizonte.
Chamei a mulher que limpava o pavilhão e pedi se fazia tempo que ele tava lá, ela me disse... ”não sei, mas desde que cheguei de manhã ele já estava aí, neste mesmo lugar...”
Compreendi... alguns animais quando são abandonados, são tão fiéis e confiam tanto no dono, que ficam no mesmo lugar por dias, por dois grandes motivos, obediência e esperança que voltem busca- los...
O que não sabem que seus ex- donos, grandes FDP’s. não voltarão mais...
Meu coração não me deixou pensar em nada... nem na falta de espaço lá em casa ou na fúria da minha mãe (ela sempre diz... ”tenho até medo de olhar fora da janela quando é hora da Mônica chegar, porque nunca sei o que  mais vai trazer pra casa...”)
Ele não queria vir, a mulher que conversei me arrumou um pedaço pequeno de borracha de câmara de carro, eu amarrei no pescoço dele, era curto, mas eu conseguia puxa- lo e com muito esforço e teimosia ele me seguiu, tadinho estava machucado e mancava de uma perna.
Amarrei na frente de casa, lá não era lugar de por um cachorro, mas não tinha outro espaço para abriga-lo da chuva.
Dei- lhe água e comida, devorou tudo. Ele era muito querido e manso, fiquei fazendo carinho e conversando um tempão com ele... e pela sua cor resolvi chama- lo de Amarelo!
Com o passar dos dias arranjei um tempinho, coisa que não era fácil pois trabalhava lecionando artes os três períodos na escola e coloquei ele numa casinha improvisada perto do nosso paiol, (nesta época estava com sete cães).
Amarelo, aos poucos se mostrava cada dia mais inteligente, descobri que ele obedecia algumas frases como: senta, deita e dê a pata... um sonho!
Como se alimentava bem, seu pêlo ficava cada dia mais lindo, brilhante, engordou e sarou todos os machucados, só então comecei a procurar casa...
Já estava comigo há meses, até que em maio de 2009, um aluno resolveu adota- lo. Seu pai veio buscar de carro, Amarelo era grande e foi atrás do porta malas... chorei muito, de tristeza... queria o Amarelo pra mim... (novidade... queria todos que recolho).
Fui visita- lo algumas vezes e sempre que eu o via meu coração se apertava.
Hoje ele não mora mais com meu aluno, eles deram pra um parente que tem sítio e pode deixa- lo solto.
Nunca mais o vi , mas sempre que olho suas fotos penso... ”um dia quando tiver um espaço maior e puder fazer minha ONG, pego você de volta pra mim meu querido, que por sua causa, meu coração tem um pedaço que é pintado de Amarelo!"

sábado, 5 de novembro de 2011

KIARA... a bandidinha.

No início de dezembro de 2010, eu e a Nicole fomos de ônibus para Videira, cidade a dez km de Iomerê.
Perto das 11:00 da manhã, fomos para o terminal, pegar o ônibus para voltar, quando vimos uma cadelinha pequenina, não devia ter dois meses, que corria de uma lado para o outro.
Como estava perto de uma menina, achamos que era dela, viemos embora comentando como era bonitinha e sapeca.
Uma semana depois, estávamos no terminal e lá estava a cadelinha de novo, deitadinha no asfalto, os ônibus precisavam desviar dela pra não passar por cima, o sol estava insuportável, o asfalto queimava.
Aquela hora o lugar estava lotado,  mas ninguém se importava com ela. Fui pega- la  levei um susto, gritava e me mordeu tanto que escorria sangue das minhas mãos, coloquei ela embaixo de uma árvore, estava com as patinhas da frente machucada, mas ainda bem que não estavam quebradas.
Olhamos ao redor, não vimos a menina... percebemos que ela estava abandonada, coitadinha, estava sujinha e já tinha emagrecido.
Fui até o ponto de táxi, que fica ali perto e perguntei o que sabiam dela, mas não me deram atenção.
Vi então uma mulher varrendo o terminal e fui conversar com ela, ficamos sabendo que a cadelinha  já estava lá, fazia quase um mês, ela até cuidava, dava comidinha, mas não podia adotar.
Como trabalhava só na parte da manhã, o resto do dia e nos finais de semana a pobrezinha ficava sozinha, por isso estava sempre machucada, a noite tem bêbados e drogados por lá...
Minha mão não parava de sangrar, fui na farmácia comprar curativo. Depois fomos até um mercado comprar um pacote de ração, pedi pra mulher dar pra ela, que assim que eu pudesse ia pegar a cadelinha.
Dias depois a Bibi foi adotada e vagou o lugar atrás da casa. Eu e o Gabi fomos no mesmo dia busca- la, quando chegamos, ela estava brincado sozinha com uma garrafa vazia de água mineral, a cena era linda mas muito  triste...
Colocamos ela dentro do carro, mas apesar de pequena era bravinha e escandalosa, não queria vir, tentava me morder, foi um sufoco até chegarmos. Prendemos ela, demos água e comida e começou o fiasco...
Chorava tanto, queria ficar solta, não demorou minha mãe viu ela... e começou com o sermão... ”Vê se pode, nem saiu uma já trás outra? Mônica será que você tem o que nessa cabeça, parece que tá ficando louca..." e outras frases feitas, que já até decorei.
Com o passar do tempo, foi ficando cada vez mais linda, brava e louquinha... é hiper ativa, come tudo que vê, vira os potes de água e comida (nem sei quantos já destruiu), só casinhas já teve três...
Como ela é muito danadinha, demos o nome de Kiara ( homenagem a  vilã da novela Passione)
Ela está castrada, uma amiga pagou pra mim. Tinha colocado ela pra adoção, porque no momento estou com quinze cães, mas acho impossível, motivo: seu gênio. Tenho medo que batam nela, não é justo apanhar mais nessa vida, desde bebezinha que sofre maus tratos.
Sei que erro na educação deles, pois não sei me impor, deixo fazer o que querem e com a Kiara isso só favoreceu seu lado: “Ai com eu sô bandida” !
Kiki vai ficar comigo, se um dia aparecer alguém de alma gigante ( e saco de paciência maior ainda), talvez eu deixe ser adotada. Ainda mais que já estou acostumada dormir com a danadinha brigando com “seus amigos imaginários" e o barulho dela comendo a casinha e os potes.
O que importa é ela estar bem, não me incomodo com a bagunça noturna, pra mim são apenas sons de ninar!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

BIBI, pra sempre minha amiga!

Numa tarde, voltando do colégio, conversava com alguns alunos, quando avistei uma cadela branca, magra e com alguns machucados... provavelmente pedradas... eita!
Ela passava na avenida perto da praça, chamei mas ela não me atendeu e perdi ela de vista.
Me contaram que ela foi abandonada no interior da Linha Santo Isidoro, como ninguém a queria por lá, foram espantando, a pedradas é claro (odeio gente ruim pra bicho) e ela acabou no centro da cidade.
Dias depois, o neto da minha vizinha passeava de bicicleta, a cadela seguiu ele e veio parar na minha rua.
Quando a vi, chamei e ela veio medrosa, se deitando toda e abanando o rabinho, corri buscar água e ração e ela não sabia se primeiro matava a sede ou a fome.
Coloquei uma coleira nela e amarrei atrás da minha casa, que era o único espaço parcialmente vago.
Juro, achei que desta vez eu perderia parte da audição, de tanto que minha mãe gritava comigo, ela estava enfurecida...”Outra? Já não chega os que tem aqui? Quero ver achar casa pra essa cadelona, imagina quem que vai querer...” e blábláblá... ufa!
Eu escutava quieta... nessas horas é melhor se fazer de surda mesmo, como explicar pra ela que era mais uma, porque infelizmente ela também precisava de ajuda, afinal já corria boatos que tinha gente querendo matar ela, porque rasgava todos os sacos de lixo das lixeiras mais altas, ela era grande tadinha...
Grande mas não maior que seu coração, nunca vi uma cadela tão amorosa, só que não media o tamanho de sua força e sempre que pulava de alegria quase me desmontava!
Batizei ela de Bibi... no sábado seguinte tomou um banho e aí sim ficou lindona, branquinha... se alimentava bem e logo engordou, parecia uma princesa!
Bibi ficou comigo por mais de seis meses, até o dia que uma  amiga minha, que vende jóias e também gosta muito de bichos, me contou que tinha uma conhecida, na cidade de Fraiburgo que tinha sítio e talvez a adotasse.
Dias depois, era mês de dezembro de 2010, num sábado a tarde, a mulher ligou que viria conhecer a Bibi, eu já comecei a ficar angustiada (rezo pra que sejam adotados e quando chega a hora deles partirem, meu coração começa a ficar apertado... queria ficar com todos...)
Eu e a Nicole demos o banhão nela e ficamos sentadas na garagem, esperando a família vir.
Ela estava mais amorosa do que nunca e não parava de me olhar bem no fundo dos meus olhos, parecia que sabia que iríamos nos despedir.
A família chegou e ela como boa anfitriã, os recebeu com muita festa. Eles gostaram dela e resolveram adotar também um filhotinho que estava pra adoção num sítio, tinham visto a foto dele no meu orkut, (uso este site de relacionamento para divulgar meus álbuns de adoção).
Não consegui evitar as lagrimas ao ver minha Bibi indo embora, mas sabia que era melhor pra ela ter um  sítio imenso pra correr e brincar, aqui ela ficava amarrada curta por falta de espaço... é nessas horas que vejo que só o meu amor não basta pra eles estarem bem.
Na despedida a abracei e beijei e ela me deu muitas lambidas, calorosamente, como fazem grandes amigas. Sei que nunca vamos esquecer uma da outra, pois como diz aquela frase... ”Nossos bons amigos ficam para sempre”!