Em julho de 2012, numa manhã fria e de muito vento, eu estava terminando de limpar a
mesa do café quando ouvi alguém chamar meu nome, fui até o portão e vi que era
a mãe de uma amiga minha.
Disse
ela que uma família mandou me
avisar, sobre dois cães que foram abandonados em frente à casa deles, como são donos
de um estabelecimento, não os queriam por lá e era pra eu ir o quanto antes
busca- los.
Ela
estava visivelmente chateada por me dar o recado, pois sabe que estou sempre
com a casa lotada.
Céus...
quando será que as pessoas vão entender que o Protetor Voluntario não é um
super herói, raramente é rico, que tem sua casa e afazeres como de qualquer pessoa
normal e que nosso lote também tem limites,
pois quem dera que na nossa casa coubesse, tantos anjos abandonados quantos
cabem em nosso coração...
Pedi a ela que quando eles ligassem novamente, era pra avisar que no momento
eu não poderia acolher mais nenhum, por falta de espaço e de recursos
financeiros, afinal não tem ONG, nem prefeitura ou associação que nos ajuda, mas que se eles
fizessem a caridade de acolher os pobrezinhos, à tarde quando meu marido chegasse,
pediria a ele me levar lá pra tirar fotos deles, começando a divulgar a adoção e assim
que abrisse uma vaga eu iria busca- los.
A
senhora mal foi embora, ouvi um carro parando em frente a minha casa, era o
dono da loja que foi logo falando: “Olha Mônica, abandonaram esses cachorros lá e eles se enfiaram dentro do meu
estabelecimento, tentei espantar mas não
vão embora, liguei pra sua vizinha, mas ela me disse que você não quer eles...”
Educadamente
expliquei minha situação: não era caso de não querer ficar com eles, o motivo
era a casa superlotada e recursos financeiros.
Parecia
que eu nem tinha falado nada, pois na maior cara dura disse: ”Bom, se você não quer, então vou extraviar em
outro lugar, porque não quero eles sujando o ‘meu estabelecimento’...“ (eita, nem
sei dizer quantas vezes ele repetiu esta frase durante o tempo que conversamos).
Enquanto eu e o homem conversávamos, os cãezinhos ficavam quietinhos, bem juntinhos, o olhar deles era puro medo... isso arrebenta meu coração de tristeza.
Enquanto eu e o homem conversávamos, os cãezinhos ficavam quietinhos, bem juntinhos, o olhar deles era puro medo... isso arrebenta meu coração de tristeza.
Tentei
argumentar pedindo se ele poderia segurar presos em algum lugar, por apenas uns
dias, uma semana no máximo, nesse meio tempo divulgaria a foto deles e quem
sabe tivessem a sorte de serem adotados antes mesmo de abrir uma vaga aqui.
A essas alturas o homem já estava sem paciência e disse que não.
Expliquei que nem coleira tinha pra tentar amarrar
em algum canto, ate pensar onde coloca- los... ele me olhou bem na cara e num tom
ríspido falou: “Mas eu também não tenho coleira!”
E
já estava fechando o carro pra ir “extraviar” eles em outro lugar...
Vendo
que não tinha jeito de convence- lo a me ajudar por apenas uns dias, resolvi ser
grossa e cínica também e falei: “Então vê se me ajuda pelo menos levar eles ate
a minha lavanderia, se não for pedir muito pra você...”
Assim
que os levamos pra dentro, ele virou as costas e nem muito obrigado ouvi.
Fechei
o portão, indignada com a atitude do homem, voltei na lavanderia me abaixei e
disse: “Então meninos aonde a mamãe vai colocar vocês?”
Neste
momento os dois pularam no meu colo, sentei no chão, subiram nas minhas
pernas, lambendo meu rosto, deram umas voltinhas e se ajeitaram, parecia que já
me conheciam... céus, como não se deixar envolver por uma onda de amor que vem
sei lá da onde?
Chorei
fazendo carinho nos dois, tentando pensar onde colocar mais cães, na minha mãe
já tava cheio, meu canil também, dentro de casa já tenho dois...
Quando
a crise de choro passou, comecei a examinar se não estavam machucados e pra
minha surpresa vi que eram duas menininhas, com os pelos embolados, sujas,
magrinhas, pulguentas, carentes e mesmo assim muito lindas.
Ajeitei
cobertinhas, potes de água e ração, fiz mais um monte de carinho na cabecinha
delas e fechei a porta da lavanderia, afinal precisava soltar o Crock e a
Penélope que ficam dentro de casa e já fazia um tempão que estavam trancados no
meu quarto (com pessoas e animais estranhos infelizmente eles não são nada
sociáveis) e já estavam uivando e tentando derrubar a porta.
Fui
iniciar o almoço, minha cabeça fervia pensando nos nomes... a coisa que mais
gosto depois que acolho e aconchego um animalzinho é pensar que nome darei, amo
fazer isso...
Decidi
então que a de olhinhos escuros se chamaria MISSY e a de olhos verdes seria
WENDY.
Logo
percebi como elas eram inseparáveis, aonde uma ia a outra corria atrás, onde
uma deitava a outra se ajeitava também, cheguei à conclusão que o único lugar
era soltar elas no pátio do canil assim poderiam
ficar juntinhas.
O
ruim é que as baias estavam lotadas e o perigo era que elas iam ter que se fazerem
aceitas por todos eles, que mesmo não frequentando o pátio juntos no mesmo horário
(brigam de se matar), uma hora ou outra durante o dia elas iriam ficar expostas
ao contato de todos...
Decidi
deixar elas na lavanderia ate a hora de fecha- los no canil (toda noite fecho eles, que ficam em baias
separados por afinidade), puxo a lona, além de dormirem mais aconchegados, evito de verem quem passa na rua, diminuído muito o barulho noturno.
Assim
que terminei, soltei as fofinhas no pátio para irem se adaptando
.
Somente na manhã seguinte, começaria a soltar as turmas pra brincarem no parquinho e dar as boas vindas às novas integrantes...
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Somente na manhã seguinte, começaria a soltar as turmas pra brincarem no parquinho e dar as boas vindas às novas integrantes...
Dormi
rezando para o meu amado protetor São Francisco, torcendo que aquelas queridinhas,
não apanhassem muito deles e fossem de
imediato aceitas por toda a "matilha"...
A
noite custou a passar, ficava ouvindo elas correrem pela grama, brincando
faceiras mesmo sendo escuro, afinal estavam de barriguinha cheia e protegidas...
Os
que ficam no canil estavam inquietos, rosnando e muito curiosos, pois mesmo não
vendo nada, tinham sentido o cheiro e ouvido o movimento delas pelo pátio, portanto
já sabiam que novos companheiros haviam chegado...
O
dia mesmo demorando a chegar, trazia a certeza de uma manhã com muitas
novidades.
E que fossem surpresas tão agradáveis, quanto a meiguice das duas princesas borralheiras, que finalmente se aquietaram e dormiam tranquilamente, tão suaves quanto os primeiros raios de sol que começavam a despontar no horizonte!
E que fossem surpresas tão agradáveis, quanto a meiguice das duas princesas borralheiras, que finalmente se aquietaram e dormiam tranquilamente, tão suaves quanto os primeiros raios de sol que começavam a despontar no horizonte!