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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

As Princesas Borralheiras MISSY e WENDY (Parte I)


Em julho de 2012, numa manhã fria e de muito vento, eu estava terminando de limpar a mesa do café quando ouvi alguém chamar meu nome, fui até o portão e vi que era a mãe de uma amiga minha.
Disse ela que uma família mandou me avisar, sobre dois cães que foram abandonados em frente à casa deles, como são donos de um estabelecimento, não os queriam por lá e era pra eu ir o quanto antes busca- los.
Ela estava visivelmente chateada por me dar o recado, pois sabe que estou sempre com a casa lotada.
Céus... quando será que as pessoas vão entender que o Protetor Voluntario não é um super herói, raramente é rico, que tem sua casa e afazeres como de qualquer pessoa normal e que nosso lote também tem limites, pois quem dera que na nossa casa coubesse, tantos anjos abandonados quantos cabem em nosso coração...
Pedi a ela que quando eles ligassem novamente, era pra avisar que no momento eu não poderia acolher mais nenhum, por falta de espaço e de recursos financeiros, afinal não tem ONG, nem prefeitura ou associação que nos ajuda, mas que se eles fizessem a caridade de acolher os pobrezinhos, à tarde quando meu marido chegasse, pediria a ele me levar lá pra tirar fotos deles, começando a divulgar a adoção e assim que abrisse uma vaga eu iria busca- los.
A senhora mal foi embora, ouvi um carro parando em frente a minha casa, era o dono da loja que foi logo falando: “Olha Mônica, abandonaram esses cachorros lá e eles se enfiaram dentro do meu estabelecimento,  tentei espantar mas não vão embora, liguei pra sua vizinha, mas ela me disse que você não quer eles...”
Educadamente expliquei minha situação: não era caso de não querer ficar com eles, o motivo era a casa superlotada e recursos financeiros.
Parecia que eu nem tinha falado nada, pois na maior cara dura disse: ”Bom, se você não quer, então vou extraviar em outro lugar, porque não quero eles sujando o ‘meu estabelecimento’...“ (eita, nem sei dizer quantas vezes ele repetiu esta frase durante o tempo que  conversamos).
Enquanto eu e o homem conversávamos, os cãezinhos ficavam quietinhos, bem juntinhos, o olhar deles era puro medo... isso  arrebenta meu coração de tristeza.
Tentei argumentar pedindo se ele poderia segurar presos em algum lugar, por apenas uns dias, uma semana no máximo, nesse meio tempo divulgaria a foto deles e quem sabe tivessem a sorte de serem adotados antes mesmo de abrir uma vaga aqui.
A essas alturas o homem já estava sem paciência e disse que não.
Expliquei que nem coleira tinha pra tentar amarrar em algum canto, ate pensar onde coloca- los... ele me olhou bem na cara e num tom ríspido falou: “Mas eu também não tenho coleira!”
E já estava fechando o carro pra ir “extraviar” eles em outro lugar...
Vendo que não tinha jeito de convence- lo a me ajudar por apenas uns dias, resolvi ser grossa e cínica também e falei: “Então vê se me ajuda pelo menos levar eles ate a minha lavanderia, se não for pedir muito pra você...”
Assim que os levamos pra dentro, ele virou as costas e nem muito obrigado ouvi.
Fechei o portão, indignada com a atitude do homem, voltei na lavanderia me abaixei e disse: “Então meninos aonde a mamãe vai colocar vocês?”
Neste momento os dois pularam no meu colo, sentei no chão, subiram nas minhas pernas, lambendo meu rosto, deram umas voltinhas e se ajeitaram, parecia que já me conheciam... céus, como não se deixar envolver por uma onda de amor que vem sei lá da onde?
Chorei fazendo carinho nos dois, tentando pensar onde colocar mais cães, na minha mãe já tava cheio, meu canil também, dentro de casa já tenho dois...
Quando a crise de choro passou, comecei a examinar se não estavam machucados e pra minha surpresa vi que eram duas menininhas, com os pelos embolados, sujas, magrinhas, pulguentas, carentes e mesmo assim muito lindas.
Ajeitei cobertinhas, potes de água e ração, fiz mais um monte de carinho na cabecinha delas e fechei a porta da lavanderia, afinal precisava soltar o Crock e a Penélope que ficam dentro de casa e já fazia um tempão que estavam trancados no meu quarto (com pessoas e animais estranhos infelizmente eles não são nada sociáveis) e já estavam uivando e tentando derrubar a porta.
Fui iniciar o almoço, minha cabeça fervia pensando nos nomes... a coisa que mais gosto depois que acolho e aconchego um animalzinho é pensar que nome darei, amo fazer isso...
Decidi então que a de olhinhos escuros se chamaria MISSY e a de olhos verdes seria WENDY.
Logo percebi como elas eram inseparáveis, aonde uma ia a outra corria atrás, onde uma deitava a outra se ajeitava também, cheguei à conclusão que o único lugar era soltar elas no pátio do canil assim poderiam ficar juntinhas.

O ruim é que as baias estavam lotadas e o perigo era que elas iam ter que se fazerem aceitas por todos eles, que mesmo não frequentando o pátio juntos no mesmo horário (brigam de se matar), uma hora ou outra durante o dia elas iriam ficar expostas ao contato de todos...
Decidi deixar elas na lavanderia ate a hora de fecha- los no canil (toda  noite fecho eles, que ficam em baias separados por afinidade), puxo a lona, além de dormirem mais aconchegados, evito de verem quem passa na rua, diminuído muito o barulho noturno.
Assim que terminei, soltei as fofinhas no pátio para irem se adaptando

Somente na manhã seguinte, começaria a soltar as turmas pra brincarem no parquinho e dar as boas vindas às novas integrantes...
Dormi rezando para o meu amado protetor São Francisco, torcendo que aquelas queridinhas, não apanhassem muito deles e  fossem de imediato aceitas por toda a "matilha"...
A noite custou a passar, ficava ouvindo elas correrem pela grama, brincando faceiras mesmo sendo escuro, afinal estavam de barriguinha cheia e protegidas...
Os que ficam no canil estavam inquietos, rosnando e muito curiosos, pois mesmo não vendo nada, tinham sentido o cheiro e ouvido o movimento delas pelo pátio, portanto já sabiam que novos companheiros haviam chegado...
O dia mesmo demorando a chegar, trazia a certeza de uma manhã com muitas novidades.
E que fossem surpresas tão agradáveis, quanto a meiguice das duas princesas borralheiras, que finalmente se aquietaram e dormiam tranquilamente, tão suaves quanto os primeiros raios de sol que começavam a despontar no horizonte!