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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

LOFI chegou para conquistar (Parte II)

No segundo dia em que Lofi morava com a gente, minha mãe ligou pra saber como estávamos, meu irmão atendeu e contou do gato... céus, ela ficou realmente furiosa.  
Pediu pra falar com a Nicole (nem quis papo comigo) e deixou bem claro quando disse: “Podem dar um jeito de se livrar deste gato, que não quero nem o cheiro dele, quando eu chegar em casa com seu avô operado...”
A Niki desligou o telefone e contou o que ela havia dito, nos olhamos e  bem abraçadinhas choramos até dizer chega...
Quando passou um pouco o desespero fomos procurar o Lofi que dormia como um anjinho no sofá.
Meus pais iam demorar ainda quinze dias pra voltar e estávamos divididas entre a angústia de não saber como convencer minha mãe de ficar com o gatinho e a saudades gigantes de ver meu pai.
Passava o dia pensando nisso, ainda mais que eu tinha jurado pra Nicole que ele não iria embora.
Pensei em comprar uma gaiola grande pra por ele, mas não achei. 
Até pedi pro meu sobrinho fazer algo parecido com viveirinho, ele disse que ia tentar, mas como era pequeno, não conseguiu fazer.
Meu desespero aumentava a cada dia que passava, ainda mais que minha mãe ligava com freqüência para dar noticias de meu pai e fazia questão de dizer: ”Já se livraram do gato?”
No dia que minha mãe ia chegar, falei com uma amiga que fazia faculdade comigo, ir até a minha casa. Estávamos quase pirando com o tal TCC.
Pedi a ela que se minha mãe brigasse muito comigo era pra levar o gatinho para sua casa, até ele crescer um pouquinho, que depois eu pegaria ele de volta e o deixaria solto fora de casa.
Quando pisei em casa e vi meu pai até esqueci do Lofi... era tanta saudade. Abracei ele com cuidado pois tinha feito uma cirurgia muito grande, ele me abraçou, foi um abraço fraquinho mas cheio de amor. Meu pai estava muito debilitado tadinho...
Depois de um tempo é que me dei conta de tudo ao meu redor... meu tio que trouxe meus pais pra casa, minha amiga e inacreditavelmente minha mãe com o Lofi no colo.
Eu não sabia nem o que dizer, dei um beijo nela e ouvi: “Cheguei tão atordoada da viagem, que quando me dei conta ele tava no meu colo, coitadinho.
Saí la fora com meu coração tão feliz e aliviado que não via a hora de encontrar a Nicole, que logo chegaria da escola, pra contar a maravilhosa novidade.
Quando vi ela descendo fui correndo e gritando como louca: “ O vô e a Vó chegaram e o Lofi ta no colo da Vó...”
Nos abraçamos emocionadas.
Nicole entrou em casa e quando viu meus pais começou chorar, abraçou e beijou meu pai que também chorava (toda vez que ele precisava viajar e quando voltava a gente se emocionava muito), depois correu beijar e abraçar a avó.
Pegou o Lofi no colo e sentou ao lado do meu pai, onde ficaram um tempão pra colocar todas as novidades em dia, sobre a escola, o Gubi e agora também do gatinho Lofi que com certeza, já era parte da nossa família.
Muitas coisas ainda aconteceriam, mas essa já é outra história pra contar...

LOFI chegou para conquistar (Parte I)

O gato Lofi entrou no momento mais triste de nossas vidas, quando meu pai estava começando a sair dela!
Nossa família sempre foi muito unida e caseira. A falta de dinheiro sempre impediu de fazermos a tão sonhada viagem de férias, mas isso nunca foi motivo pra nos entristecermos, pois só o fato de estarmos juntos bastava!
Nem sei definir o desespero que sentimos, quando em 2004, meu pai foi diagnosticado com câncer. Esta maldita doença que, na minha opinião, não só destrói órgãos, o corpo, mas a esperança pela vida...
As viagens constantes de meus pais à Curitiba para tentar tratar a “maldita”, obrigou a gente a ter que se virar sem eles por perto.
A Nicole então com sete anos, era uma das que mais sentia a falta deles, meu pai a amava muito e lhe fazia todas as vontades. Ele não era só avô, mas um pai presente, coisa que ela nunca teve.
Nossa rotina na época era, acordar cedo, levar a Nicole na minha irmã, pegar o ônibus para Videira e ficar na creche o dia todo, enquanto ela na parte da tarde ia para o colégio. Na sexta a noite e sábado o dia todo ficava na minha irmã, porque eu fazia faculdade em Caçador.
Durante a semana, chegávamos em casa quase juntas e ver ela fechada dava um aperto no coração...
Então à noite eu sempre procurava brincar muito e dar toda atenção do mundo pra minha menininha.
Muitas vezes, na hora de dormir dizia: “Mãe vamos ficar em casa amanhã, não quero que você vá na creche e não quero ir na escola...”
Meu coração ficava pequenininho nessas horas... nem sei quantas vezes esperei ela dormir pra poder chorar, por ter que ficar longe dela o dia todo num momento como aquele, por ficar longe dos meus pais e saber o que  ele estava passando entre as varias operações e quimioterapias que fez... (minha mãe sempre conta do quanto que ele também chorava por ficar longe da gente...)
Quando podia levava ela comigo na creche (mas infelizmente não podia fazer isso com freqüência pra ela não perder aula).
Nossa, esses dias eram pra nós preciosos, pois podíamos ficar juntinhas o dia inteiro. E foi num desses dias que vimos o Lofi pela primeira vez...
Minha colega saia um pouco antes que eu do serviço e convidou a Nicole pra ir até a casa dela, ver uns gatinhos que tinha ganhado.
Quando saí da creche, passei em sua casa pra pegar a Nicole e qual não foi minha surpresa ao ver ela me esperando com um gatinho pequeninho e muito fofo, numa caixinha... minha amiga tinha dado um pra ela.
Seus olhinhos brilhavam tanto de felicidade que eu não consegui segurar as lagrimas...”Mãe olha que lindo o que eu ganhei!”
Como sempre, nem pensei na reação da minha mãe, que estava em Curitiba com meu pai.
Na estrada, parecíamos duas bobinhas, rindo á toa, só imaginando chegar em casa e brincar, beijar, ninar aquela bolinha de pêlos.
No ônibus ela lembrou que ainda não tínhamos dado um nome pra ele, pensamos em vários, até que não sei de onde, ela disse: “LOFI seria legal né mãe”. E assim o batizamos.
Em casa, logo que chegamos, pegamos ele com todo o carinho e fomos apresenta- lo ao Gubi, afinal seriam “futuramente” grandes amigos, porque na hora Gubi não gostou nem um pouco da ideia de dividir a atenção da gente, com aquela coisinha estranha.
A primeira noite de Lofi em casa foi emocionante, nem queríamos ir dormir, só pra ficar brincando com ele.
Arrumamos uma cestinha, uma cobertinha e colocamos ele ao lado da nossa cama. Apesar de toda tristeza que sentíamos, naquela noite dormimos com uma nova alegria no coração!
Mas esse foi só o início de uma linda e triste história...

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

MACACOS nunca mais!

Quando eu era pequena (nove anos mais ou menos), adorava brincar com uma bola vermelha, ela tinha um monte de pedacinhos de borrachas coloridas, pareciam estrelinhas. Era meu brinquedo preferido que eu tinha ganhado da minha tia favorita!
Jogava a bola no gramado ao lado de casa, quando vi um menino passando na rua carregando algo, parecia um gatinho...
Via sempre ele na escola, era um garoto mal- educado, falava um monte de palavrão... não gostava nem um pouco dele.
Mas minha curiosidade foi maior e timidamente perguntei: “Oi... o que você tem no colo?”
Ele com uma cara de “to podendo”, falou: “Um macaquinho!”
Céus... nem acreditei, meu maior sonho era ter, entre tantos bichos, um macaco (era fã número um do filme do Tarzan, só por causa da Chita).
Corri até ele, o macaquinho era muito pequenininho, estava agarradinho na camiseta dele, parecia fraquinho e faminto...
Fiz um monte de perguntas: “Como é o nome dele? Você só tem esse? Onde conseguiu? Posso pegar um pouquinho?”
Ele falou que nem tinha dado nome, só tinha aquele, conseguiu indo no mato com o pai e um nono que morava perto da minha casa e que não ia me deixar pegar ele nem um pouquinho, porque o macaquinho só gostava dele.
Que raiva, imagine se aquele anjinho, tão bebê, ia gostar só dele mesmo, ainda mais “colo de camiseta suja, de garoto que nem banho tomava... eita”.
Triste, vi o menino se afastar, queria tanto um macaquinho...
Resolvi ir na casa do tal nono, pedir pra ele conseguir um macaquinho pra mim também.
Cheguei lá, ele estava com o papagaio, gritavam tanto os dois, que até fiquei com medo de pedir, mas a vontade de ter um macaquinho era tanta...
Ele, não sei por que, falava muito alto e meio enrolado, mas disse que quando fosse no mato de novo ia procurar um.
Eu nem cabia em mim de tanta felicidade.
Decidi contar só pro meu pai, não ia falar nada pra mãe, ela ia brigar comigo, pois algo me dizia que ela não ia gostar nem um pouco do macaquinho.
Meu pai ouviu minha história, mas acho que não levou muito a sério, porque desta vez ele não disse: “Não quero nem ver quando tua mãe souber...”
Passava horas, dias, semanas, só pensando nisso, mas pra minha tristeza, nada de alguém aparecer com meu macaquinho.
Uma noite, já estava quase dormindo, quando ouvi algo inacreditável, meu pai dizia pra minha mãe: “Hoje ganhei um macaco, deixei lá no paiol...”
Meu sono sumiu na hora, se eu na época, não fosse tão medrosa, teria ido aquela hora no paiol ver o macaquinho e que, com certeza meu pai ia dar pra mim... ele sabia o quanto eu queria um...
Ficava imaginado ele sozinho, com medo, tadinho... que nome eu daria? Tuquinha, Chiquinho... bem, isso era melhor ver a carinha dele pra depois decidir!
Acordei com minha irmã caminhando no quarto, ela me olhou ansiosa, percebi que ela queria me contar algo.
Eu tinha certeza que ela queria me falar do macaco, mas como ela quase nunca puxava muito papo comigo, resolvi que iria fazer cara de surpresa quando ela contasse a novidade (que é claro, eu já sabia...).
Disse assim minha irmã: "Mônica, tenho um segredo pra te contar, mas o pai não pode saber que eu te falei...”
Eu toda disfarçada... ”Diga?”
Me lembro tão bem... eu olhava pra ela e já ate poderia ouvir ela dizer que o pai tinha ganhado um macaco...
Mas qual não foi minha surpresa, quando da boca dela ouço: “Eu fiquei menstruada...”
O que?... ora por favor...  um macaquinho sozinho no paiol, precisando de carinho e ela ali, falando aquelas coisas, que eu ainda não entendia direito o que era, mas pelo pouco que sabia, rezava pra que nunca acontecesse aquela desgraça comigo também!
Deixei ela lá, sem entender nada e corri pro paiol.
Procurei em cada cantinho e nada!
Vi meu pai carpindo o lote de cima, fui até lá, já em pânico, avisar que o macaquinho tinha fugido...
Meu pai me encarou com aqueles olhos azuis mais lindos que eu já vi na vida, parecia que não sabia o que eu estava falando...
Eu impaciente... “O macaco pai, que ontem eu ouvi você contar pra mãe...”
Ele rindo muito, largou a enxada e me levou até a porta do paiol...
“Ô filha... olha lá o macaco...”
Olhei na direção que ele apontava e só vi uma coisa de ferro.
“O pai ganhou, ele ta estragado, mas quando arrumar vou usar pra trocar o pneu do nosso carro...”
Nem sei explicar como me senti... era tanta decepção, principalmente comigo mesma, que inocentemente tinha sido traída pela minha própria ignorância.
Pra variar, corri atrás da casa chorar, meu pai veio até lá e me perguntou se eu sabia como aquele piá, tinha conseguido o macaco.
Eu falei que eles acharam no mato.
Ele pacientemente me explicou, que eles pegaram o coitadinho, porque tinham ido no mato caçar bichos e mataram um casal de bugio e como o piá tava junto, pegou o filhote que tava agarrado nas costas da macaca. E que ele sabia que o macaquinho tinha morrido logo depois, porque precisava mamar...
Que horror... eu nem imaginava que era assim que tinha acontecido, que dozinho, ir no mato matar os bichinhos... e o bebezinho coitadinho, morreu de fome, sofrendo sem os pais, que triste!
Sequei minhas lágrimas... corri até a casa do nono e falei que era muito feio o que fizeram com os macacos e que eu não queria mais nenhum...
Acho que peguei ele desprevenido, porque entrei e sai da casa e ele nem falou nada, só ficou me olhando...
Em casa abracei bem forte meu pai e cochichei em seu ouvido:
“Não fica preocupado da mãe brigar com a gente, porque a partir de hoje não se fala de macacos nesta casa nunca mais!”

sábado, 3 de dezembro de 2011

Um segredo chamado GUBI (Parte Final)

Gubi, o segredo mais fofinho que eu e a Nicole já tivemos, cresceu junto com ela.
Era tão lindo ver as estripulias dos dois... brincavam tanto até desabarem no sofá, um mais cansado que o outro.
Quando ficou mais grandinho, começou fazer “aquelas bobeirinhas” que todo cãozinho faz e por azar, as pernas preferidas dele eram as da minha mãe, ela ficava louca da vida.
Nesta época, ela tinha um chinelo verde e passava na bunda dele toda vez que ele ameaçava grudar em suas pernas.
A gente se divertia muito, sempre que ele estava aprontando alguma, era só dizer: “Ai, ai, ai... olha o verdinho da vó...” e ele mais que depressa corria se esconder embaixo do armário e lá ficava espiando, só esperando ela aparecer com o chinelo.
Até que tinha seis meses morava dentro de casa, minha mãe não fazia nem um pouco questão que ele ficasse e dormisse com a gente, mas apesar disso, só foi morar lá fora porque ele mesmo decidiu, eu e a Nicole apesar de tristes, fizemos sua vontade.
As noites não eram mais as mesmas, demoramos a nos acostumar sem ele pulando na cama e derrubando as cobertas no chão.
No começo o deixamos solto de dia e a noite amarrado, mas começou ir muito em volta e voltava sempre machucado... pedradas e até tiro de chumbinho levou, atitudes típicas de povinho ignorante. Decidimos então que ele infelizmente ficaria amarrado sempre.
Meu pai colocou um fio preso de uma árvore a outra, assim ele poderia correr pelo gramado e ver os dois lados da rua (moramos em uma esquina). Continua assim até hoje, de todos os cães que moram aqui (quinze no momento) o lugar mais privilegiado é o dele.
Com o passar dos anos ele conquistou tanto nossa família, que não tem quem não o ame. Meu pai então, o adorava, a gente ria muito, porque quando tinha só a gente em casa, ele fazia um monte de coisas que meu pai pedia: ”senta, deita, dá a patinha..." mas era só chegar um estranho e meu pai queria mostrar como ele era inteligente, que o safado não fazia mais nada...
Quando as visitas iam embora meu pai dizia pra ele: "Gubi jaguarão, hoje me fez passar por mentiroso... quero ver se ainda sabe deitar...” e não é que o danadinho deitava na hora?
Em 2007, sofremos muito com a morte de meu pai e sei que Gubi também, pois era sagrado, todo dia meu pai ia brincar um pouco com ele...
Com a idade Gubi foi ficando doentinho, está com problemas respiratórios e cardíacos, já internamos ele muitas vezes por vários motivos: viroses, extrair dentinhos cariados, operar um tumor perto do pintinho... cada vez que fica doente, morremos de medo de perde- lo.
Hoje ele sente fraqueza nas perninhas, tem um tumor dentro da orelha que deixa ele meio surdinho, não pode mais ser operado porque seu coração não suportará a anestesia. O canal lacrimal dos olhinhos secou e passamos pomadas e colírios duas vezes por dia para evitar que inflame tanto.
O veterinário disse que até ele não ter dor e se alimentar direitinho não será necessário fazer eutanásia.
Graças a São Francisco apesar da idade e dos problemas que tem, ele continua cada dia mais feliz e o melhor, sem dor.
Acho que é de tanto amor que temos por ele. Eu e a Niki nem queremos pensar no dia que será necessário nos despedirmos dele pra sempre. 
Mas infelizmente, quando chegar a hora, tentaremos nos conformar, lembrando com carinho de cada momento vivido ao lado deste amado anjinho e procuraremos conforto nas palavras deste lindo poema, que minha querida amiga me mandou, diz assim:
"Quando amanhã começar sem mim e eu não estiver mais aqui e se o sol nascer e encontrar seus olhos cheios de lágrimas por mim, eu peço muito, não chores. Apesar de saber que seu coração está em dor, lembre e aceite, foi para o meu bem, era meu tempo de ir. Eu sei o quanto você me ama e o tanto quanto eu amo você e a cada momento que em mim você pensar, você vai sentir saudades. Quando amanhã começar sem mim, não pense que estamos distantes, pois a cada instante que em mim você pensar, estou exatamente aqui, dentro do seu coração!".

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Um segredo chamado GUBI (parte I)

Minha filha Nicole veio de um jeito “torto” pra endireitar ainda mais a minha vida!
Na época (1996) quando engravidei, fiquei famosa, pois fui mais comentada que a cantora norte- americana Madonna (que também engravidou na mesma época)... imagine, mãe solteira em cidade pequena...
Mas depois do susto, o amor maternal falou mais alto, deixei de lado essas pequenas coisas, que só gente de mente e coração igualmente pequenos conseguem fazer e passei a viver intensamente cada instante da gravidez.
Era tanto amor que não cabia em mim, conversava tanto com ela ainda na minha barriga, que nem tinha nascido já conhecia todo o mundo que eu vivia.
Sentava horas nos degraus da escada, explicado pra ela como era nossa casa, seu pai, seus avós, tios, primos e principalmente sua priminha, que viria a se tornar sua melhor amiga, a fofa da Maria Isabel.
Detalhava cada bichinho que eu conhecia, não só os de casa, mas os do mundo todo, sua espécie, habitat, até das pintinhas da joaninha eu lhe contava.
E foi desta forma, eu acho, que já nasceu sendo mais que minha filha, mas minha companheirinha, melhor amiga e acima de tudo, minha ajudante voluntária incondicional, nesta luta diária em ajudar os animais.
Quando completou dois anos e meio, passávamos horas, durante a noite, cochichando nosso maior segredinho na época, (ela sempre foi a maior guardadora de segredos que conheço), ter mais um cãozinho em casa. 
Minha mãe não poderia nem sonhar com isso, já tínhamos combinado que ela só saberia quando ele chegasse, de outra forma nossa vida seria um inferno e com certeza nem teria graça esperar tanto por ele.
Nesta época tínhamos o fofo do cão Bumper (contarei a história dele outro dia), mas quando ela nasceu, ele já era adulto e não tinha paciência com crianças. Niki nunca pode brincar muito com ele ou pegar no colo, o danadinho deixava com muito custo passar de leve a mão na cabeça!
Então decidi que quando pegasse férias (na época trabalhava o dia todo na creche na cidade de Videira) eu arrumaria um cãozinho filhotinho pra ela.
Parece mentira, mas naquele tempo era difícil ver cão abandonado, (tinha muitos sofrendo por aí, mas porque seus donos não cuidavam direito) e pra adotar um precisei me informar muito onde conseguir.
Por acaso fiquei sabendo que a cadela de uma amiga, que morava em Videira, ia ter filhotinhos, pedi pra ela segurar um pra mim.
Era preciso esperar nascer e desmamar e isso ia demorar um pouco, mas foi até bom, porque eu precisava estar em casa, pra cuidar dele e nas minhas férias seria a época certa de adota-lo.
O assunto cão era sagrado todas as noites, ficávamos  imaginado, sua cor, carinha, olhinhos, o tipo do pêlo, mas de uma coisa já tínhamos certeza: Gubi seria seu nome e foi a Nicole quem escolheu.
No meu ultimo dia de trabalho, saí da creche e comprei uma coleirinha linda, potes e papel de presente.  Peguei a lotação ate a casa da minha amiga.
Ainda não conhecia o fofinho e segundo ela os mais bonitos já tinham sido adotados.
Quando o vi tentei imaginar os outros, porque ele era simplesmente lindo e muito amadinho.
Era pequeninho e gordinho, todo preto com o pelo crespinho. A única coisa estranha é que tinha uma orelha em pé e a outra caída, minha amiga explicou que foi porque seu pai deu uma chinelada nele e “quebrou” uma orelhinha, tadinho tão bebê e já apanhando... eita que ódio do pai dela.
Enfeitamos uma caixa com o papel de presente, coloquei a coleirinha nele e “empacotamos” o lindinho.
Voltei de ônibus, toda disfarçada, pois é proibido entrar com animais. Ele veio quietinho, acho até que dormiu.
Não via a hora de chegar em casa. A Nicole já sabia que aquele dia ele viria e se eu estava ansiosa pelo encontro dos dois, imagine ela.
A Niki e a Bel estavam lá fora com minha mãe, quando me viram, vieram correndo me encontrar.
Parece que vejo os olhinhos azuis dela, brilhando como nunca quando falou: “Mãe você trouxe o nosso segredo?”
“Ô amada da mãe, acredita que a minha amiga deu todos? Mas pra você não ficar triste, eu te trouxe uma caixa cheinha de chocolate...”
Me arrependi na hora da brincadeira, vi a felicidade sumir dos olhos dela, coloquei a caixa no chão e disse: “Vem... pede pra Bel ajudar você abrir”
Ela veio toda tristinha abrir a caixa, a Bel faceira ajudando... imagine uma caixona cheia de chocolates.
Quando abriram foi muito engraçado de ver a reação das três... a Bel ficou um pouco decepcionada porque queria chocolate, minha mãe quase enfartou e saiu berrando e me xingando, mas ver a alegria da Nicole beijar e abraçar aquele que seria pra sempre seu bichinho preferido, não tem preço, afinal o Gubi é com certeza, até hoje o segredo mais fofo que já tivemos em nossas vidas!

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Más lembranças de um SAPATEIRO!

Há muito tempo atrás, havia na minha cidade uma sapataria.
Minha mãe, às vezes me mandava ir lá, levar ou buscar calçado, mas confesso que odiava... era um lugar pequeno, mas sempre cheio de gente... creio que naquela época, deveria ser o “point” da região.
O que deixava mais sinistro o ambiente, era um couro de cobra imenso, pregado bem no alto e que ocupava quase três paredes, só de olhar sentia arrepios...
Não tenho boas lembranças, nem do local, nem do dono, por dois grandes motivos:
O primeiro é que eu, apesar de não lembrar exatamente minha idade nesta época, pois era muito pequena, lembro claramente daquela tarde, enquanto brincava lá fora, ouvi um homem gritando.
Olhei e mais ou menos duas quadras pra cima da minha casa, o tal sapateiro batia covardemente em uma cadela branca com pintas pretas, ela gritava desesperada, ele a encurralou na valeta e batia muito, com um pedaço de madeira e pedradas, ninguém apareceu pra ajuda- la.
Aquela cena me chocou tanto, que eu queria gritar, mas minha voz parecia presa na garganta, fiquei paralisada de pavor... o homem depois de algum tempo, que pra mim pareceu uma eternidade, foi embora... finalmente consegui chorar e rezava pra que aquilo não tivesse acontecido, que fosse só um sonho... mas cada vez que olhava pra lá, via seu corpo inerte.
Não consegui ir lá ver ela, não tive coragem, era tanto o medo e a tristeza, que eu só pensava... ”se meu pai tivesse aqui, isso não teria acontecido, ele não teria deixado...”
À noite quando meu pai chegou do serviço, não esperei ele na estrada como sempre fazia. 
Quando ele apareceu na porta, corri no seu colo desesperada e contei pra ele. Chorando pedi porque o homem tinha feito aquilo com a coitadinha.
Meu pai me abraçou, disse que não sabia e que também achava aquilo muito triste, mas que era melhor eu parar de chorar e esquecer...
Quisera eu que tivesse sido assim, mal sabia ele, que até hoje carrego comigo a brutalidade daquele dia, que eu infelizmente nunca consegui esquecer!
O segundo grande motivo, foi quando eu já estava com uns dez anos, encontrei um cão grande, parecido com um pastor alemão, já velhinho e com as costas cheias de bernes, (se a gente ficasse olhando nos buracos, dava pra ver aquela coisa nojenta se mexendo lá dentro, tadinho).
Muito manso e querido que apareceu e ninguém sabia de quem era.
Comecei a cuidar dele escondida, conhecia minha mãe o suficiente, pra saber que ela jamais deixaria eu ficar com ele.
Depois, minhas melhores amigas que eram gêmeas, também gostaram dele e resolvemos fazer uma “sociedade” pra cuidar dele.
Com as iniciais dos nossos nomes, batizamos ele de Mogigiu.
Escondemos ele na parte de cima de um paiol que ficava um pouco afastado da casa delas.
O lugar era grande e tinha até uma cama muito velha, onde acomodamos ele, com água e comida... mas ainda tinha os bernes que a gente não sabia o que fazer.
Ele era tão amado e amigo que fazia tudo o que a gente queria, sabia que estávamos cuidando dele e colaborava ficando lá, quietinho.
Infelizmente, dias depois, os pais dela descobriram nosso segredo e junto com minha mãe ouvimos até dizer chega... ”Aonde se viu levar um cachorro lá? E se ele tivesse mordido vocês? E se ele tem alguma doença? Só de olhar da pra ver que ta pestiado! Isso só pode ser coisa da Mônica!" (esta última fala era específica da minha mãe, eita).
Apesar de ninguém querer ele lá, pra nossa alegria, ele não ia embora, mas ainda continuava com os ditos bernes.
Um amiguinho nosso, também querendo ajudar, disse que o avô dele tinha um remédio azul, que espirrava nas vacas quando tinham bicheira, talvez funcionasse no Mogigiu.
Fomos as três lá buscar escondido dos nossos pais, eramos pequenas e até aquele dia nunca tínhamos ido tão longe sozinhas.
O avô do nosso amigo emprestou e um dos irmãos das gêmeas passou nele.
Céus, funcionou e em poucos dias ele estava curado.
Alimentamos, brincamos, passeamos tanto com Mogigiu, que cada lembrança ainda é muito viva em mim.
Até que um dia, eis que Mogigiu desaparece, procuramos por todos os lugares, até que nossos pais, simplesmente comunicaram que o cachorro era do dito sapateiro.
O que?... Não acreditei que deram aquele amado, pra um homem de coração tão ruim, (eu lembrava muito bem o que ele fizera anos atrás com a cadela branca de pintas pretas).
Mas nada do que falamos ou tivéssemos feito, traria ele de volta.
Na minha cabeça muitas perguntas sem resposta:
“Era mesmo ele o dono ou deram pra ele? Levou pra morar em sua casa ou pra dar um fim no cão?”
Pra ser sincera, no fundo, nunca quis descobrir a verdade, medo de me decepcionar ainda mais com as pessoas. A única certeza é que eu nunca mais, se quer soube, como terminou a historia da vida, do querido Mogigiu.
É, relembrando tudo isso, mesmo depois de décadas, continuo convicta que não tenho mesmo, nenhuma boa lembrança do tal sapateiro...

sábado, 19 de novembro de 2011

BLACK o cãozinho que chora.

Preto, Cheidi, Teco... ou sei lá quantos nomes já teve este pequeno... está perdidão por aqui faz tempo, mas para nós é o Black!
Desde que foi largado nas ruas, já passou por algumas casas, até que encontrou um senhor que o adotou e dizia gostar muito dele.
Mas viaja e ficava pouco por aqui. Um dia foi embora com sua família pra outra cidade.
Deixou uma senhora pra cuidar dele, mas como não queria ficar amarrado, ela soltou e ele voltou a vagar pelas ruas... e desde então, tem passado por nem tão poucas e boas assim!
Pegou espinho de ouriço duas vezes... eita teimoso, será que na primeira vez, não aprendeu que  aquela bolinha de espinhos, que parece legal de brincar, na verdade é um grande perigo?).
Mas entre pedradas e gritos que ganha gratuitamente por aí (sim, de graça mesmo, porque é um amorzinho, não merecia tanto desaforo), o pior que já lhe aconteceu foi ser atropelado...
O danado nunca ficou amarrado e quando a gente tentava prende- lo, ele gritava muito. É engraçado porque ele não acoa, uiva o tempo todo, o Gabi diz que ele parece a sirene do SAMU.
Era o primeiro sábado do mês de setembro deste ano, finalzinho de tarde, eu estava recolhendo a roupa quando ouvi os gritos dele, na hora não dei bola porque sei que ele acoa escandalosamente, mas logo a Niki e um senhor vieram com ele machucado, disse o homem que ele rolou muito embaixo do carro...
Quase tive um ataque histérico... ele gritava muito, estava com um corte no fucinho e perto da orelha, mas o que mais me apavarou é que saia muito sangue do pintinho dele.
Quero ser forte, mas não consigo e choro mesmo e não adianta brigar comigo, a pena e o desespero que sinto é maior do que meu bom senso.
O homem me contou que a mulher que atropelou, nem parou pra ver ele.
Tempos depois descobri, que ela falou que não parou porque não viu, ofuscada pelo sol da tarde... hunf... sol deixa surda também pelo jeito, porque será que não ouviu quando passou por cima dele?
Liguei desesperada pro Gabi, ele estava trabalhando em Pinheiro Preto (cidade próxima) e demorou um pouco para vir.
Ele me olhava desesperado e não tinha sossego, só que cada vez que se mexia gritava cada vez mais.
Quando o Gabi chegou, colocamos ele com muito custo no porta malas, ele de dor queria morder a gente e corremos pro veterinário.
Pra tirar ele do carro, o ajudante do veterinário teve que pegar focinheira. Black estava fraquinho mais ainda gritava muito, foi examinado e várias suspeitas: bexiga estourada ou outro órgão interno.
Deixei ele e meu coração lá, vim embora triste, ele é muito querido e manhoso, não era justo sofrer assim.
Ligava todo dia e ainda bem, não foi nenhum órgão estourado, apesar de medicado, gritava muito de dor, nada acalmava.
Pedi pro veterinário examinar os olhinhos dele, desde que o recolhi sempre estavam lacrimejando, eu achava que ele estava com alguma infecção, qual não foi minha surpresa, quando o veterinário me explicou que eram lagrimas sim, mas de choro, ele é uma cão manhoso e muito depressivo, tadinho!
Ele também é manhoso pra comer, não gosta de ração e a comida preferida é arroz fresquinho e carne, lá davam ração e ele ficou muito tempo quase sem comer, voltou magrinho.
Ficou uma semana internado, teve alta, fomos buscar, mas gritou tanto a noite inteira que no outro dia internamos ele de novo e ficou ao todo vinte dias na clínica.
O dia que ele voltou pra casa, no mesmo dia internei meu Miau ( que acabou falecendo com problema renal, ainda não me conformo).
Black ainda tomando remédio, chorou de dor por quase um mês, ainda hoje, conforme se mexe dá uns gritos que a gente até se assusta.
Como ele não se mexia muito, amarrei ele e por não conseguir andar direito acabou aceitando.
Hoje depois de muito sofrimento Black melhorou, está cada dia mais feliz... as vezes ainda chora de manhoso, mas faço um monte de carinho e logo passa e o melhor, aprendeu a ficar amarrado.
Por falta de espaço, fiz uma cama pra ele na garagem e como não gosta de vento, cubro com uma coberta presa em cadeiras, parece uma cabaninha de favelado, mas é lá que ele  fica quietinho a noite toda. 
De dia coloco ele embaixo de um pé de jasmim, com panos, água e comida, ele adora ficar lá, pode ver a rua e cada pessoa que passa ele liga a sirene avisando, o que gera uma confusão, pois toda vez que ele da sinal de alerta, os meus outros cães (quinze ao todo no momento), gritam muito e uivam também, é uma loucura, parece mesmo uma casa de loucos como diz minha mãe.
Dizem que um dia, o senhor que tinha adotado ele, vai voltar a morar aqui, mas mesmo que isso não vier acontecer, fico eu com este manhoso, depressivo, chorão, mais amado do mundo, que ainda por cima pensa que é a ambulância do SAMU!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Um TIGRE e muita correria!

Naquela época, a tarde, eu trabalhava em dois locais, no Colégio e com uma turminha no prédio da Prefeitura, que fica no alto do morro, um local bem lindo, da pra ver boa parte da cidade.
Era uma sexta feira, inverno de 2009.
Subi até lá de carona com uma amiga, quando descemos do carro, vi um cachorro enorme no pátio.
Minha amiga disse: “Que medo dele, faz dias que tá por aqui, ninguém sabe de quem é, ouvi dizer que se ele não for embora  vão mata- lo, porque é um perigo, com os alunos correndo por aqui...”
Pronto, meu dia tava acabado, o sinal já tinha batido e os alunos me esperavam na sala.
Eu tinha duas aulas com eles, que pareceu uma eternidade. Assim que acabou, corri no pátio, atrás dele e maiores informações. Vi uma outra professora, ela faz o mesmo comentário que a minha amiga.
Ele era muito grande e lindo, mas faminto, cheirava em todos os cantos como alucinado e já estava emagrecendo, também fazia três dias que estava lá e ninguém tinha lhe dado comida, queriam que assim ele fosse embora.
Expliquei pra elas avisarem os homens que trabalhavam lá, que não fizessem nada com ele, naquele mesmo dia eu daria um jeito.
Eu tinha uma aula de folga e o recreio, antes de retornar a sala no colégio de baixo, tempo suficiente pra comprar potes e ração pra ele.
Desci o morro como louca, até o mercado, comprei duas bacias, um pacote de bifinho canino e  2 Kg de ração.
Subi correndo o morro de novo, a essas alturas eu estava já com os “bofes pra fora”, não tenho estrutura pra tanto esforço físico, mas era preciso.
Chegando no pátio, uma outra funcionaria me vê e diz: Mônica, já viu o “demonho” do cachorro que apareceu aqui?
Quase disse: “o cachorro vi antes, o ‘demonho ‘ to vendo agora...” mas me segurei.
Ela me garantiu que sabia de quem ele era e falou o nome da dona. 
Eu falei que não era dela, pois conhecia o cachorro daquela família, era grande assim e a cor também, mas tinha a boca mais escura, uma mancha branca no peito e seu nome era Lupi.
A teimosa me deu certeza absoluta que era daquela casa.
Bem, talvez eu estivesse enganada...
Chamei pelo nome de Lupi ele nem me deu bola, só prestou atenção em mim quando mostrei os bifinhos, céus, comia como louco.
Avisei que ia levar ele pra casa da suposta família, já que a mulher ainda teimava que era deles.
Ele me seguia todo feliz, mas cada pouco me dava uma patada nas costas, queria mais um pedaço de bifinho. 
Era uma tarde muito fria, mas eu suava debaixo de tanta roupa, ainda carregava a bolsa de aula, as bacias e a ração. Caia uma garoa fininha, dessas que não molha muito, mas deixa os cabelos que é uma coisa. Como eu tinha ido de carona, não tinha nem levado guarda- chuva.
Chegando perto da casa da mulher, vejo um aluno meu que estudava de manhã, ele diz: "Profe, ta indo aonde com esse cachorrão?"
“Oi querido, a pro vai levar aí nessa casa, disseram que é daí que ele fugiu”.
O garoto olhou pra baixo da cerca e disse: “Não é não Pro, o Lupi tá aí e tá me olhando...”
Céus, o que eu ia fazer agora? Juro que se tivesse tempo voltava lá e esganava aquela linguaruda teimosa...
Ele tava todo meu amigo, tadinho, era só eu dar um passo que ele me seguia, ele era tão bonito e com cara de querido, que eu nem tinha medo de abraça- lo.
Olhei na rua de baixo e tive uma idéia, pedi pro menino me ajudar a distrair ele dentro do cemitério, pra que eu tivesse tempo de voltar pra escola e dar as ultimas aulas (tinha medo que ele me seguisse, aquelas alturas já devia ser hora do recreio, seria loucura chegar lá com aquele cachorrão e tanta criança correndo no pátio).
Entramos no cemitério, sabia que não era lugar de eu deixar ele, mas seria por pouco tempo. Meu aluno encheu uma bacia de água, na outra eu coloquei a ração e enquanto ele se distraia matando a fome, nós dois corríamos como loucos.
Cheguei no colégio acabada, suja, molhada e nem respirava mais, me olhei no espelho do banheiro estava até pálida. 
Me limpei como pude, ajeitei os cabelos e entrei toda disfarçada na sala dos professores, não adiantou... ”Nossa Mônica, se pegou no meio de um furacão?"
Acabei contando o que tinha acontecido, todo mundo riu, mas ninguém se espantou, vindo de mim era de se esperar, disse uma delas.
O sinal bateu e nem deu tempo de terminar de lanchar.
Na sala enquanto os alunos faziam a atividade que eu tinha proposto, uma mocinha que era ajudante da sala, disse: “Profe Môni, o cão que você falou é um bem grande e marrom?”
“Sim, porque?”
“Porque ele ta aí fora da janela, olhando pra dentro da sala de aula!”
Não acreditei, fui até a janela, lá tava ele, todo feliz em me ver, abanando o rabinho, veio até a janela, sujou toda a parede. Ele só podia ter seguido meu cheiro.
Faltava pouco para acabar as aulas, pedi licença e fui correndo de sala em sala, pedir para os alunos, quando saíssem, não mexessem nem passassem perto de uma cachorro que tava lá fora.
A noite eu tinha aula também, então pensei em deixar ele lá e ver se algum aluno não gostaria de adota- lo.
Vim embora sem que ele me visse, tinha medo de trazer ele até minha casa, meus cães eram pequenos mas muito metidos, iam querem brigar com ele, seria uma tragédia.
A noite levei uma turma lá fora ver ele, estava deitado na grama, embaixo do parquinho. 
Um aluno gostou e resolveu levar ele naquela hora. Contei pra Diretora e ela liberou dois alunos para levaram ele. 
Foi amarrado fora do carro, seguiam devagarzinho, ele acompanhava, (o que diretora não sabe até hoje é que a cordinha que os danados pegaram, era a do mastro de hastear a bandeira).
Nesta hora relaxei e vi o quanto estava cansada, mas feliz, ele não era mais perigo, e ninguém ia matar o grandão.
Mas qual não foi minha surpesa, quando uma semana depois, liga na minha casa uma mulher dizendo que o cão era da sogra dela, eita... porque não procuraram antes? Ficou três dias correndo risco de vida no pátio da escola ( me disseram mais tarde, que naquele mesmo dia, depois da aula iam dar um fim nele).
Lá vai eu de novo atrás do aluno, que a esta altura nem queria mais devolver.
Quando ele voltou para casa eu e o Gabi fomos visita- lo. 
Descobri então que seu nome era Tigre e segundo a dona era muito bravo, ela se espantou de ver como ele me gostava. Pedi pra tirar uma foto dele para ter de recordação, o amadinho ficava fazendo pose, ele já tinha engordado, seu pelo estava brilhando!
Tempos depois o casal que já é de idade acabou dando ele, porque estava cada vez mais forte e era difícil de cuidar dele...
Dizem que foi ser cão de guarda de uma granja, querido, espero que esteja bem, apesar de todo o trabalhão, valeu a pena cada esforço pra salvar a vida daquele meu Grande Amigão!

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Cadê as pernas de COTINHA?

Entrei apressada dentro de casa, estava morrendo de sede. Minha mãe passava roupa e minha irmã a ajudava...
Não conseguia entender o comportamento de minha irmã, tem só um ano e pouco a mais do que eu, mas  somos completamente diferentes, (eu estava com uns oito anos nesta época). 
Ela, na minha opinião, sempre foi uma adulta em miniatura, raramente brincávamos juntas, só queria saber de ajudar a mãe, adorava fazer serviço doméstico... que coisa mais chata!
Enfim... eu tomava água, quando casualmente minha mãe disse... ”amanhã tenho que matar uma galinha, vi hoje que ela perdeu as pernas...”
Que mania os adultos tem de falar frase de duplo sentido, eu na minha ingenuidade que chegava a ser patética, pensei... ”ah, mas não vai matar mesmo, vou subir no galinheiro agora, procurar as pernas dela!”
Chegando lá vi aquele bando de galinhas e logo percebi uma magrinha parada, cheguei perto, todas corriam cacarejando como loucas, ela mesmo assustada, ficou paradinha ...só podia ser a tal distraída que tinha perdido as perninhas...procurei por todos os cantos e nada, cheguei a conclusão, que algum bicho (provavelmente raposa) tinha roubado suas pernas.
Desci correndo e disse pra mãe não matar ela e contei o que eu achava da historia, ela riu, me chamou de boba e me explicou que a galinha estava com as pernas, só que tinha ”pestiado” e não ia andar mais, como não ia mais conseguir se alimentar, ia mata-la.
Subi e fiquei olhando pra ela... que dó senti da coitadinha.
Entrei lá, peguei ela no colo e levei até aonde estava os grãos de milho, ela catou um monte, estava com fome, peguei no colo de novo e levei até a água, bebia sem parar... fiquei feliz. Havia encontrado um jeito de minha mãe não matar a pobrezinha, ia cuida- la, seria as suas pernas daquele dia em diante.
Dei- lhe o nome de Cotinha e a partir daquele dia, ela passou a ser mais que especial, (muitos anos depois, quando li o livro O Pequeno Príncipe, na parte do menino e a raposa, me identifiquei com Cotinha).
Subia várias vezes por dia, para alimenta- la e como gostava dela acabava ficando um tempão no galinheiro. Ela sabia que era eu que subia, acho que conhecia até meus passos e cacarejava feliz!
Logo Cotinha engordou, ficou grandona e pesada.
Eu não fazia mais nada sem antes cuidar da galinha, afinal ela só podia contar comigo. Acordava cedo, soltava as galinhas no cercado, alimentava Cotinha, ficava um tempão com ela e colocava na sombra... isso acontecia varias vezes por dia, minha mãe se estressava... ”Mônica, faz o que tanto naquele galinheiro, não tem outra coisa pra fazer?”
Tinha sim... ir obrigada pra escola, o que na época eu achava chato demais (nem me passava pela cabeça, no futuro ser professora).
Uma tarde, chegando apressada da escola, não via a hora de ver Cotinha, qual não foi o meu susto quando não a encontrei, revirei o galinheiro e nada de achar ela, desci chorando contar pra mãe que tinham me roubado a galinha.
Ela respodeu seca... ela morreu!
Como morreu? Estava gorda, bonita, feliz antes de eu ir pra escola...
Disse ela que subiu e a encontrou morta, ainda hoje acho que foi ela que matou e provavelmente jogou Cotinha fora, minha mãe jamais comeria uma galinha assim... sei que se irritava em ver, que eu nem brincava mais pra cuidar da galinha, mas custava entender que era assim que eu me sentia feliz...?
Chorei por dias a falta da minha amiguinha, me sentia perdida, os momentos que eu passava com ela ficaram vazios... nada preenchia.
Tento entender certas atitudes das pessoas, achavam estranho eu perder tanto tempo com uma galinha “pestiada”, mas não achavam estranho me ver sofrendo de saudades dela... é... vai entender!