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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Cadê as pernas de COTINHA?

Entrei apressada dentro de casa, estava morrendo de sede. Minha mãe passava roupa e minha irmã a ajudava...
Não conseguia entender o comportamento de minha irmã, tem só um ano e pouco a mais do que eu, mas  somos completamente diferentes, (eu estava com uns oito anos nesta época). 
Ela, na minha opinião, sempre foi uma adulta em miniatura, raramente brincávamos juntas, só queria saber de ajudar a mãe, adorava fazer serviço doméstico... que coisa mais chata!
Enfim... eu tomava água, quando casualmente minha mãe disse... ”amanhã tenho que matar uma galinha, vi hoje que ela perdeu as pernas...”
Que mania os adultos tem de falar frase de duplo sentido, eu na minha ingenuidade que chegava a ser patética, pensei... ”ah, mas não vai matar mesmo, vou subir no galinheiro agora, procurar as pernas dela!”
Chegando lá vi aquele bando de galinhas e logo percebi uma magrinha parada, cheguei perto, todas corriam cacarejando como loucas, ela mesmo assustada, ficou paradinha ...só podia ser a tal distraída que tinha perdido as perninhas...procurei por todos os cantos e nada, cheguei a conclusão, que algum bicho (provavelmente raposa) tinha roubado suas pernas.
Desci correndo e disse pra mãe não matar ela e contei o que eu achava da historia, ela riu, me chamou de boba e me explicou que a galinha estava com as pernas, só que tinha ”pestiado” e não ia andar mais, como não ia mais conseguir se alimentar, ia mata-la.
Subi e fiquei olhando pra ela... que dó senti da coitadinha.
Entrei lá, peguei ela no colo e levei até aonde estava os grãos de milho, ela catou um monte, estava com fome, peguei no colo de novo e levei até a água, bebia sem parar... fiquei feliz. Havia encontrado um jeito de minha mãe não matar a pobrezinha, ia cuida- la, seria as suas pernas daquele dia em diante.
Dei- lhe o nome de Cotinha e a partir daquele dia, ela passou a ser mais que especial, (muitos anos depois, quando li o livro O Pequeno Príncipe, na parte do menino e a raposa, me identifiquei com Cotinha).
Subia várias vezes por dia, para alimenta- la e como gostava dela acabava ficando um tempão no galinheiro. Ela sabia que era eu que subia, acho que conhecia até meus passos e cacarejava feliz!
Logo Cotinha engordou, ficou grandona e pesada.
Eu não fazia mais nada sem antes cuidar da galinha, afinal ela só podia contar comigo. Acordava cedo, soltava as galinhas no cercado, alimentava Cotinha, ficava um tempão com ela e colocava na sombra... isso acontecia varias vezes por dia, minha mãe se estressava... ”Mônica, faz o que tanto naquele galinheiro, não tem outra coisa pra fazer?”
Tinha sim... ir obrigada pra escola, o que na época eu achava chato demais (nem me passava pela cabeça, no futuro ser professora).
Uma tarde, chegando apressada da escola, não via a hora de ver Cotinha, qual não foi o meu susto quando não a encontrei, revirei o galinheiro e nada de achar ela, desci chorando contar pra mãe que tinham me roubado a galinha.
Ela respodeu seca... ela morreu!
Como morreu? Estava gorda, bonita, feliz antes de eu ir pra escola...
Disse ela que subiu e a encontrou morta, ainda hoje acho que foi ela que matou e provavelmente jogou Cotinha fora, minha mãe jamais comeria uma galinha assim... sei que se irritava em ver, que eu nem brincava mais pra cuidar da galinha, mas custava entender que era assim que eu me sentia feliz...?
Chorei por dias a falta da minha amiguinha, me sentia perdida, os momentos que eu passava com ela ficaram vazios... nada preenchia.
Tento entender certas atitudes das pessoas, achavam estranho eu perder tanto tempo com uma galinha “pestiada”, mas não achavam estranho me ver sofrendo de saudades dela... é... vai entender!

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