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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Um TIGRE e muita correria!

Naquela época, a tarde, eu trabalhava em dois locais, no Colégio e com uma turminha no prédio da Prefeitura, que fica no alto do morro, um local bem lindo, da pra ver boa parte da cidade.
Era uma sexta feira, inverno de 2009.
Subi até lá de carona com uma amiga, quando descemos do carro, vi um cachorro enorme no pátio.
Minha amiga disse: “Que medo dele, faz dias que tá por aqui, ninguém sabe de quem é, ouvi dizer que se ele não for embora  vão mata- lo, porque é um perigo, com os alunos correndo por aqui...”
Pronto, meu dia tava acabado, o sinal já tinha batido e os alunos me esperavam na sala.
Eu tinha duas aulas com eles, que pareceu uma eternidade. Assim que acabou, corri no pátio, atrás dele e maiores informações. Vi uma outra professora, ela faz o mesmo comentário que a minha amiga.
Ele era muito grande e lindo, mas faminto, cheirava em todos os cantos como alucinado e já estava emagrecendo, também fazia três dias que estava lá e ninguém tinha lhe dado comida, queriam que assim ele fosse embora.
Expliquei pra elas avisarem os homens que trabalhavam lá, que não fizessem nada com ele, naquele mesmo dia eu daria um jeito.
Eu tinha uma aula de folga e o recreio, antes de retornar a sala no colégio de baixo, tempo suficiente pra comprar potes e ração pra ele.
Desci o morro como louca, até o mercado, comprei duas bacias, um pacote de bifinho canino e  2 Kg de ração.
Subi correndo o morro de novo, a essas alturas eu estava já com os “bofes pra fora”, não tenho estrutura pra tanto esforço físico, mas era preciso.
Chegando no pátio, uma outra funcionaria me vê e diz: Mônica, já viu o “demonho” do cachorro que apareceu aqui?
Quase disse: “o cachorro vi antes, o ‘demonho ‘ to vendo agora...” mas me segurei.
Ela me garantiu que sabia de quem ele era e falou o nome da dona. 
Eu falei que não era dela, pois conhecia o cachorro daquela família, era grande assim e a cor também, mas tinha a boca mais escura, uma mancha branca no peito e seu nome era Lupi.
A teimosa me deu certeza absoluta que era daquela casa.
Bem, talvez eu estivesse enganada...
Chamei pelo nome de Lupi ele nem me deu bola, só prestou atenção em mim quando mostrei os bifinhos, céus, comia como louco.
Avisei que ia levar ele pra casa da suposta família, já que a mulher ainda teimava que era deles.
Ele me seguia todo feliz, mas cada pouco me dava uma patada nas costas, queria mais um pedaço de bifinho. 
Era uma tarde muito fria, mas eu suava debaixo de tanta roupa, ainda carregava a bolsa de aula, as bacias e a ração. Caia uma garoa fininha, dessas que não molha muito, mas deixa os cabelos que é uma coisa. Como eu tinha ido de carona, não tinha nem levado guarda- chuva.
Chegando perto da casa da mulher, vejo um aluno meu que estudava de manhã, ele diz: "Profe, ta indo aonde com esse cachorrão?"
“Oi querido, a pro vai levar aí nessa casa, disseram que é daí que ele fugiu”.
O garoto olhou pra baixo da cerca e disse: “Não é não Pro, o Lupi tá aí e tá me olhando...”
Céus, o que eu ia fazer agora? Juro que se tivesse tempo voltava lá e esganava aquela linguaruda teimosa...
Ele tava todo meu amigo, tadinho, era só eu dar um passo que ele me seguia, ele era tão bonito e com cara de querido, que eu nem tinha medo de abraça- lo.
Olhei na rua de baixo e tive uma idéia, pedi pro menino me ajudar a distrair ele dentro do cemitério, pra que eu tivesse tempo de voltar pra escola e dar as ultimas aulas (tinha medo que ele me seguisse, aquelas alturas já devia ser hora do recreio, seria loucura chegar lá com aquele cachorrão e tanta criança correndo no pátio).
Entramos no cemitério, sabia que não era lugar de eu deixar ele, mas seria por pouco tempo. Meu aluno encheu uma bacia de água, na outra eu coloquei a ração e enquanto ele se distraia matando a fome, nós dois corríamos como loucos.
Cheguei no colégio acabada, suja, molhada e nem respirava mais, me olhei no espelho do banheiro estava até pálida. 
Me limpei como pude, ajeitei os cabelos e entrei toda disfarçada na sala dos professores, não adiantou... ”Nossa Mônica, se pegou no meio de um furacão?"
Acabei contando o que tinha acontecido, todo mundo riu, mas ninguém se espantou, vindo de mim era de se esperar, disse uma delas.
O sinal bateu e nem deu tempo de terminar de lanchar.
Na sala enquanto os alunos faziam a atividade que eu tinha proposto, uma mocinha que era ajudante da sala, disse: “Profe Môni, o cão que você falou é um bem grande e marrom?”
“Sim, porque?”
“Porque ele ta aí fora da janela, olhando pra dentro da sala de aula!”
Não acreditei, fui até a janela, lá tava ele, todo feliz em me ver, abanando o rabinho, veio até a janela, sujou toda a parede. Ele só podia ter seguido meu cheiro.
Faltava pouco para acabar as aulas, pedi licença e fui correndo de sala em sala, pedir para os alunos, quando saíssem, não mexessem nem passassem perto de uma cachorro que tava lá fora.
A noite eu tinha aula também, então pensei em deixar ele lá e ver se algum aluno não gostaria de adota- lo.
Vim embora sem que ele me visse, tinha medo de trazer ele até minha casa, meus cães eram pequenos mas muito metidos, iam querem brigar com ele, seria uma tragédia.
A noite levei uma turma lá fora ver ele, estava deitado na grama, embaixo do parquinho. 
Um aluno gostou e resolveu levar ele naquela hora. Contei pra Diretora e ela liberou dois alunos para levaram ele. 
Foi amarrado fora do carro, seguiam devagarzinho, ele acompanhava, (o que diretora não sabe até hoje é que a cordinha que os danados pegaram, era a do mastro de hastear a bandeira).
Nesta hora relaxei e vi o quanto estava cansada, mas feliz, ele não era mais perigo, e ninguém ia matar o grandão.
Mas qual não foi minha surpesa, quando uma semana depois, liga na minha casa uma mulher dizendo que o cão era da sogra dela, eita... porque não procuraram antes? Ficou três dias correndo risco de vida no pátio da escola ( me disseram mais tarde, que naquele mesmo dia, depois da aula iam dar um fim nele).
Lá vai eu de novo atrás do aluno, que a esta altura nem queria mais devolver.
Quando ele voltou para casa eu e o Gabi fomos visita- lo. 
Descobri então que seu nome era Tigre e segundo a dona era muito bravo, ela se espantou de ver como ele me gostava. Pedi pra tirar uma foto dele para ter de recordação, o amadinho ficava fazendo pose, ele já tinha engordado, seu pelo estava brilhando!
Tempos depois o casal que já é de idade acabou dando ele, porque estava cada vez mais forte e era difícil de cuidar dele...
Dizem que foi ser cão de guarda de uma granja, querido, espero que esteja bem, apesar de todo o trabalhão, valeu a pena cada esforço pra salvar a vida daquele meu Grande Amigão!

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