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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

As Princesas Borralheiras MISSY e WENDY (Parte I)


Em julho de 2012, numa manhã fria e de muito vento, eu estava terminando de limpar a mesa do café quando ouvi alguém chamar meu nome, fui até o portão e vi que era a mãe de uma amiga minha.
Disse ela que uma família mandou me avisar, sobre dois cães que foram abandonados em frente à casa deles, como são donos de um estabelecimento, não os queriam por lá e era pra eu ir o quanto antes busca- los.
Ela estava visivelmente chateada por me dar o recado, pois sabe que estou sempre com a casa lotada.
Céus... quando será que as pessoas vão entender que o Protetor Voluntario não é um super herói, raramente é rico, que tem sua casa e afazeres como de qualquer pessoa normal e que nosso lote também tem limites, pois quem dera que na nossa casa coubesse, tantos anjos abandonados quantos cabem em nosso coração...
Pedi a ela que quando eles ligassem novamente, era pra avisar que no momento eu não poderia acolher mais nenhum, por falta de espaço e de recursos financeiros, afinal não tem ONG, nem prefeitura ou associação que nos ajuda, mas que se eles fizessem a caridade de acolher os pobrezinhos, à tarde quando meu marido chegasse, pediria a ele me levar lá pra tirar fotos deles, começando a divulgar a adoção e assim que abrisse uma vaga eu iria busca- los.
A senhora mal foi embora, ouvi um carro parando em frente a minha casa, era o dono da loja que foi logo falando: “Olha Mônica, abandonaram esses cachorros lá e eles se enfiaram dentro do meu estabelecimento,  tentei espantar mas não vão embora, liguei pra sua vizinha, mas ela me disse que você não quer eles...”
Educadamente expliquei minha situação: não era caso de não querer ficar com eles, o motivo era a casa superlotada e recursos financeiros.
Parecia que eu nem tinha falado nada, pois na maior cara dura disse: ”Bom, se você não quer, então vou extraviar em outro lugar, porque não quero eles sujando o ‘meu estabelecimento’...“ (eita, nem sei dizer quantas vezes ele repetiu esta frase durante o tempo que  conversamos).
Enquanto eu e o homem conversávamos, os cãezinhos ficavam quietinhos, bem juntinhos, o olhar deles era puro medo... isso  arrebenta meu coração de tristeza.
Tentei argumentar pedindo se ele poderia segurar presos em algum lugar, por apenas uns dias, uma semana no máximo, nesse meio tempo divulgaria a foto deles e quem sabe tivessem a sorte de serem adotados antes mesmo de abrir uma vaga aqui.
A essas alturas o homem já estava sem paciência e disse que não.
Expliquei que nem coleira tinha pra tentar amarrar em algum canto, ate pensar onde coloca- los... ele me olhou bem na cara e num tom ríspido falou: “Mas eu também não tenho coleira!”
E já estava fechando o carro pra ir “extraviar” eles em outro lugar...
Vendo que não tinha jeito de convence- lo a me ajudar por apenas uns dias, resolvi ser grossa e cínica também e falei: “Então vê se me ajuda pelo menos levar eles ate a minha lavanderia, se não for pedir muito pra você...”
Assim que os levamos pra dentro, ele virou as costas e nem muito obrigado ouvi.
Fechei o portão, indignada com a atitude do homem, voltei na lavanderia me abaixei e disse: “Então meninos aonde a mamãe vai colocar vocês?”
Neste momento os dois pularam no meu colo, sentei no chão, subiram nas minhas pernas, lambendo meu rosto, deram umas voltinhas e se ajeitaram, parecia que já me conheciam... céus, como não se deixar envolver por uma onda de amor que vem sei lá da onde?
Chorei fazendo carinho nos dois, tentando pensar onde colocar mais cães, na minha mãe já tava cheio, meu canil também, dentro de casa já tenho dois...
Quando a crise de choro passou, comecei a examinar se não estavam machucados e pra minha surpresa vi que eram duas menininhas, com os pelos embolados, sujas, magrinhas, pulguentas, carentes e mesmo assim muito lindas.
Ajeitei cobertinhas, potes de água e ração, fiz mais um monte de carinho na cabecinha delas e fechei a porta da lavanderia, afinal precisava soltar o Crock e a Penélope que ficam dentro de casa e já fazia um tempão que estavam trancados no meu quarto (com pessoas e animais estranhos infelizmente eles não são nada sociáveis) e já estavam uivando e tentando derrubar a porta.
Fui iniciar o almoço, minha cabeça fervia pensando nos nomes... a coisa que mais gosto depois que acolho e aconchego um animalzinho é pensar que nome darei, amo fazer isso...
Decidi então que a de olhinhos escuros se chamaria MISSY e a de olhos verdes seria WENDY.
Logo percebi como elas eram inseparáveis, aonde uma ia a outra corria atrás, onde uma deitava a outra se ajeitava também, cheguei à conclusão que o único lugar era soltar elas no pátio do canil assim poderiam ficar juntinhas.

O ruim é que as baias estavam lotadas e o perigo era que elas iam ter que se fazerem aceitas por todos eles, que mesmo não frequentando o pátio juntos no mesmo horário (brigam de se matar), uma hora ou outra durante o dia elas iriam ficar expostas ao contato de todos...
Decidi deixar elas na lavanderia ate a hora de fecha- los no canil (toda  noite fecho eles, que ficam em baias separados por afinidade), puxo a lona, além de dormirem mais aconchegados, evito de verem quem passa na rua, diminuído muito o barulho noturno.
Assim que terminei, soltei as fofinhas no pátio para irem se adaptando

Somente na manhã seguinte, começaria a soltar as turmas pra brincarem no parquinho e dar as boas vindas às novas integrantes...
Dormi rezando para o meu amado protetor São Francisco, torcendo que aquelas queridinhas, não apanhassem muito deles e  fossem de imediato aceitas por toda a "matilha"...
A noite custou a passar, ficava ouvindo elas correrem pela grama, brincando faceiras mesmo sendo escuro, afinal estavam de barriguinha cheia e protegidas...
Os que ficam no canil estavam inquietos, rosnando e muito curiosos, pois mesmo não vendo nada, tinham sentido o cheiro e ouvido o movimento delas pelo pátio, portanto já sabiam que novos companheiros haviam chegado...
O dia mesmo demorando a chegar, trazia a certeza de uma manhã com muitas novidades.
E que fossem surpresas tão agradáveis, quanto a meiguice das duas princesas borralheiras, que finalmente se aquietaram e dormiam tranquilamente, tão suaves quanto os primeiros raios de sol que começavam a despontar no horizonte!

sexta-feira, 14 de junho de 2013

VÍDEO sobre nossa CASA- DE- PASSAGEM concorrendo ao 12º PREMIO DE JORNALISMO UNIMED 2013



Este vídeo é um trabalho da minha filha NICOLE STEFANI PERTUSATTI, estudante do 2º ano do Ensino Médio do Colégio SENAI (Videira SC).
Foi elaborado para participar do concurso, relacionado ao 12º PREMIO DE JORNALISMO UNIMED SC.
Aborda um assunto muito discutido nos últimos tempos Os Animais Abandonados e esta ligado a Qualidade de Vida e o Meio Ambiente.
Ser entrevistada por ela e poder falar sobre o que penso em relação a isso, é pra mim uma alegria imensa, pois quem acompanha meu Blog e as histórias verídicas que conto, consegue ter uma idéia de quanto dediquei e dedico a minha vida toda pra proteger esses seres indefesos.
Assistam e conheçam um pouco mais deste meu trabalho voluntário, que não é mais solitário, pois hoje conto com apoio incondicional da minha amada NICOLE e do meu marido GABRIEL.
Infelizmente ainda somos os únicos na minha cidade a acolher esses ANJOS DE QUATRO PATAS, que por estupidez e egoísmo das pessoas, sofrem vagando pelas ruas a procura somente de AMOR E PROTEÇÃO.
E posso ate parecer sonhadora demais, mas ainda acredito piamente que um dia o ser humano, em qualquer lugar deste planeta, terá a consciência que devemos cuidar e proteger todas as formas de espécies e quando este dia chegar, aonde eu estiver, poderei finalmente descansar em paz.

http://www.premiodejornalismo.com.br/2013/novo-reporter/inscricao/163

ASSISTAM, VOTEM e COMPARTILHEM *-*


sábado, 18 de maio de 2013

DUQUE... apenas colo e um carinho


Monotonia com certeza é uma palavra que não existe na vida de um Protetor Voluntário...
Duque era o segundo cãozinho que eu recolhia no centro da minha cidade, naquela gelada manhã de 2008.
A pequena Penélope já estava ajeitadinha nas cobertinhas, dentro da caixinha de papelão embaixo da mesa na garagem, agora era a vez de acomodar outro amado.
Fui buscar ele logo que cheguei em casa com a Pepe, estava na casa de uma aluna minha, que mora no final da avenida. Segundo ela apareceu do nada, nunca tinham visto ele por lá e não poderiam adota- lo.
Saí de casa toda disfarçada e “mais lisa que lambari” pra minha mãe não ver minhas intenções e não começar a gritar comigo (tenho problemas de visão há muitos anos, mas minha audição é ótima) então achei melhor evitar contar pra D. Muri e preservar ao menos um dos meus cinco sentidos.
Caminhava rápido, minha cabeça a mil: “Como será que ele é? Que nome escolher? Aonde amarrar? Será que minha mãe ainda tem guardado potes de sorvete no armário? (serviriam pra por água e comida) Como explicar pra ela dois só naquele dia? E que por todos os santos ele não chorasse amarrado..." 
Esses são os questionamentos básicos que vem em turbilhão na minha cabeça cada vez que recolho um animalzinho.
Era necessário deixar tudo arrumadinho antes de ir para o colégio.
Cabeça fervendo, passos apressados, coração acelerado!
Assim que me aproximei da casa vi o cãozinho e me apaixonei...  “ô novidade”!
Ele estava preso por uma cordinha pois não tinha coleira, ficaram com medo que ele fosse atropelado, me aproximei devagar, como era mansinho  peguei ele no colo, me despedi e vim a passos largos pra casa, pois já era quase meio dia.
Prendi-o numa casinha velha perto do paiol, pois era o único lugar no momento. Dei água e ração, olhei para aqueles olhinhos lindos e pedi que fosse um garotinho comportadinho. Quando estava comendo distraído, saí de fininho.
Entrei pra almoçar, ele colaborou ficando quietinho, aconchegado na cobertinha. Minha mãe nem o viu... ainda!!!
Logo em seguida eu e a Nicole fomos para o colégio. 
Quando voltei da aula a proprietária da casa estava furiosa: “Mônica quer me explicar da onde que apareceu aquele outro cão?” Antes que eu pudesse contar a historia ela já adiantou... “Pode achar casa imediatamente pra eles e dar um jeito de comprar uma mangueira nova, porque quando vi aquele que ta perto do paiol puxou ela da parede e ta lá estraçalhada...”
Eita mãe quanto exagero...
Mas quando eu fui ver ele, tive que concordar “estraçalhada” era uma palavra delicada pra explicar o que ele fez com a dita cuja... eram pedaços de mangueira roída por todos os lados.
Quando ele me viu começou a chorar, fui correndo agrada- lo, assim que se acalmou comecei a ajeitar as coisas pra dar um banhão naquele fofinho.
Depois de limpinho, tirei fotos dele pra postar nas redes sociais divulgando a adoção.
Fazia uma semana que ele estava comigo, quando vi um comentário postado na foto dele, dizia assim: “Profe, se não me engano este cachorro é o Duque do meu tio!”
Era recado de um aluno meu, entrei em contato com ele e pedi o endereço do tio dele. Assim que o Gabriel chegou, fomos leva- lo pra ver se era mesmo o cãozinho deles.
A casa ficava bem depois do trevo, saindo de Iomerê sentido a Arroio Trinta... e não é que o danadinho era mesmo de lá? Só eu sei a felicidade de ver que não tinha sido abandonado, era apenas um fujão provavelmente atraído por uma cadelinha no cio.
Viemos embora felizes, me despedi com o coração apertado pois o Duque era muito fofinho e eu sentiria saudades...
Uma semana depois ouço meus cães latirem muito e quando olho fora da janela, lá tava o bonitão na entrada da casa me olhando.
Fui lá fora e fizemos a maior festa, ele latia e pulava tanto que parecia um doidinho. Tentei dar comida mas ele não quis ... tinha ido lá só pra me ver... e assim foi durante mais de um ano, sempre aparecia do nada pra um colo e um carinho.
Quando ficava muitos dias sem aparecer eu ficava preocupada e pedia pra filha de seus donos, que trabalha na área da saúde, sobre ele.
Tempos depois fiquei muito doente, com uma anemia profunda, precisei fazer um longo tratamento e um dos procedimentos era tomar soro com ferro, pra isso eu precisava passar à tarde em observação no posto de saúde.
E foi numa dessas longas tardes, enquanto esperava pacientemente o soro acabar, que vi a filha de sua dona e pedi por onde andava o pequeno Duque que não tinha mais vindo me ver.
Ela me olhou tristemente e contou que fazia mais de um mês que uns cachorros do vizinho deles, que eram bem grandes, avançaram nele, morderam tanto que ele acabou morrendo. Infelizmente ninguém conseguiu fazer nada pra ajuda- lo.
Quando ela saiu, me vi deitada naquela maca chorando baixinho, ate não ter mais lagrimas... queridinho do meu amiguinho Duque, tão pequeno, esperto, morrer de forma tão horrível.
Não senti raiva dos outros cães, pois agiram por instinto, mas não conseguia aceitar que não encontraria mais o meu querido.
Ainda hoje bate aquela saudade enorme quando penso nele, meu coração fica apertado cada vez que nos finais das tardes meus cães latem...
Mesmo sabendo que o pequeno Duque está morto, tenho a sensação de que devo ir ate a janela olhar... e acreditem ou não, tenho certeza que ele de alguma forma, realmente esta sentadinho lá... só esperando pra ganhar colo e um carinho.



quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

BRITA... abandonada onde o coração não é feito de pedra


Todas as vezes que sento pra escrever uma historia, relembro de cada detalhe tão nitidamente, que me sinto inundada de emoções, lembranças, alegrias, tristezas e isto tudo vem misturado na mais profunda saudade... confesso que dói reviver o passado, mas sei que escrevendo é a única forma, que tenho de guardar pra sempre em algum lugar , além da minha memória e coração, o que vivi, vivo com eles e por eles.
Mas desta vez minha historia é de certa forma diferente das outras, porque a protagonista é uma cadelinha que ainda não conheço direito, suas peculiaridades, personalidade... Ela chegou recentemente... portanto dela não teria muita coisa ainda para contar.
O que me fez escrever sobre esta querida foi à forma como chegou aqui!
Varias são as ocasiões, inúmeros os motivos que me procuram pra resgatar animais, mas hoje quero comparar duas situações.
A primeira, uma turma de rapazes que trabalham em um britador.
A segunda, uma mãe de família.
Nos dois casos o foco é animal abandonado.
Em qual das duas ocasiões estaria a preocupação e o amor?
Incrível como as aparências enganam...
Dias atrás, fui ate uma lanchonete com minha filha e quando estávamos indo embora, alguém no meio de um grupo de rapazes, sentados em uma mesa, me chamou. Chegando perto conheci dois deles, pois foram meus alunos.
Contou-me que ele e seus amigos trabalhavam em um britador e que ali perto foram abandonados vários cães, sete ao todo.
Estavam tentando achar casa, pois lá e um local perigoso principalmente pelo movimento de caminhões, mas não estava fácil porque ninguém queria adotar.
Expliquei que infelizmente minha casa- de- passagem estava lotada e que não poderia acolher mais nenhum.
Eles então me disseram o motivo que mais os preocupava: "O maior dos sete cães, o tio de um deles tinha ficado, outros cinco eram espertos e sabiam se cuidar dos caminhões, mas uma pequena tipo pinscher  estava completamente perdida e a cada caçamba que chegava, a coitadinha  se enfiava embaixo, por este motivo já estava com uma perninha machucada e com certeza não sobreviveria muito tempo por lá”.
Ouvindo tal pedido, não tive como recusar de cuidar dela, mesmo sabendo das dificuldades de acolher mais um, então pedi que me trouxessem a cadelinha.
No outro dia, um carro parou na frente da minha casa e desceu dois dos rapazes que conversei, o que estava com a cadelinha no colo, com o maior cuidado me entregou.
Vi quanto é linda, pequena, magrinha, pelagem pretinha e marrom cheirando a óleo de caminhão, rabinho pitoco, perninha machucada, olhinhos tristes... queridinha.
Pedi dos outros animais que ficaram lá e eles falaram que iam continuar tentando achar casa, mas que durante isso, dariam um jeito de ver comida e água pra eles.
Em contrapartida no outro dia me encontro com uma mulher, assim que me viu, já disse: “Oi, tenho uma cadela pra você”...
Sinceramente ODEIO ouvir isso... falam como se eu fosse colecionadora de animais e estivessem fazendo um favor me ajudando a completar a coleção... respirei fundo pra manter a calma e pedi: “Que cadela?”
Ela na maior cara dura, conta que sua filha foi na casa da avó e viu uma cachorra que apareceu lá abandonada e de tanto pedir, deixaram ela levar pra casa.
Passado uns dias o pai da menina comprou um filhote de raça e agora a menina não queria mais a outra cadelinha...
Respirei fundo novamente e falei: “Criança é assim mesmo, ainda não sabem cuidar direito e ter a responsabilidade total por um bichinho, quem tem que saber disso é a gente, mas conversa com ela, com jeitinho ela vai entender,  que pode ficar com os dois e amar igualmente!”
Expliquei a ela também que minha casa estava lotada.
A mulher percebendo então, que eu não ia ficar com a cadelinha, disse num tom menos simpático: ”Não adianta falar, ela não quer mais, vai fazer o que... pior é que a cachorra agora ta lá incomodando, mas já que você não quer vou ver o que vou fazer”.
Eu nessas horas, nem sabia mais o que era “respirar fundo” pra manter a calma e educadamente fiz meu discurso de protetora: “Cuidar pra quem dar, não abandonar novamente, não maltratar enquanto estiver lá...”
Quando acabei a conversa e vim embora, me sentia arrasada, triste, angustiada, com uma raiva gigante, de não poder dizer umas verdade bem desaforadas e gritadas na cara dela, mas sei que engrossar com as pessoas nesse tipo de situação, só as deixa mais irritadas ainda com o animalzinho envolvido...
Fiquei pensando no azar que certos bichinhos tem neste mundo cruel,  pela segunda vez sendo rejeitada, antes pelo infeliz que a abandonou e agora por perder o pouco carinho e atenção que teve e vim rezando pra São Francisco cuidasse dela por mim, colocar aonde na minha casa mais uma? 
Não tenho mais espaço físico nem condições financeiras pra tantos, as poucas doações que recebo não dá nem pra alimenta- los, quanto mais ver remédios, atendimentos, tosa, isso tudo pra quem ainda não sabe, somos nós que bancamos sozinhos, NADA é GRATUITO pois NÃO temos ajuda da prefeitura, associações, entidades ou algo parecido.
Infelizmente não posso resolver tudo, pegar e cuidar de todos os animais que aparecem abandonados todos os dias na minha cidade. Apesar  de ser pequena e ter em torno de 2600 habitantes, sou a única a fazer este trabalho voluntario com animais abandonados e minha casa é apenas um lar temporário, não um canil municipal, custava o pessoal colaborar?
Por isso que resolvi escrever sobre esta pequena, pois é surpreendente ver que o cuidado estava na parte menos esperada das situações, pois quantos não imaginaram que a preocupação estaria na mãe? Afinal por si só essa palavra já inspira amor e proteção!
Como pode existir tanta diferença no modo de pensar e no que fazer com o animalzinho abandonado que apareceu?... é triste ver atitudes completamente opostas em questão de valores.
Mas infelizmente esse é o perfil e o pensamento da maioria das famílias daqui...
O exemplo desses rapazes me causa um certo alivio na alma, quando vejo que não posso proteger todos os animais que precisam de ajuda.
Fiquei emocionada por saber que da turma, dois foram meus alunos, isso prova que décadas dando aula e falando de cuidar e proteger animais surtiu efeito, ao menos em alguns.
E principalmente, nesses momentos, agradeço por todas as horas que passei, em uma sala de aula ensinado sobre arte, amor e falando de vida...
Infelizmente nem todos os educadores pensam assim, quem sabe se algum professor daquela mãe,  tivesse lhe ensinado isso também, hoje ela pensaria diferente...
Sonho com o dia que o assunto: "ABANDONO E MAUS TRATOS AOS ANIMAIS É CRIME" será obrigatório dentro de qualquer instituição de ensino.
Enquanto isso é uma utopia, a cadelinha que batizei de BRITA em homenagem ao lugar de onde veio, fica por aqui a espera de adoção... e até esta alma boa não aparecer, eu e ela vamos dia a dia, na base do amor, carinho e gentileza nos conhecendo, construindo uma historia linda... só nossa! 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Caso NERONE... aonde a fé não anda de mãos dadas com a proteção.


Caso Nerone... é assim que prefiro chamar a polêmica que se formou em torno deste cão idoso, grandão, imensamente dócil e que vem gerando opiniões diversas na minha pequena cidade e principalmente dentro do meu coração.
O assunto é delicado, pois bate de frente com questões difíceis de agradar a todos: A religião e a Proteção aos Animais.
Sou católica, fui batizada, fiz catequese, primeira comunhão, crisma... quando pequena frequentava missas com meu pai (hoje sei que mais para agrada- lo, do que por gostar), por outro lado, amo igrejas e sempre apreciei estar dentro delas, mas infelizmente somente quando estão completamente vazias é que me sinto a vontade... aquele silencio misterioso (sensação inexplicavelmente diferente: estar só dentro de uma igreja e estar só dentro de casa), aquelas imagens, esculturas magníficas, os altares, tudo nelas me encantam... menos o que se diz por lá... palavras decoradas, ouvida na maioria das vezes por pessoas insensíveis, que vão na fila pegar a hóstia sagrada parecendo ter um coração puro e bondoso, mas que lá fora se mostram mesquinhas, interesseiras, maldosas, preconceituosas e que preferem jogar no lixo comida, do que dar a um animal faminto... que fique bem claro que NEM TODAS as pessoas que a frequentam são assim, algumas se mostram mais humanas.
Gosto de grutinhas também, aquele ritual de acender velinhas e tenho o maior respeito por cemitérios, nossa ultima morada (corporal é claro). Recebo com o maior carinho a capelinha da Nossa Senhora Aparecida que passa mensalmente em minha casa. Sempre tive o maior orgulho de ser devota de São Francisco de Assis... mas só... raramente frequento missas e é numa solidão concentrada, sentada em seus bancos antigos é que sinto a presença de algo infinitamente superior a mim e ao mundo!
E foi justamente a vida de um cão que me colocou novamente a questionar os valores morais da igreja, dos nossos representantes... afinal ate hoje não entendi, porque as unicas e raras vezes que se falam em animais é para cita- los nas frases feitas das leituras aonde um animal  foi “imolado em sacrifício”... cadê que falam de proteger os animais ou qualquer outra forma de vida que não seja: “Cuide seu corpo que é o templo da alma e esta se estiver pura, entrará no reino de Deus...” 
Por que não dizem também pra ter amor, respeito e os cuidados básicos e necessários a um animal? Não abandona- los, maltratá- los? Por que isso não é assunto importante pra ser a base de um belo sermão? 
Na verdade o que me preocupa não é o que os representantes religiosos dizem, pois é mais que obvio que a muito tempo seus discursos são "mamão- com- açúcar" usam formas diferentes, mas dizem sempre as mesmas coisas, o que realmente me preocupa é o que ELES NÃO DIZEM, o que DEIXAM DE FALAR por achar que não tem importância, relevância ou apenas porque são obrigados a seguir normas do que pode e não pode ser dito aos "fiéis".
Isso que nem vou me dar o desprazer de falar sobre o absurdo da parte financeira que envolve tudo isso.
Pensem em quantos discursos feitos em dias, meses, anos, mexem realmente com o coração de um jovem por exemplo? Muda a forma de pensar de alguem idoso? Faz os pais refletirem ao chegarem em casa? 
É assim que quero que minha comunidade reaja depois de passarem aquele tempo na igreja... pensando, refletindo profundamente sobre a vida e o mundo, reavaliando valores e "quiçá" mudando velhas opiniões.
Afinal como se pode querer falar de AMOR se não se ensina a palavra APEGO? 
Mas sei que a maioria voltam apenas com a sensação cumprida de ter ido a um ritual que se propuseram como meta durante a vida. Quantos realmente saberiam a essência da missa daquele dia, ou a parte que mais ficaram emocionados... vemos emoção mesmo quando são missas de despedidas de entes queridos... mas choramos pelo morto, pela dor de sua família, não pelas palavras escritas pra qualquer humano que vier a falecer e que na verdade nem prestamos atenção naqueles momentos tão doloridamente difíceis... 
Será quantos mais ficam a indagar esse assunto? Quantos que ficam a esperar mais de alguém que tem o poder de falar pra multidões, que ficam esperando um dia ouvir algo que faça realmente sermos atingidos no fundo de nossas almas com as mais belas palavras de amor a toda e qualquer forma de vida?
Pensando em tudo isso, fui procurar uma agenda minha, muito antiga que guardo tudo que nela escrevi com muito carinho, queria relembrar minha opinião daquela época, pois foi a 17 anos atrás, que através de palavras, defini o que era e o que eu acreditava realmente ser o MEU DEUS... 
Hoje passado tantos anos vi que não mudei a minha opinião, o meu Deus continua igualzinho... o que é ate estranho porque vi a chegada de vários padres, bispos e ate mudanças de Papas e ouvi dezenas de explicações, sobre diversos tipos de olhares sobre a espiritualidade, mas ELE, o meu Deus, continua intacto, exatamente ao que era a quase duas décadas atrás...
E foi o querido NERONE que sem querer me fez repensar em tudo isso... sei da existência dele há muitos anos, mas o conheci pessoalmente em  2012.
Certa tarde o vigário da minha paróquia, me ligou para me pedir para ir buscar uma cadelinha que havia sido abandonada no seminário com três filhotes. Ele havia achado casa para dois, mas segundo ele, a cadela e o outro filhote ninguém queria e isso estava deixando- o aborrecido.
Minha casa- de- passagem estava como sempre lotada, então pedi pra ele ter paciência e continuar cuidando deles até eu achar quem os adotasse.
Assim que pude, fui lá tirar foto e vacinar eles e comecei divulgar a adoção.
Infelizmente bons adotantes não é simples assim pra achar e os dias foram passando...
A cadelinha era uma doce Poodle  e como seus pêlos estavam bem feinhos, falei que mandaria o pessoal do pet pegar pra tosar e é claro que eu NÃO cobraria nada dele, nem as vacinas, nem a tosa, mas precisava que ele continuasse abrigando eles lá.
Naquele dia também conheci pessoalmente o grandão NERONE e o local exato onde vive... Cão muito querido, mansinho, desfrutando de um espaço enorme, bonito, todo cercado, alem do canil tem um gramadão e mais um outro lugar coberto aonde podiam se abrigar da chuva e do sol. 
Eu e meu marido levamos vacina para todos e fizemos carteirinhas, inclusive pro Nerone, pois segundo o padre ele nunca havia sido vacinado.
Fiquei divulgando incansavelmente a foto da cadelinha que dei o nome de CINDY e de seu filho que batizei de ABELARDO... um cãozinho lindo mas por nunca ter tido carinho, cresceu arrisco e medroso.
Depois de muitas confusões e pessoas se dizendo interessadas, mas nunca vindo realmente pra adotar, finalmente alguém passou no seminário e levou o Abelardo.
Mas para Cindy não estava fácil achar casa... e o padre cada vez mais sem paciência, ate que meses depois uma família que levei lá se interessou por ela e depois de muito transtorno, ela também foi adotada.
E foi naquela tarde em que levei esta família conhecer a poodle, que realmente percebi o que existia dentro do olhar daquele grande e dócil cão: tristeza e solidão!
Aquilo me cortou o coração. Confesso que sofri quando soube que a família, dias mais tarde voltou pra adotar a cadelinha, não por ela coitadinha, que precisava sair de lá, mas pelo fato do Grandão voltar a ficar isolado e solitário num espaço imenso e que provavelmente só via gente quando recebia comida.
Mas por outro lado respirei aliviada ao saber que minha promessa com o padre tinha sido cumprida... afinal só restava o Nerone para ele cuidar, o que não fazia mais que a obrigação, pois ele é o cão do seminário.
Mas qual não foi minha surpresa e indignação ao ver tempos depois, em uma pagina num site de relacionamento de uma amiga minha, a foto de um cão grandão, idoso e que precisava ser adotado.
Na foto não especificava de quem ele era ou porque estava pra adoção, mas quando bati o olho na foto imediatamente reconheci ele... mas aquilo não fazia sentido, não entendia nem conseguia acreditar no que estava vendo, afinal qual seria o motivo dele estar pra adoção?
De tanto pedir daqui e dali descobri toda a verdade: Era o Nerone sim e ele estava pra adoção, porque tinha ficado doente e o vigário procurou o veterinário da prefeitura pra sacrificar o coitadinho, como a doença era facilmente tratada  o veterinário não quis sacrifica- lo (sorte dele ser tão bom profissional, senão era outro que teria arranjado encrenca comigo). O padre então vendo que não se livraria do cão como imaginava,  resolveu se desfazer dele, pediu que o levassem embora, o veterinário com pena cuidou dele e tirou fotos pra adoção, que foram parar no álbum desta minha amiga.
Quando eu soube de toda historia me revoltei... e me encontrando com o padre o questionei e juro que nem sei quantas frases usei pra tentar amansar o coração dele e convence-lo a deixar que o cão continuasse lá, aonde sempre fora seu lar e olha que argumentos para defender animais nunca me faltam...  mas ele foi categórico: ”Não quero mais o cão porque esta velho, não tem mais vitalidade e quem quer ficar com ele que venha lá pegar...” 
Depois de muito argumentar terminei meu discurso de protetora dizendo assim: “É padre o senhor imagina se  todo mundo fizesse isso com tudo que é velho?” Ele como é esperto entendeu muito bem sobre o que eu me referia... afinal ele já tem uma idade muito avançada. 
Juro que pensei em processar ele, a igreja, ate os papa- hóstias que acham a minha revolta sem fundamento... afinal pra eles é só um cachorro velho... mas pensei melhor e decidi acreditar em duas coisas, uma é que existe a lei do retorno e outra é que quem sabe este não foi um jeito “meio torto” que São Francisco arranjou deste cão velhinho ter em seus últimos anos de vida a certeza do que é o amor?
Nerone, apesar de eu muito pedir e divulgar continua solitário a espera de um lar... NÃO qualquer lar... uma casa com gente do bem, que tenha espaço (ele sempre foi acostumado a ficar num local grande, com certeza morreria de tristeza amarrado) aonde tivesse carinho, aconchego e finalmente saber o que é ser amado...
Essa historia toda mexeu muito comigo, primeiro porque envolve um animal, pra mim seres puros e inocentes e também por  ter recebido críticas: “Imagina falar MAL de um padre”... tudo isso me fez ver quão é frágil minha ligação com a religião que sigo desde que nasci.
Definitivamente eu não preciso disso, desses exemplos, dessas atitudes pra me sentir parte integrante de uma comunidade, me contento em ficar na minha, no mundo que eu criei do portão pra dentro da minha casa, onde não existe briga, tudo se resolve conversando, onde evito fofocas, onde rezo pro meu Deus e pra São Francisco e onde por mais difícil que sejam as coisas, nunca deixaremos faltar comida para os animaizinhos abandonados que recolho, amo, cuido e protejo ate serem adotados... 
Não sou santa, nem perfeita e muito menos louca... o que sei é que faço o que acredito e gosto, não tenho medo de falar o que penso e me sinto abençoada por ter dentro de mim, uma esperança de que um dia a frase que Leonardo da Vinci disse, se tornará uma verdade universal: "Chegará o tempo em que o homem conhecerá o íntimo de um animal e nesse dia todo crime contra um animal será um crime contra a humanidade!".
E ate este dia não chegar, eu continuo levantando minha bandeira em prol dos Animais, brigando com o mundo se preciso for, para defender esses anjos- animais da insensibilidade humana!

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

CASA de PASSARINHO



Passarinhos em gaiolas sempre me causaram uma agonia tamanha... 
Estar preso nela deve ser igual ao que a gente sente, quando quer se esticar mas não tem espaço e vai dando aquela dor incomoda pelo corpo todo, que aos poucos vai se tornado insuportável.
Ouvir seus “cantos- engaiolados” é estar diante da mais perfeita sintonia entre a tristeza da prisão e a esperança de um dia voltar a voar livre pela imensidão do céu.
Nunca entendi qual a graça de aprisionar um bichinho tão amado e ficar ouvindo extasiado seus lamentos, que muitos confundem com cantos de euforia.
Desde pequena eu já tentava imaginar como deve ser feliz a vida de um passarinho que tem a sorte de não encontrar pelo caminho: caçadores, meninos com estilingue, arapucas ou a boquinha esfomeada de algum gatinho... 
Os que sobrevivem a isso, desfrutam de uma natureza variada pra matar a fome, podem escolher aonde vão beber água, fazer seus ninhos, em que galhos vão repousar... bem pelo menos aqui aonde vivo “ainda” é assim.
Mas não foi pra registrar a vida de nenhum passarinho em especial, mesmo já tendo cuidado e salvado tantos por esta minha vida afora, que resolvi escrever esta historia, mas para contar de uma de suas moradas...
Parece que foi ontem...
Estava com uns sete anos quando, chegando à casa dos meus avós maternos, encontro uma casinha de madeira linda, pintadinha com portas e janelinhas, em cima de uma mesa. Nem preciso dizer que “é claro”  já achei que era pra mim... mas infelizmente não era...
Meu avô tinha feito a casinha, pra uma menina que ficou morando uns tempos por lá, ajudando minha avó.
Sua professora na época (não sei o motivo) mandou que fizessem casinhas de tarefa, como ela era pequena pediu ajuda a ele. 
E como diz o ditado: “O ciúme é medo disfarçado de amor”, eu quase enfartei de desgosto, ao saber que meu avô adorado, tinha feito uma casinha linda e que não seria minha...
Meu pai vendo minha tristeza me prometeu: “Assim que eu tiver um tempo, faço uma bem bonita pra você também”.
Chegando o fim de semana seguinte, meu pai me chamou pra ver ele fazer a tão esperada casinha.
Saí correndo atrás dele e ficava imaginando como podia saber fazer um pouco de tudo, pra mim mais que um gênio, ele era meu herói.
Ajudei ele a pintar as paredes de branco e o telhadinho, portas, janelas e a base marrom, da mesma cor da nossa casa. Borramos um pouco nas portinhas, mas não demos importância, porque pra nós, ela tinha ficado maravilhosa.
Meus olhos brilhavam de felicidade, ela não abria as portas ou janelas, mas na minha imaginação lá dentro existiam vidas, era só fechar os olhos e como num passe de mágica , eu estava no interior dela, brincando com minhas bonecas, morando numa casinha minúscula, como a personagem do livro Alice no País das Maravilhas.
Conforme fui crescendo aquele objeto de madeira passou a ter significados diferentes, mas não menos importantes... das minhas brincadeiras diárias, foi ficando pra “de vez em quando”, até passar a ser um enfeite no criado- mudo do meu quarto, aonde permaneceu por muito tempo.
Quando minha filhotinha nasceu, há quinze anos atrás, a casinha foi parar na prateleira com seus brinquedos.
Os anos foram passando e quando Nicole já não brincava mais com ela, colocamos no chão, pra enfeitar e ao mesmo tempo segurar a porta do nosso quarto.
Há uns dez anos atrás, meu pai pediu pra mim, se eu me importava que ele pendurasse a casinha lá fora, pra fazer morada de passarinho. Eu adorei a ideia,  fui ao quarto pegar a casinha e ele tirou as duas abinhas em forma de triangulo, pra que eles pudessem entrar e fazerem o ninho.
E lá está penduradinha ate hoje...
Meu amado pai não esta mais comigo fisicamente neste mundo, mas a casinha que ele me fez e que guardei com tanto cuidado e carinho, durante esses anos todos, ainda esta servindo de moradia pra muitas e muitas famílias de passarinhos, construírem seus ninhos, cada um ao seu tempo e viverem felizes e livres... como realmente devem ser.
E por amor a todos os pássaros que sofrem aprisionados, mesmo que em belíssimas gaiolas douradas, que eu acrescentei uma unica palavra que deveria estar, por obrigação nesta antiga canção: 
"Sabiá lá na gaiola fez um buraquinho 
voou, voou, voou 
e a menina que gostava tanto do bichinho...
'FELIZ' chorou, chorou, chorou."