Os felinos sempre foram, uma parte constante da
minha vida... li uma vez, que um
escritor francês disse: "Deus criou o gato, para que o homem tivesse o
prazer, de acariciar o tigre". Bem verdade!
Fazia um tempinho que na minha casa não tinha
gatos, eu estava com uns oito anos nesta época e matava a vontade de ninar eles,
quando íamos para a casa da minha Nona (mãe de meu pai), que morava em Bom Sucesso.
Entre eles, tinha um que era o meu preferido e me
adorava. Eu chamava ele de Mimão, um gato preto, velhinho, cego de um olho e
não sei porque, uma cabeça enorme.
Quando chegamos, eu já saí correndo chamando ele e
eis que aparece Mimão, com uma carinha muito triste... por pura maldade alguém,
uns dias antes, havia jogado água quente nele e alem de queimado, seu rabinho
estava quebrado... nem preciso escrever o quanto chorei ao ver o meu amadinho
assim. Naquele dia nem almocei.
Com ele no colo, segurando com cuidado pra não
piorar os ferimentos, jurei pra ele que o levaria embora comigo... mas como
convencer minha mãe? Sabia que ela não gostava muito de gatos...
Corri perto do meu pai e quando tive certeza que
ninguém estava ouvindo, implorei baixinho: “Pai me deixa levar o Mimão pra
casa?”
Ele olhou pro gato, fez uma cara de pena e
falou: “Filha, sabe como é tua mãe, ela não vai gostar da idéia”!
Passei o dia com o gato no colo, que todo doídinho,
nem abria os olhinhos...
Meu pai, vendo minha angustia, com a chegada da hora de irmos pra casa, (juro, nunca alguém vai saber tanto o que se passava dentro de mim,
quando o assunto era bicho, do que ele, que sempre preocupado, me aconselhava:
“Filha, nunca ame mais os bichos, do que gente”), veio ate a pedra onde eu
estava sentada, abraçada com o Mimão, me piscou e disse com um olhar de cumplicidade:
“Se prepara, que vou falar pra tua mãe, que vamos levar o gato”...céus, como não
amar o meu pai?
Fiquei tão feliz, que sem querer apertei o
coitadinho, que reclamou de dor, abrindo os olhinhos e miando baixinho...
Via de longe a cena, com o coração aos pulos, mas
não ouvia direito o que conversavam. Meu pai falando, minha mãe gesticulando
nervosa e minha Nona, vindo na porta da casa, secando as mãos numa toalha. Todos
falavam e olhavam pra mim... meu pai com cara de dó, minha mãe me fuzilando e
fazendo um gesto com a mão de “te pego em casa mais tarde” e minha Nona tentando
apaziguar, dizendo algo assim:” Já que ela quer um gato, que escolha um mais
bonito...” eu que, ate então, tava me fazendo de morta, só nesta hora,
timidamente me manifestei gritando: “Não Nona, eu quero esse”!
Meu pai, todo se desviando dos olhares furiosos da
minha mãe, foi procurar uma bolsa pra por o gato.
No carro, ele veio miando alto, dentro do capo do fusca, tadinho, eu vim sem dar um pio. Confesso que na minha
felicidade de ter o Mimão, todos os dias comigo, nem prestava muita atenção no
discurso que minha mãe vinha fazendo: “Lá em casa eu não mando mais nada mesmo,
onde se viu trazer o gato, se fosse bonito ainda e nem pense em deixar ele
entrar em casa...” e por aí foi a estrada toda!
Em casa eu e meu pai pegamos o saco com cuidado e
fomos trancar ele no velho paiol, já tava escuro e ele poderia fugir e se
perder.
Arrumei uns pratinhos de leite e água, me despedi
do fofinho, desejando a maior noite de
sono da vida dele, afinal ele estava comigo.
Deitei, mas o sono demorou a chegar.
Não sei por que, mas sempre que sabemos, que no dia seguinte seremos abençoados com novidades, as noites se tornam mais longas, deve ser pra que a gente possa preparar o nosso o coração, pra suportar tanta emoção.
Fiquei desejando dormir logo, que o dia amanhecesse depressa e eu pudesse mostrar a ele minha casa, que a partir daquele domingo, seria também pra sempre sua.
Não sei por que, mas sempre que sabemos, que no dia seguinte seremos abençoados com novidades, as noites se tornam mais longas, deve ser pra que a gente possa preparar o nosso o coração, pra suportar tanta emoção.
Fiquei desejando dormir logo, que o dia amanhecesse depressa e eu pudesse mostrar a ele minha casa, que a partir daquele domingo, seria também pra sempre sua.
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