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sexta-feira, 20 de abril de 2012

MIMÃO e a cama de gatos (Parte I)


Os felinos sempre foram, uma parte constante da minha vida...  li uma vez, que um escritor francês disse: "Deus criou o gato, para que o homem tivesse o prazer, de acariciar o tigre". Bem verdade!
Fazia um tempinho que na minha casa não tinha gatos, eu estava com uns oito anos nesta época e matava a vontade de ninar eles, quando íamos para a casa da minha Nona (mãe de meu pai), que morava em Bom Sucesso.
Entre eles, tinha um que era o meu preferido e me adorava. Eu chamava ele de Mimão, um gato preto, velhinho, cego de um olho e não sei porque, uma cabeça enorme.
Quando chegamos, eu já saí correndo chamando ele e eis que aparece Mimão, com uma carinha muito triste... por pura maldade alguém, uns dias antes, havia jogado água quente nele e alem de queimado, seu rabinho estava quebrado... nem preciso escrever o quanto chorei ao ver o meu amadinho assim. Naquele dia nem almocei.
Com ele no colo, segurando com cuidado pra não piorar os ferimentos, jurei pra ele que o levaria embora comigo... mas como convencer minha mãe? Sabia que ela não gostava muito de gatos...
Corri perto do meu pai e quando tive certeza que ninguém estava ouvindo, implorei baixinho: “Pai me deixa levar o Mimão pra casa?”
Ele olhou pro gato, fez uma cara de pena e falou: “Filha, sabe como é tua mãe, ela não vai gostar da idéia”!
Passei o dia com o gato no colo, que todo doídinho, nem abria os olhinhos...
Meu pai, vendo minha angustia, com a chegada da hora de irmos pra casa, (juro, nunca alguém vai saber tanto o que se passava dentro de mim, quando o assunto era bicho, do que ele, que sempre preocupado, me aconselhava: “Filha, nunca ame mais os bichos, do que gente”), veio ate a pedra onde eu estava sentada, abraçada com o Mimão, me piscou e disse com um olhar de cumplicidade: “Se prepara, que vou falar pra tua mãe, que vamos levar o gato”...céus, como não amar o meu pai?
Fiquei tão feliz, que sem querer apertei o coitadinho, que reclamou de dor, abrindo os olhinhos e miando baixinho...
Via de longe a cena, com o coração aos pulos, mas não ouvia direito o que conversavam. Meu pai falando, minha mãe gesticulando nervosa e minha Nona, vindo na porta da casa, secando as mãos numa toalha. Todos falavam e olhavam pra mim... meu pai com cara de dó, minha mãe me fuzilando e fazendo um gesto com a mão de “te pego em casa mais tarde” e minha Nona tentando apaziguar, dizendo algo assim:” Já que ela quer um gato, que escolha um mais bonito...” eu que, ate então, tava me fazendo de morta, só nesta hora, timidamente me manifestei gritando: “Não Nona, eu quero esse”!
Meu pai, todo se desviando dos olhares furiosos da minha mãe, foi procurar uma bolsa pra por o gato.
No carro, ele veio miando alto, dentro do capo do fusca, tadinho, eu vim sem dar um pio. Confesso que na minha felicidade de ter o Mimão, todos os dias comigo, nem prestava muita atenção no discurso que minha mãe vinha fazendo: “Lá em casa eu não mando mais nada mesmo, onde se viu trazer o gato, se fosse bonito ainda e nem pense em deixar ele entrar em casa...” e por aí foi a estrada toda!
Em casa eu e meu pai pegamos o saco com cuidado e fomos trancar ele no velho paiol, já tava escuro e ele poderia fugir e se perder.
Arrumei uns pratinhos de leite e água, me despedi do fofinho, desejando a maior noite de sono da vida dele, afinal ele estava comigo.
Deitei, mas o sono demorou a chegar. 
Não sei por que, mas sempre que sabemos, que no dia seguinte seremos abençoados com novidades, as noites se tornam mais longas, deve ser pra que a gente possa preparar o nosso o coração, pra suportar tanta emoção.
Fiquei desejando dormir logo, que o dia amanhecesse depressa e eu pudesse mostrar a ele minha casa, que a partir daquele domingo, seria também pra sempre sua.
Mas fiquei ainda, por muito tempo acordada, bem quietinha, com o coração numa felicidade imensa,  ouvindo os miados angustiados do Mimão dentro do paiol, misturados aos sons do meu mundo...


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